O debate sobre as mudanças climáticas, aquecimento global e desenvolvimento sustentável monopoliza as pautas na esfera internacional das principais economias e organizações. O mundo está se mobilizando para pensar em soluções inteligentes que sejam sustentáveis e pouco prejudiciais ao meio ambiente. A pauta é extensa, indo desde a matriz energética, que busca uma menor dependência dos combustíveis fósseis – extremamente prejudiciais ao meio ambiente -, até solos permeáveis para conter deslizamentos e desastres climáticos nas cidades. O mundo está avançando nesse assunto. Porém, pouco tem sido feito em São Paulo, a maior cidade da América Latina.
Por aqui, ainda estamos caminhando lentamente no debate. As tecnologias já existem, mas não estão sendo implementadas de maneira eficiente. Em São Paulo, há um avanço tímido em direção a soluções inteligentes que incentivem uma melhor qualidade de vida para seus habitantes e ajudem a reduzir o impacto do aquecimento global. Na nossa cidade, o centro, que é a área mais populosa, costuma ter uma temperatura 4 graus acima de zonas mais distantes e menos populosas. Esse fenômeno ocorre devido à alta incidência de prédios sem equipamentos para conter as ondas de calor que se intensificam devido ao formato no qual a cidade foi construída.
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A construção de São Paulo foi feita com uma lógica diferente da atual. Naquela época, não havia preocupação ambiental e os prédios não possuíam tecnologias como telhados verdes para amenizar as ondas de calor. Atualmente, esse tipo de tecnologia já está disponível para alguns, mas ainda é inacessível para a maioria da população, e não há avanço nas políticas públicas para incentivar essa iniciativa.
A cidade alemã de Stuttgart, por exemplo, descobriu as vantagens dos telhados verdes já nos anos 1980, sendo hoje uma referência mundial em cobertura vegetal, com 60% dos telhados verdes nas construções. O município ainda utiliza essa estratégia para aproveitar a água da chuva, uma vez que os telhados verdes podem reter até 200 litros de água por metro quadrado. De acordo com a EPA (Agência de Proteção Ambiental), o uso de telhados verdes em áreas com vegetação limitada pode moderar o efeito da ilha de calor, especialmente durante o dia. O estudo mostra que as temperaturas nos telhados verdes são entre 16 e 22 °C mais baixas do que nos telhados convencionais e podem reduzir a temperatura ambiente de uma cidade em até 2,7 °C.
Outra solução sustentável para ajudar as cidades a economizar energia e melhorar o meio ambiente são as fazendas solares. A ideia é simples: instalar painéis de energia solar em grandes construções. Nos EUA, as lojas do Walmart atendem entre 20% e 30% de suas necessidades de energia com painéis solares em seus telhados. A Ikea, por sua vez, possui essa tecnologia em 90% de suas lojas e economiza 40% de energia elétrica.
Nesse modelo, todos saem ganhando. Um estudo realizado pela ONG Frontier Group e pelo Centro de Política e Pesquisa Ambiental Americano mostrou que, se todas as varejistas dos EUA instalassem fazendas solares, poderíamos neutralizar as emissões de 11,3 milhões de carros por ano ou abastecer 8 milhões de casas! O governo americano, inclusive, concede um crédito fiscal federal de 30% para ajudar os produtores que investem em energia solar. Aqui no Brasil, embora esse tipo de solução esteja começando a ser empregada, o custo da tecnologia ainda é muito alto.
É certo que não existe uma solução única para combater os efeitos das mudanças climáticas em uma cidade do tamanho da nossa. Mas medidas preventivas que incentivam a participação do setor privado seguem na direção das boas práticas internacionais e podem causar uma mudança real na vida dos paulistanos. É para isso que devemos trabalhar. Projetos que incentivem o avanço de tecnologias verdes, como o IPTU Verde já aplicado em outras cidades do Brasil, têm obtido bons resultados e incentivam a parceria público-privada. A revisão do Plano Diretor de 2014 está sendo discutida neste momento na Câmara Municipal de São Paulo, um momento importante para incentivar um Plano de Cidade Inteligente na capital, juntamente com o fortalecimento de um Plano de Gestão de Risco. Assim, a cidade saberá quais são as áreas onde se deve investir em telhados verdes e solos permeáveis.
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