No ano em que o Brasil comanda o G20 e prepara-se para receber a COP30, as enchentes no Rio Grande do Sul escancaram os efeitos devastadores das mudanças climáticas e cobram do país mais do que diplomacia nos fóruns mundiais. É preciso redefinir prioridades e orçamento para enfrentar a questão e adequar o discurso oficial à prática.
Pesquisa Quaest divulgada hoje mostra que mais de 90% dos brasileiros estão conscientes do problema e suas manifestações — calor extremo, inundações e deslizamentos de terra. Para 70%, investimentos em infraestrutura poderiam ter evitado a tragédia. Segundo a sondagem, 64% veem ligação direta entre enchentes e mudanças climáticas.
Essa consciência estará presente nas mentes dos eleitores gaúchos quando forem às urnas escolher prefeitos e vereadores, em outubro. As proporções do desastre são inéditas: há todo um estado devastado, não apenas uma cidade — 435 dos 497 municípios foram afetados. O cenário é de guerra.
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Não só eles, porém, levarão em conta o comportamento do poder público na tragédia na hora do voto. Por todo o país, a sociedade acompanha, mobiliza-se para ajudar as vítimas e percebe que o caos do Rio Grande poderia acontecer em qualquer outro estado — se não pelo transbordamento de rios, pelo deslizamento de encostas ou falta absoluta de chuvas, como está acontecendo em regiões do Nordeste.
Eleições são movidas a esperança, e soará falso prometer a quem perdeu tudo uma nova vida, melhor e mais segura, quando na realidade os fatos são outros. No governo federal, lentidão até em ações como o sistema de alerta para desastres. No governo gaúcho, as medidas do governador Eduardo Leite para flexibilizar o Código Estadual de Meio Ambiente, permitindo a construção de barragens em áreas de preservação ambiental.
As mudanças que a tragédia gaúcha deve e precisa desencadear no país não ficam apenas na esfera ambiental. Questões que se arrastam, como o endividamento dos estados, terão de ser revistas, sob compromissos mais sólidos de uma agenda alinhada à sustentabilidade.
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