O ano de 2018 sem dúvidas foi incomum. A panela de pressão, que acumulava calor desde as jornadas de rua de 2013, explodiu. A temperatura foi nas alturas, num festival de intolerância e radicalismo. As cenas lamentáveis nas solenidades de diplomação dos novos eleitos em São Paulo e Minas Gerais chamam a atenção sobre o quanto será difícil reconstituir os canais de diálogo, respeito mútuo e negociação.
Nas últimas eleições, o padrão de comportamento do eleitorado mudou substancialmente. O brasileiro, em geral, avesso a aventuras e radicalismos, apostou no confronto dos extremos. E não só elegeu diversos governadores desconhecidos, como colocou na Presidência um até então apagado deputado, com 30 anos de mandatos sem marca relevante, sem experiência governamental, mas que soube se identificar com a maioria da população, determinada a virar o jogo. Decepcionada com os partidos que lideraram a Nova República, desprezaram predicados como trajetória pessoal, experiência, legado, realizações. A aposta foi no novo pelo novo.
Mas qual é o estado da arte na última esquina de 2018?
Na sociedade não temos muito a comemorar. Fechamos o ano com mais de 13 milhões de desempregados, o padrão de vida caiu desde 2014, a qualidade das políticas públicas declinou, a violência explodiu, o crime organizado cresceu. Mas a resistência do povo brasileiro é impressionante e essa é sempre a melhor notícia.
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Na economia, o quadro é angustiante. Era pra crescermos 3,5% este ano. Perdemos mais um bonde da história. A inflação e os juros estão baixos, mas a economia dá sinais muito limitados de recuperação. O nosso calcanhar de Aquiles, o desequilíbrio fiscal, tem sua solução vítima de uma conspiração de elites. O Judiciário determina aumentos salariais exatamente para setores de maior renda, inclusive pra si mesmo. O Congresso vota medidas na contramão da responsabilidade fiscal. A reforma da previdência é bloqueada exatamente pelos segmentos privilegiados por um sistema injusto e insustentável.
Na política, patinamos no aprofundamento de um sistema partidário e eleitoral ininteligível, irracional, sem substância e vínculos sólidos com a população. Despertamos a desconfiança da sociedade pela proliferação sem limites da corrupção e da demagogia e a constatação inevitável de um grande vácuo de liderança.
A república e a federação também não vão nada bem. O desencontro dentro e entre os poderes e o estrangulamento da maioria de Estados e municípios são as faces visíveis do retrato herdado do ano que se acaba.
Mas a virada do ano é hora de cultivar esperança. Embora triste com o nada edificante epílogo da Nova República, luta e sonho de minha geração, termino com as palavras de Bráulio Bessa: “O mundo já lhe esperou, desde a hora de nascer. Apresentou-lhe a vida, e fez a todos entender que se o problema é o homem, o homem é quem vai resolver”. Que venha 2019!
O que precisa ser notado é que há uma ‘linha suporte’ para tudo o que aconteceu e continua acontecendo. O ponto é que as pessoas, o “povão”, a grande massa está conseguindo se manifestar de fato e não está mais tão passiva. Começamos a ter acesso a ferramentas que, mesmo com certas restrições, facilitam muito isso (o próprio “Congresso em Foco” é uma delas). O espaço para decisões anti-democráticas diminuiu e os absurdos ficam cada vez mais expostos. Talvez a chamada “proliferação sem limites da corrupção” apenas não estivesse tão evidente antes.
As citadas decisões impopulares e/ou lamentáveis foram tomadas em momentos furtivos, no plantão (exemplo: Maia por Temer), quase no recesso, no fim de mandatos, de maneira obscura e/ou monocraticamente, sempre com o intuito de ‘passar sem ser notadas’. Mesmo assim, seus efeitos são catastróficos para o orçamento e para o bolso dos contribuintes.
Querendo ou não, agora temos um presidente de “direita” eleito democraticamente após 4 mandatos de governos da “esquerda”. Esperemos que seja aceito ao menos como Lula o foi em seu 1° mandato. Esperemos que a maioria dessas pessoas que, ainda não conseguiram assimilar esse fato, ponham a mão na consciência e parem de agir contra a nação. 1964 ficou no passado. Nunca o que foi será igual ao que foi um dia…. Agora, deixem o homem trabalhar.
Politicamente falando. 1964.