Em meio às negociações do Ministério da Fazenda e Ministério do Planejamento para apresentar o pacote de cortes de gastos, dois programas que o setor econômico tentou barrar custaram R$ 21,9 bilhões de janeiro a agosto deste ano, 22% do total. A desoneração da folha de pagamento dos 17 setores da economia representou isenções de R$ 12,2 bilhões. O Programa Emergencial de Retorno do Setor de Eventos (Perse), R$ 9,6 bilhões. Os dados foram divulgados pela Receita Federal no dia 13.
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Ambos benefícios fiscais figuram, inclusive, entre os cinco com maiores valores no período. O incentivo fiscal com maior valor foi referente a adubos e fertilizantes, R$ 14,9 bilhões. Defensivos agropecuários somaram R$ 10,7 bilhões, enquanto os benefícios do polo industrial da Zona Franca de Manaus custaram R$ 7 bilhões. Ao todo, os 43 incentivos fiscais representaram a cifra de R$ 97,7 bilhões que o governo deixou de arrecadar. Veja o ranking:
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Benefício Fiscal | Valor em R$ |
ADUBOS E FERTILIZANTES | 14.954.392.187,85 |
DESONERAÇÃO DA FOLHA DE PAGAMENTOS | 12.263.162.640,34 |
DEFENSIVOS AGROPECUÁRIOS | 10.791.887.446,85 |
PERSE | 9.669.369.415,02 |
ZONA FRANCA DE MANAUS | 7.092.034.357,89 |
PRODUTOS FARMACÊUTICOS | 6.522.169.131,24 |
SUDAM / SUDENE – Redução 75% | 5.067.290.880,05 |
SUBVENÇÕES PARA INVESTIMENTOS | 4.777.070.939,22 |
PRODUTOS AGROPECUÁRIOS GERAIS | 3.945.651.407,99 |
REIDI | 3.439.671.407,95 |
AERONAVES | 3.263.112.798,62 |
SOJA | 2.950.758.495,34 |
REIQ | 2.271.270.052,74 |
PRODUTOS QUÍMICOS – Capítulo 29 | 1.895.148.594,31 |
CARNE BOVINA, OVINA E CAPRINA – EXPORTAÇÃO | 1.544.341.399,61 |
AERONAVES – Partes e Peças | 1.433.608.799,41 |
PRODUTOS FARMACÊUTICOS – Medicamentos Apresentados em Doses | 1.328.969.170,46 |
INOVAÇÃO TECNOLÓGICA – Dispêndios – Adicional de 60 a 80% | 952.471.702,63 |
INOVAÇÃO TECNOLÓGICA – Dispêndios como Despesa Operacional | 798.578.110,11 |
RECAP | 610.295.707,73 |
CARNE SUÍNA E AVÍCOLA | 445.870.528,71 |
CAFÉ NÃO TORRADO | 373.046.151,25 |
PADIS | 275.559.840,74 |
CARNE BOVINA, OVINA E CAPRINA – INDUSTRIALIZAÇÃO | 242.834.969,04 |
REPORTO | 180.447.788,76 |
CAFÉ TORRADO E SEUS EXTRATOS | 151.079.474,26 |
LARANJA | 145.705.939,38 |
ÓLEO BUNKER | 113.333.072,33 |
SUDAM / SUDENE – Reinvestimento 30% | 86.084.500,45 |
REIQ – Regime Especial da Indústria Petroquímica – REDUÇÃO DE ALÍQUOTAS | 55.151.519,18 |
REIQ – Regime Especial da Indústria Petroquímica – CRÉDITOS ADICIONAIS | 17.340.375,01 |
INOVAÇÃO TECNOLÓGICA – Universidades, Instituições de Pesquisa e Inventores Independentes | 17.270.152,67 |
INOVAÇÃO TECNOLÓGICA – Depreciação Acelerada Integral no Ano de Aquisição | 14.952.302,87 |
INOVAÇÃO TECNOLÓGICA – Transferências a Micro e Pequenas Empresas | 14.859.507,47 |
INOVAÇÃO TECNOLÓGICA – Atividades de Informática e Automação | 10.702.067,10 |
INOVAÇÃO TECNOLÓGICA – Amortização Acelerada de Bens Intangíveis | 9.516.234,17 |
INOVAÇÃO TECNOLÓGICA – Redução de 50% de IPI | 2.345.077,92 |
INOVAÇÃO TECNOLÓGICA – Instituições Científicas e Tecnológicas – ICT e Entidades Científicas e Tecnológicas Privadas, sem Fins Lucrativos | 1.819.080,53 |
INOVAÇÃO TECNOLÓGICA – Transferências a Inventor Independente | 105.517,04 |
INOVAÇÃO TECNOLÓGICA – Subvenções Governamentais da União | 26.522,34 |
INOVAÇÃO TECNOLÓGICA – Patentes e Cultivares – Adicional de 20% | 0,02 |
INOVAÇÃO TECNOLÓGICA – Depreciação Acelerada Vinculada a Projetos | 0,00 |
INOVAÇÃO TECNOLÓGICA – Amortização Acelerada de Instalações Fixas | 0,00 |
Desoneração da folha
Alvo de intensas negociações entre governo e Congresso, a desoneração da folha de pagamento de 17 setores da economia permanece apenas neste ano. Atualmente com alíquota entre 1% e 4,5%, a reoneração gradual, sancionada por Lula em setembro, prevê que a alíquota aumente gradualmente em 5% a partir de 2025, até atingir 20%, em 2028.
O impasse entre os poderes se deu no final do ano passado, quando o Executivo editou medida provisória, apresentada pelo ministro Fernando Haddad, para propor a reoneração e o fim do Perse. O Congresso, no entanto, reagiu por ter sido um projeto aprovado nas duas Casas com amplo apoio. A medida da Fazenda teve como objetivo perseguir a meta fiscal e evitar R$ 18 bilhões em isenções para 2024, conforme previa a pasta.
Segundo os dados disponibilizados pela Receita Federal, o custo até agosto foi de R$ 12 bilhões. As cinco maiores beneficiárias da desoneração foram: a empresa alimentícia BRF, fruto da fusão da Sadia e Perdigão, com R$ 237,5 milhões em incentivos; a companhia Seara, com R$ 185,9 milhões; o conglomerado de mídia da Globo teve benefícios de R$ 150 milhões; a Companhia do Metropolitano de São Paulo deixou de pagar R$ 118,9 milhões com a desoneração; e a Aurora Alimentos, R$ 116,5 milhões.
O Congresso em Foco reproduz aqui a lista das quase 55 mil empresas beneficiadas pelas isenções fiscais em 2024.
Perse
Criado em 2021, o Perse foi elaborado com objetivo de proteger o setor de eventos em meio à pandemia, o qual foi diretamente impactado pelas medidas de isolamento social. As empresas, então, foram beneficiadas com alíquota zero do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ), da Contribuição para o Programa de Integração Social (PIS) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins).
O governo tentou terminar no final do último ano a continuidade do programa por meio de medida provisória, isto é, com efeito imediato. O Congresso, no entanto, opôs-se à suspensão. Após negociação entre as partes, o benefício foi mantido. Em abril, o Senado aprovou a manutenção do Perse com limite de gastos de R$ 15 bilhões até 2026.
Conforme mostrou o Congresso em Foco, cinco empresários bolsonaristas foram contemplados com isenção no período. O líder nos benefícios é o Grupo Madero, de Junior Durski. A empresa teve benefício fiscal de R$ 70,9 milhões pelo Perse. Além deles, influenciadores digitais, como Virgínia Fonseca e Felipe Neto também tiveram benefícios por meio do programa.
Entretanto, a maior empresa beneficiada pelo Perse, conforme dados da Receita, foi o Ifood, com isenção de R$ 336,1 milhões. Em seguida aparece a Azul Linhas Aéreas, beneficiada em R$ 303,7 milhões. O setor de hotelaria é representado, no topo, pelas redes Enotel, Atlantica Hotels, Vila Gale Brasil. Respectivamente, as empresas tiveram isenção fiscal de R$ 171,5 milhões, R$ 104,8 milhões, e R$ 84,1 milhões