Iniciada nesse domingo (31) na cidade escocesa de Glasgow, a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP26) recebe chefes de Estado de todas as maiores democracias do mundo para debater e negociar soluções de avanço na pauta de meio ambiente. Apenas um se encontra ausente: o presidente Jair Bolsonaro, bem como o vice Hamilton Mourão.
De acordo com o deputado Rodrigo Agostinho (PSB-SP), líder da Frente Parlamentar Ambientalista no Congresso, a ausência do presidente pode comprometer a posição do Brasil na Conferência, uma vez que chefes de Estado cumprem papel facilitador nas negociações e são fator de peso no prestígio de seus países.
“É muito ruim a ausência do presidente. O Brasil é para ser o grande líder nesse processo, o Brasil sempre liderou as negociações internacionais de clima. O Brasil deveria ser o grande protagonista, é para ser o país que vai receber o maior número de investimentos”, ponderou o deputado. O impacto não é apenas simbólico: empresários brasileiros também se encontram na COP26 em busca de investimentos no mercado ambiental, e precisam de um representante para dar apoio em negociações. O deputado viajará esta semana para participar das discussões na Escócia.
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O Brasil sempre teve papel de destaque nas conferências climáticas das Nações Unidas graças ao grande patrimônio ecológico de seu território, que conta com um terço das florestas tropicais do mundo e dois terços da vegetação nativa da Floresta Amazônica. “O mundo precisa do Brasil para cuidar de questões climáticas. Não é possível controlar as mudanças climáticas no mundo sem a participação do Brasil”, afirma Agostinho.
A ausência da liderança brasileira na conferência não é novidade na gestão de Bolsonaro, que também esteve ausente na COP anterior, ocorrida em 2019 em Madrid. Os resultados de sua ausência foram perceptíveis, conforme conta Rodrigo Agostinho. “Na conferência passada, o ministro Ricardo Salles atrapalhou todas as negociações”, citou. Salles saiu do ministério no ano seguinte, após denúncias de participação em um esquema de contrabando de madeira.
Efeitos práticos
Rodrigo Agostinho explica que a participação dos líderes na COP26 possui papel não apenas simbólico, principalmente ao lidar com a resistência de certos países em continuar negociando com nações que não se comprometem com a defesa do meio ambiente, assunto que já exige atenção especial por parte do governo brasileiro. “Alguns mercados já estão se fechando aos produtos brasileiros por conta do negacionismo climático. A União Europeia por exemplo já exige rastreabilidade de todos os produtos brasileiros, e os Estados Unidos discutem em seu Congresso uma lei com a mesma redação”, alertou o deputado.
Outro assunto previsto para ser debatido na COP26 que pode surtir efeito no Brasil é o estabelecimento do novo acordo florestal que formaliza o mercado de carbono. Áreas reflorestadas por cada país passam a representar créditos de carbono, que poderão ser negociados internacionalmente. “Para o Brasil, o cumprimento desse acordo é essencial. O Brasil precisa fazer as suas lições de casa, o governo precisa apresentar um plano de restauração”, destacou Agostinho.
Rodrigo Agostinho acrescenta que até mesmo os interesses de aliados do presidente podem estar em jogo na COP26. “A maior parte dos deputados selecionados para participar é ruralista. Eles estão indo justamente para ver se conseguem melhorar a imagem do Brasil lá fora, mas essa imagem só vai ser melhorada se o Brasil de fato apresentar um plano sólido de combate ao desmatamento”. O deputado foi escolhido pelo júri especializado do Prêmio Congresso em Foco como o principal destaque na defesa do Clima e Sustentabilidade, categoria apoiada pelo Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS).
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