Os partidos de oposição à esquerda ao governo de Jair Bolsonaro (sem partido) estão vivendo um momento de separação dentro do Congresso Nacional. De um lado, a chamada ala progressista, composta por PDT, PSB, Rede, PV; do outro, PT, Psol e PCdoB. Esse racha está gerando desdobramentos que devem ser sentidos nas eleições municipais e já podem ser observados em algumas votações dentro da Câmara dos Deputados.
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O que se percebe nas articulações, especialmente na Câmara, é que Partido dos Trabalhadores ao mesmo tempo em que diz tentar se reaproximar das legendas, trai compromissos anteriores feitos com esses partidos.
Na última semana, o PT tentou quebrar um acordo feito em 2019 com o PDT e tomar a liderança da minoria. O partido de Ciro Gomes reagiu, e pediu pela interferência de Rodrigo Maia (DEM-RJ), que cancelou a nomeação de José Guimarães (PT-CE) para o posto e manteve, interinamente, Jandira Feghali (PCdoB-RJ) à frente do grupo. O pano de fundo do impasse é uma disputa por cargos e outras prerrogativas regimentais, como tempo de fala, por exemplo.
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Mesmo com o cargo ainda em disputada, o clima no PT é de “já ganhou”. Guimarães já tem se apresentado como líder da minoria, deputados e assessores também já o tratam dessa maneira.
Apesar da resistência, congressistas do PDT assumem, nos bastidores, que devem perder essa liderança e ficar à frente do grupo da oposição, que, apesar do cargo de líder, não tem direito à indicações de secretários. Uma tentativa de resolver o impasse é fazer uma divisão dos recursos da liderança da minoria com a oposição.
PublicidadeSe o acordo for realmente fechado, José Guimarães será líder da minoria e André Figueiredo (PDT-CE) ficará como líder da oposição. De qualquer maneira, a avaliação entre membros do PDT é que o convívio com o PT ficou muito difícil após essas articulações.
Outros motivos
O PSB, Rede e PV também estão incomodados com a tentativa do PT de agir hegemonicamente na esquerda brasileira. Isso gerou um movimento de formar um grupo autodenominado “frente progressista”. PT, PCdoB e Psol estão fora dessa articulação.
“Isso é balela, o PT não tenta agir de maneira hegemônica, até deu uma vaga para a Rede participar da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) no ano passado. Que hegemonia é essa?”, declarou, em tom exaltado, um dos nomes fortes do PT na Câmara.
Com esse movimento, as eleições municipais terão ao menos duas frentes mais à esquerda nas principais cidades do país: a “frente progressista” e o PT. Isso tem incomodado parlamentares petistas. “Se acontecer, eles não vão conseguir eleger ninguém”, disse uma fonte do PT para a reportagem.
No Rio de Janeiro deve acontecer uma das poucas exceções a este quadro. Na cidade, o PV tende a apoiar a candidatura de Marcelo Freixo (Psol) para a prefeitura. Na chapa também estarão o PT e o PCdoB.
Já na capital paulista, a Rede Sustentabilidade está abrindo mão de filiar um nome forte, justamente por essa candidata insistir em formar chapa com o partido dos trabalhadores. As conversas com Marta Suplicy já estavam avançadas quando a ex-senadora afirmou que gostaria de ser vice de Fernando Haddad (PT-SP); isso fez com que a Rede desistisse da filiação. “Não vamos fortalecer o bolsonarismo ao contrário”, disse um dos dirigentes da Rede para o site.
Com certa frequência tem havido reuniões entre Pedro Ivo (Rede), Carlos Lupi (PDT), Carlos Siqueira (PSB) e José Luiz Pena (PV) – todos presidentes de seus partidos -, para afinar a formação das chapas municipais. A informação foi checada pelo Congresso em Foco com seis fontes que estão participando direta ou indiretamente das negociações.
Algumas lideranças petistas estão autorizadas a tentar dialogar e ver onde é possível uma aliança para afastar o partido desse isolamento em que está sendo jogado. Nesta semana, o diretório nacional do partido se reunirá para discutir, entre outros pontos, a estratégia que deve ser adotada diante desse cenário que se anuncia.
Rusgas antigas
Ao Congresso em Foco, ainda em 2019, o ex-presidenciável do PDT, Ciro Gomes, afirmou que ex-presidente Lula “é um enganador profissional”, o que demonstrou, em agosto do ano passado, que as feridas da eleição ainda não cicatrizaram entre os partidos.
Ciro afirmou nessa entrevista exclusiva que não aceitaria o apoio do PT. “O meu plano não era esse, meu plano era apresentar uma alternativa, eu achava que se o PT tivesse um pingo de apreço ao país e pensasse um minuto no Brasil e nos brasileiros e não em si próprio como máquina de poder pelo poder, eles poderiam não ter lançado candidato. Se o PT vem comigo, quem iria perder era eu porque a força dominante naquelas eleições muito justamente, ou parte injustamente porque a vida real é assim, era o antipetismo, se o PT vem comigo eu perdia a eleição”, disse Ciro.
“Não tenho nenhum apreço político pelo Lula, nenhum. Acho que ele é o grande responsável por essa tragédia econômica, social e política que o Brasil está vivendo, não tem grandeza, só pensa em si e virou um enganador profissional”, declarou Ciro, mostrando que uma aproximação entre as siglas é improvável.
Na mesma época da entrevista, o Congresso em Foco mostrou que o PDT estava se aproximando do PSB.O presidentes nacionais do PDT, Carlos Lupi, e do PSB, Carlos Siqueira, começaram a se reunir para debater uma aliança nas eleições municipais de 2020 e presidenciais de 2022.
“Eu fui levar a ele [presidente do PSB] que a gente comece a pensar em uma aliança visando 2020 e 2022. Ele disse que vai levar esse assunto para Executiva e ia dar o retorno. Ele foi simpático pessoalmente, mas disse que tinha que levar o assunto a Direção Nacional do Partido”, disse o presidente do PDT ao Congresso em Foco.
Essas reuniões, que foram adiantadas em primeira no Congresso em Foco Premium, resultou nos desdobramentos expostos nessa matéria.
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