Desde 2015 Teresina vem despontando na Prova Brasil, e, em 2019, obteve o melhor desempenho entre todas as capitais e cidades de maior porte. Trata-se de um feito notável, especialmente considerando o baixo nível socioeconômico da população.
Podemos aprender algo com o sucesso de Teresina? Este é o tema da publicação “O avanço da educação em Teresina – um estudo de caso”, que será lançada hoje, em uma live, e que estará disponível no site do Instituto Alfa e Beto a partir das 12 horas.
Primeiro, vamos aos dados e fatos: os avanços se deram de forma progressiva e consistente, tanto em Língua Portuguesa quanto em Matemática, tanto nas séries iniciais quanto nas séries finais. Também se deram a partir de um nível inicial próximo à média dos demais municípios do país. Ou seja, aqui estamos tratando de avanços significativos tanto do ponto de vista absoluto quanto relativo aos demais municípios brasileiros. Em oito anos, Teresina passou de um desempenho médio para um dos melhores do país. Este é um resultado típico de intervenções educacionais bem-sucedidas: se a intervenção é robusta, os resultados devem aparecer logo. Resta saber em que consiste uma intervenção robusta.
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O que estaria por detrás desses resultados? Desde o final do século passado, Teresina teve continuidade e seriedade na administração municipal. Mas vários outros municípios também tiveram boas administrações e continuidade administrativa. Isso não basta.
Na educação, implementou iniciativas pontuais de sucesso comprovado, como a correção do fluxo escolar, na virada do século, e a implementação de programas eficazes de alfabetização para os alunos do 1º ano desde 2003. Essas intervenções têm resultado positivo comprovado e estão associadas com aumentos modestos nos resultados das séries iniciais. Mas isso não provocou um grande avanço nos resultados da Prova Brasil. Mas aqui Teresina já começa a se diferenciar – foi um dos poucos a despertar desde cedo para a importância de alfabetizar bem as crianças no 1º ano.
Em decorrência da metodologia desses programas, o município passou a incorporar, de maneira mais ou menos sistemática, um conjunto de outras políticas e práticas pedagógicas também de efetividade comprovada. Aqui há um pouco de tudo – várias dessas estratégias também foram implementadas em outros municípios, nem sempre com resultados visíveis e significativos, inclusive em Teresina. Também não causaram impacto significativo na Prova Brasil.
Mas foi somente a partir de 2015, como possível resultado de intervenções mais articuladas iniciadas em 2013, que o município começou a dar o salto de qualidade. Essas intervenções se baseiam no conceito de ensino estruturado, que articula as ações da secretaria e das escolas em torno de um único alvo: fazer o ensino efetivo chegar à sala de aula. Esta é a receita do sucesso adotada há anos em Sobral, mas que infelizmente a maioria dos municípios brasileiros reluta em implementar. Esses elementos e sua articulação constituem o foco da análise apresentada na publicação lançada nesta terça.
Se há motivos para celebrar, também há motivos para se preocupar, pois esse tipo de estratégia, embora de eficácia comprovada, requer uma consistência e continuidade que poucas redes de ensino no Brasil conseguem manter. E os elementos que conspiram contra a continuidade de boas políticas, infelizmente, são tão ou mais poderosos dos que militam a seu favor.
O que podemos aprender? Há muito a aprender. O citado estudo de caso proporciona uma narrativa de mais de 20 anos de avanços, fases de estabilização e retrocessos. Descarta, com dados, a tentação das explicações fáceis e simplistas. O leitor interessado encontrará elementos robustos para se convencer de que a educação tem jeito, desde que as propostas de intervenção sejam baseadas em evidência, implementadas com o devido rigor e que resultem em mudanças efetivas no que acontece dentro da sala de aula. O resto é retórica vazia e prejudicial. Não existem milagres nem balas de prata. Mas existem procedimentos e instrumentos que podem levar ao sucesso.
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