Na entrevista que concedeu ao Congresso em Foco em abril, a ex-senadora Heloísa Helena já sinalizava que bastava um gesto de Lula para que Marina Silva se reaproximasse e declarasse apoio à sua candidatura à Presidência da República.
Com trajetórias políticas distintas, Heloisa e Marina, as duas oriundas do PT, são muito amigas e tornaram-se ainda mais próximas depois que Heloisa deixou o Psol e foi para a Rede. Agora, candidatas a deputada federal uma no Rio e outra em São Paulo, são as duas principais apostas do partido para puxar votos e eleger bancadas capazes de fazer a Rede ultrapassar a cláusula de barreira.
Ao contrário de Heloisa, que foi expulsa do PT no primeiro governo Lula por divergir de propostas com a reforma da Previdência, e declarou apoio a Ciro Gomes, do PDT, Marina estava somente distante da campanha. E sinalizava que poderia modificar a sua postura. Só não faria ela o gesto de aproximação. Esperava que Lula o fizesse. O que aconteceu neste domingo (11). E a adesão de Marina à campanha de Lula poderá ter efeito parecido ao que se produziu após a adesão de André Janones, do Avante. Ou até maior…
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Janones – e já dissemos aqui sobre isso – levou para Lula um ativismo nas redes sociais que a campanha do PT não tinha. Na primeira onda de militância digital, as esquerdas, e o PT principalmente, reinavam soberanas. Na segunda onda, a direita tomou conta dos processos. E a esquerda ficou totalmente ultrapassada. Janones sabe usar as redes sociais. Tem a agressividade necessária para se contrapor à turba bolsonarista. Às vezes, até exagera. Mas, na verdade, ele assumiu para si um tipo de exposição e de ativismo que não seria bom para o próprio Lula.
A adesão de Marina agora pode agregar apoios no meio em que Lula ainda é mais frágil. Talvez Lula e Marina tenham as duas trajetórias políticas mais interessantes do país. Lula saiu do sertão para tentar a vida em São Paulo em cima de um caminhão pau-de-arara e daí fez o seu caminho. Marina é oriunda dos povos da floresta. Ex-empregada doméstica, lutou para alcançar os seus espaços.
E Marina é uma mulher evangélica. Se esse foi o principal elemento agregador da entrada de Michelle na campanha de Jair Bolsonaro, Lula agora poderá ter Marina cumprindo esse papel, caso ela o aceite.
PublicidadeSe Michelle tem o perfil de mulher evangélica que o segmento acolhe, o mesmo perfil tem Marina. Talvez mais ainda. Por agregar toda essa trajetória de luta.
Como também já mostrou o Congresso em Foco, o papel de Michelle está diretamente vinculado ao que alguns grupos evangélicos chamam de “Teologia do Domínio”, toda uma estratégia, sugerida pela primeira vez nos Estados Unidos pelo pastor presbiteriano John Rushdoony, que prega a necessidade de conquista de espaços para assegurar o domínio do pensamento evangélico. Seria a conquista de “Sete Montes”: família, religião, educação, mídia, lazer, negócios e governo.
O problema é que tal mistura nesse nível da política com a religião tem a adesão somente de uma minoria dos segmentos evangélicos. Para muitos, a postura política de evangélicos deve ser outra. A de pessoas que professam a sua fé, mas que não transformam isso na bandeira da sua atividade política. Que compreendem a laicidade do Estado. E esse sempre foi o comportamento político de Marina.
Marina poderá ajudar a assegurar que Lula não perseguirá segmentos religiosos. Como nunca os perseguiu em seus governos. Até porque a Constituição brasileira assegura a liberdade de culto. Seja para evangélicos seja para os que professam outras religiões. Mas Marina tem, junto a esse público, confiança para poder dizer isso sem gerar desconfiança. Se ela cumprir esse papel, Lula terá obtido um importante apoio nessa reta final da campanha.
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