No último domingo (25) milhares de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro encheram a Avenida Paulista em ato convocado em sua defesa como reação às investigações da Polícia Federal a qual avança para identificar os organizadores, financiadores e arquitetos da tentativa de golpe de Estado televisionada em 8 de janeiro de 2023.
Dentre os ilustres participantes, destaque para parlamentares ligados à sua sigla, o Partido Liberal (PL), além de seguidores fervorosos, apoiadores de segmentos evangélicos, governadores de estado e parlamentares que se sustentam politicamente colando a sua imagem à de Bolsonaro. No carro de som, a participação emblemática do ato para quem olha atentamente o atual xadrez político nacional tem nome e sobrenome: Valdemar Costa Neto. Proibido de se encontrar com Bolsonaro por decisão da justiça, Costa Neto verbalizou o que realmente importa para ele: a força da sigla como potente recurso para barganhar politicamente, sobretudo considerando que 2024 é ano eleitoral. Em suas palavras: “Vim aqui só para falar para vocês que vocês transformaram o PL no maior partido do Brasil”.
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Isso faz muito sentido na política da vida real na qual representação parlamentar é poder e garante acesso a recursos públicos fundamentais, como dinheiro. Dessa realidade o presidente do PL entende muito bem. O partido nas eleições municipais de 2020, antes da vinda de Bolsonaro para a sigla ocorrida em novembro de 2021, elegeu 4.147 políticos para cargos representativos, sendo 345 prefeitos, 364 vice-prefeitos e 3.438 vereadores. Isso já lhe conferia a posição de um dentre os dez maiores partidos do país. Já nas últimas eleições gerais de 2022 a sigla mais que cresceu, apresentou ascensão meteórica no Legislativo sob o uso intenso da figura do ex-presidente. Conquistou a maior bancada tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado: 99 deputados federais eleitos (atualmente são 96 parlamentares) e 8 senadores, os quais somaram-se aos demais já em atividade (hoje são 12 senadores). Fora os 129 deputados estaduais/distritais esparramados pelas Assembleias Estaduais/Distrital e dois governadores: Cláudio Castro (RJ) e Jorginho Melo (SC).
Costa Neto tem mesmo que agradecer ao eleitor do PL. Ou seria eleitor de Bolsonaro? É aqui que o cálculo político se torna mais complexo. O partido já era um dos maiores antes de Bolsonaro. Passou a ser o maior em termos congressuais, sendo que sem o ex-presidente dificilmente conseguiria tal feito. Bolsonaro já havia vencido antes de estar no PL, mas precisou de uma sigla mais estruturada para disputar as eleições de 2022 e de algum modo garantir seu sustento político se não subisse mais a rampa do Palácio do Planalto, o que aconteceu. O PL precisa de Bolsonaro, sobretudo pelo fato deste ter se tornado o seu principal ativo político a fim de dar sequência em sua trajetória de crescimento, sobretudo em termos de ganho e capilaridade nas eleições municipais de 2024, afinal ter base municipal é sempre um grande trunfo. Bolsonaro precisa mais do que nunca do PL a fim de obter recursos imprescindíveis como dinheiro e estrutura para mobilizar simpatizantes, apoiadores e o mais importante: prováveis futuros eleitores. Embora inelegível pelos próximos anos, o ex-presidente tem muito o que oferecer para a sigla diante de um eleitorado polarizado e de eventuais candidaturas nas eleições municipais que almejem surfar na onda sua onda. Aliás, Bolsonaro, mesmo diante da possibilidade de vir a ser preso se a Justiça provar que engendrou a tentativa de golpe de Estado, hoje é o principal recurso do PL. Por sua vez, O PL, mesmo sem vir a ter Bolsonaro em suas fileiras, ainda assim é o partido que disporá de algo em torno de R$ 860 milhões de reais só do Fundo Especial de Financiamento de Campanha para irrigar as candidaturas de vereadores e prefeitos nos mais de 5,5 mil municípios brasileiros – sendo importante salientar que nenhum partido está em todas as cidades, tampouco envia recursos para todas aquelas em que está. Na trama atual, Bolsonaro e o PL são duas faces da mesma moeda. Mas há uma variável que pode equilibrar ou desequilibrar tudo isso: Costa Neto.
O dirigente partidário sentiu o peso de ser aliado de primeira ordem de Bolsonaro recentemente quando passou dois dias encarcerado. Por sinal, conhece bem a realidade atrás das grades quando condenado no processo do Mensalão a cumprir pena de sete anos e dez meses por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, sendo preso em 2013. Seu histórico político nas últimas décadas tem oscilado entre prestar contas à Justiça e dirigir uma importante sigla. Seu futuro é incerto. Mas sabe muito bem que melhor do que ser deputado em Brasília é ser dirigente do partido atualmente mais expressivo e, por enquanto, o que mais recursos tem garantido em seu caixa. No entanto, sabe que o desafio não é presidir, mas se manter presidente com recursos à disposição capaz de sustentá-lo de alguma forma nesse xadrez. Quem entende de política sabe bem que partido sobrevive é de representação parlamentar. O Legislativo é a chave do sucesso! E o PL é o maior partido na Câmara. No Senado também. Nas Assembleias, idem. Então, qual o próximo passo? As prefeituras estão aí para serem disputadas, mas não seria bom alguns milhares de vereadores a mais, capazes de serem utilizados como linha de frente quando necessário?
Bolsonaro quer lutar para sobreviver politicamente. O PL, ainda sob a batuta de Costa Neto, deseja se beneficiar do ex-presidente e aproveitar a oportunidade para tentar crescer localmente na medida em que se mantém nacionalmente, como uma espécie de correia de transmissão. E o eleitor, o que quer? A ambos ou a ninguém? A conferir.
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