Pouco mais de três meses após sua morte, as redes sociais de Olavo de Carvalho, principal ideólogo do governo de Jair Bolsonaro (PL), permanecem ativas, com conteúdo sendo distribuído semanalmente. Além de homenagens e trechos de seus discursos, os perfis são constantemente abastecidos com anúncios de vendas de seus livros e de documentários retratando sua ideologia, bem como seminários organizados por antigos seguidores.
A gestão desses perfis não é realizada pelos seus filhos, mas sim por membros de seu círculo mais próximo de apoiadores, que obtiveram as informações de acesso antes de sua morte no final do último mês de janeiro. Sua filha, Heloisa de Carvalho, agora luta contra o tempo para conseguir recuperar as credenciais de acesso das redes sociais de seu pai.
Quando Olavo de Carvalho era vivo, Heloisa era a principal voz de oposição ao agitador dentro de seu núcleo familiar. Em 2017, as divergências ganharam caráter público, resultando em uma rivalidade que chegou ao seu ápice em 2019, quando a filha publicou o livro “Meu Pai, o Guru do Presidente”, onde denuncia a influência de Olavo nas decisões do governo de Jair Bolsonaro.
Com a morte do ideólogo, Heloisa teme que o aparato de comunicação deixado por ele possa servir de máquina de propagação de notícias falsas em favor de Jair Bolsonaro no período eleitoral. “Olavo de Carvalho insuflava muita gente. Ele tinha um milhão de seguidores no Youtube, outro meio milhão no Facebook e Twitter. (…) Com o falecimento do Olavo, o bolsonarismo perdeu muito no ativismo digital”, declarou no podcast Vozes Progressistas nesta segunda-feira.
Uma vez obtidas as credenciais, Heloisa consegue comunicar as equipes de gestão das plataformas de rede social sobre o falecimento de Olavo. “Quando eu fizer essa comunicação, provando [a morte] com documentos e provando meu parentesco, essas redes são bloqueadas. Elas não podem mais publicar, e ninguém mais vai poder usar. Eu quero evitar publicações, pois vejo [os perfis] propagando fake news, teorias de conspiração e discurso de ódio”, explicou.
A briga judicial, porém, conta com um sério obstáculo: a diferença de jurisdições. Residente dos Estados Unidos, Olavo de Carvalho registrava sua documentação em cartórios locais, sem vínculo com a justiça brasileira. “Eu requisitei a certidão de óbito estadunidense, (…) mas a documentação que eu precisei juntar para provar que eu sou parente é a minha em português, e a justiça americana negou”, relatou.
Influência de Olavo
Mesmo antes das eleições de 2018, Olavo de Carvalho já era a principal referência ideológica de Jair Bolsonaro. Chamado pelo até então candidato de “professor”, Olavo construía as principais teorias de conspiração que formavam seu discurso e inflamava seus eleitores. Cartazes com homenagens ao ideólogo e máximas de seus discursos permanecem constantes em manifestações bolsonaristas.
Após as eleições, Olavo seguiu como uma figura de peso dentro do governo: assim que eleito, Jair Bolsonaro escolheu dois olavistas para sua equipe ministerial, e diversos outros para as secretarias e assessorias. Olavo de Carvalho também foi a causa da demissão de um ministro: em 2019 entrou em conflito com o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Carlos Santos Cruz, que logo foi exonerado. Diversos parlamentares governistas como Bia Kicis (PL-DF), Carla Zambelli (PL-SP) e Daniel Silveira (PTB-RJ) permanecem defensores de seu discurso.
Mesmo após sua morte, Olavo de Carvalho deixou uma série de contas nas redes sociais com milhares de seguidores, e seus livros permanecem referência entre militantes de extrema-direita. Na área ideológica, porém, sua sucessão é incerta: diversos atores políticos e da comunicação tentam dar continuidade ao seu papel como agitador e teórico da conspiração. Você pode entender mais clicando aqui.
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