Derrotamos a emboscada. Nem sei como. Tiveram a favor deles o tal “fator surpresa”. O clima no plenário era de tédio, duas anódinas MPs. Eu estava lendo meu Kindle quando, não mais que de repente, o presidente Henrique Eduardo Alves coloca em votação, sem nenhum aviso prévio, o pedido de urgência para o projeto de lei Edinho Araujo urdido para tomar o tempo de TV e o fundo partidário da Rede, isso depois que o partido de Kassab, governista, os recebera.
Isso no dia seguinte ao do assassinato final da reforma política nesta legislatura. Ou seja, a única reforma política que haveria seria justamente esse casuísmo anti-Marina!
Quanta hipocrisia, quanta duplicidade!
Hipocrisia, pois o discurso dos defensores do projeto de “lei Edinho” eram nobres Catões inflamados em prol da moralidade. Imaginem o líder do PMDB, Eduardo Cunha, no papel de implacável paladino da moralidade!
Duplicidade, porque vários daqueles líderes haviam jurado a Walter Feldman, nosso diplomata, que não aceitariam, de jeito nenhum, esse “casuísmo indecente” mas, na hora H, roeram a corda. Garotinho, o mais espalhafatoso, defendeu vibrantemente o dito cujo com o talento demagógico que possui.
Ronaldo Caiado foi mais discreto. Tomou Doril, sumiu do plenário e deixou as operações nas mãos de Rodrigo Maia que, naturalmente, por uma sólida questão de princípio e em nome da ética, somou-se aos moralizadores da política. O PT assumiu claramente a liderança das operações e ficou claro o rabo de fora do Planalto.
Meio grogue da surpresa, meti o sarrafo no microfone de apartes. Tentaram me vedar a tribuna — com uma rasteira da assessoria da Mesa – mas acabei conseguindo ocupá-la para mostrar aos deputados o escárnio de opinião pública ao qual se estavam expondo ao tentar cercear 20 milhões de votos.
Alguns valentes se colocaram: Roberto Freire e o PPS, Chico Alencar, do Psol, o PSB e os tucanos que decidiram se opor também. Alguns outros pequenos partidos como o PMN. E vários parlamentares individualmente se revoltaram na hora de digitar seus votos.
Assista ao vídeo do embate:
Era, segundo os mais antigos, a primeira vez que uma matéria surgia tão assim de supetão, sem aviso prévio ou discussão no colégio de líderes, com as assinaturas do ano passado de vários líderes que já não o são mais; inclusive um que nem mais deputado está, pois assumiu cargo numa prefeitura.
Francamente, eu não esperava que fôssemos conseguir obstruir aquela ofensiva bem articulada, aquele rolo compressor de “santa aliança” que juntava o PT, o PMDB, o PCdoB, o DEM, o PSD, o PSC e o esquibau.
De alguma forma, que só vou entender direito quando conseguir a lista completa dos votantes, fizemos com que lhes faltasse o quórum necessário para emplacar o pedido de urgência.
Meno male. Hoje a noite foi o dia da caça, não do caçador. E pelos vistos, andam com medo de nós.
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