O voto evangélico terá, mais uma vez, um peso importante nas eleições presidenciais deste ano. Em entrevista ao Congresso em Foco, o sócio-diretor do Instituto FSB Pesquisa Marcelo Tokarski, que vem acompanhando o comportamento desse eleitorado, destaca que apesar da vantagem do presidente Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, a diferença dele em relação ao ex-presidente Lula (PT) não é das maiores. “Nos últimos dois meses, esses eleitores passaram a migrar mais para Bolsonaro, mas Lula também não tem um desempenho tão ruim neste segmento. Até porque boa parte do eleitorado evangélico é de renda e escolaridade mais baixas”, destaca.
Na avaliação dele, nas eleições deste ano, a questão econômica terá muito mais peso do que a pauta de costumes, como aconteceu em 2018. Bolsonaro, assim, teria que crescer bastante entre o segmento evangélico para que isso representasse uma grande vantagem nas urnas. Para ele, outras religiões devem ser levadas em consideração na busca de votos pelos presidenciáveis: “Para termos uma ideia, a vantagem de 23 pontos percentuais que Lula tem hoje sobre Bolsonaro entre os católicos na simulação de 2º turno equivale a mais de 1/3 de todo o eleitorado declarado evangélico”. Confira a seguir a entrevista.
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Na leitura das pesquisas Bolsonaro tem uma avaliação de governo positiva e acima da média (comparado a outros recortes) no segmento evangélico. Há, no entanto, alguma diferença nessa avaliação positiva ou mesmo na intenção de votos quando citamos igrejas diferentes (neopentecostais ou tradicionais)?
De maneira geral, as denominações evangélicas tendem a avaliar o governo de maneira muito semelhante, as diferenças são residuais. A grande diferença se dá entre os quase 30% do eleitorado que se declaram evangélicos. Nessa fatia, que agrega todas as denominações evangélicas, na pesquisa feita pelo Instituto FSB para o BTG Pactual no final de abril, eram 44% de ótimo/bom para o governo Bolsonaro. Para se ter uma ideia, esse percentual cai para 27% entre os católicos, 26% entre quem se declara de outras religiões e apenas 16% entre os sem religião (na média da população, o percentual de ótimo e bom é de 30%).
Na sua avaliação, o voto evangélico pode fazer diferença nessa eleição para a vitória de um candidato no segundo turno?
Bom, primeiro é importante pontuar que, hoje, a tendência é de que tenhamos 2º turno, e o que todas as pesquisas indicam é que este provável 2º turno seria disputado entre o ex-presidente Lula e o presidente Jair Bolsonaro. Claro que o voto evangélico será decisivo, mas não só ele. A questão é que, entre os perfis de religião, este o único em que Bolsonaro fica à frente de Lula. Na 2ª rodada de pesquisa BTG/FSB, na simulação de 2º turno, Bolsonaro apareceu entre os evangélicos com 51%, contra 40% de Lula. Por outro lado, a vantagem do petista nos outros perfis é bastante significativa. Lula teria 56% a 33% entre os católicos, 49% a 38% entre outras religiões e 67% a 21% entre os sem religião. Ou seja, para reduzir a diferença contra Lula no total das intenções de voto, o presidente Bolsonaro precisa, sim, ampliar sua votação entre os evangélicos de maneira muito forte, como ocorreu em 2018. Mas, na minha opinião, talvez isso não seja suficiente. Ele também precisará recuperar terreno entre os católicos, que hoje representam metade do eleitorado brasileiro. Para termos uma ideia, a vantagem de 23 pontos percentuais que Lula tem hoje sobre Bolsonaro entre os católicos na simulação de 2º turno equivale a mais de 1/3 de todo o eleitorado declarado evangélico. Para o presidente Bolsonaro, crescer apenas entre os evangélicos pode não ser suficiente.
O voto está cristalizado em Bolsonaro ou o PT ainda mostra sinais de recuperação na conquista do voto evangélico?
Em todas as nossas pesquisas avaliamos o voto por viés de religião. Em 2018, Bolsonaro teve uma votação maciça entre os evangélicos. Assim como Lula foi bem votado neste segmento nas eleições de 2002 e 2006. Agora, o eleitorado evangélico vinha mais dividido entre Lula e Bolsonaro. Nos últimos dois meses, esses eleitores passaram a migrar mais para Bolsonaro, mas Lula também não tem um desempenho tão ruim neste segmento. Até porque boa parte do eleitorado evangélico é de renda e escolaridade mais baixas. E, historicamente, este é um eleitor que sempre votou em Lula. Um exemplo são os beneficiários do Auxílio Brasil. Certamente muitos são evangélicos, mas metade deles votaria em Lula se o 1º turno fosse hoje, contra menos de 20% em Bolsonaro. A verdade é que o eleitor não define seu voto apenas por ser evangélico, mas também por outras características. E, nas eleições deste ano, a questão econômica terá muito peso, mais do que a chamado agenda de costumes. E um peso que, por enquanto, tem sido mais favorável a uma candidatura de oposição.
Além de Bolsonaro, quais candidatos tem uma boa aceitação no segmento evangélico?
Na verdade, hoje nenhum. No cenário com 12 pré-candidatos, Bolsonaro e Lula recebem juntos os votos de 77% dos eleitores evangélicos. O terceiro mais bem votado seria Ciro Gomes (PDT), com apenas 7%. O eleitor evangélico está tão polarizado entre Lula e Bolsonaro quanto os demais eleitores.
Quais os candidatos que mostram maior rejeição com o segmento? Há potencial de recuperação?
Aqui, temos um dado curioso. Bolsonaro é o único candidato, dentre os principais, que tem entre os evangélicos uma rejeição menor do que no total do eleitorado. Nesse público, o presidente é rejeitado por 40%, contra uma rejeição de 57% entre todos os eleitores. Lula tem rejeição média de 45%, mas uma taxa de maior, de 56%, entre os evangélicos. Ciro tem comportamento parecido, 49% na média e 56% de rejeição entre os evangélicos. João Dória (PSDB), que é o candidato mais rejeitado pelos brasileiros (63%), tem rejeição ainda mais forte entre o eleitorado evangélico (68%). Mas acho importante olharmos para o eleitorado que se declara católico. Como já disse, os católicos representam metade do eleitorado brasileiro. E, nessa fatia, Lula é rejeitado por 42%, enquanto 61% dizem que não votariam de jeito nenhum em Bolsonaro. Ou seja, além de buscar crescer mais no eleitorado evangélico, Bolsonaro vai precisar reduzir sua rejeição entre os católicos para aumentar suas chances de reeleição.
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