As urnas deste outubro trouxeram uma informação reveladora para o futuro da vida política brasileira: a polarização protagonizada por Lula e Bolsonaro se exauriu tanto em relação à própria ideologia quanto aos dois personagens. O DataSenado, órgão da Secretaria de Transparência do Senado Federal, depois de realizar mais de 20 mil entrevistas, já havia constatado que a maior parte do eleitorado brasileiro não se considera nem de esquerda nem de direita nem de centro. 40% não se identificam com nenhuma dessas bandeiras.
E se preocupam muito mais com questões rotineiras do que em levantar e defender bandeiras políticas. Curioso é que essa tendência vem se mantendo nesses patamares desde 2021, quando a média de brasileiros que se consideram isentos de qualquer ideologia política se mantém em torno dos 50 por cento. Só cresceu um pouco em 2022 (eleição Lula x Bolsonaro), quando a neutralidade caiu 17 pontos percentuais e o percentual dos que se identificaram com a direita subiu 10 pontos, enquanto o percentual dos que se diziam de esquerda cresceu 6 pontos. Já ali se percebia, pelo resultado apertadíssimo da eleição – Lula se elegeu com pouco mais de 2 milhões de votos de diferença sobre Bolsonaro – que a esquerda já não ostentava o fôlego forte lá da disputa de Lula contra Alkmin, quando abriu 28 milhões de votos de diferença.
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Na eleição de domingo, ficou claro que a direita, incluindo-se aí tanto a extrema quanto a centro-direita, saiu-se melhor na eleição. André Rosa, professor de Ciência Política na UDF, uma universidade particular de Brasília, chega a afirmar que “tudo indica que foi um resultado péssimo em relação ao Lula. É um perigo para o PT em 2026, a centro-direita vem muito mais forte”. Legendas de direita e centro-direita como o PL de Bolsonaro devem chegar fortalecidas em 2026.
Curioso é que diversos analistas concordam que foi muito reduzida a influência tanto de Lula quanto de Bolsonaro na eleição. Cá do meu canto, na condição de livre observador, insisto no que disse lá no início: os dois protagonistas da polarização, Lula e Bolsonaro, saem muito desgastados desta eleição. Pode-se dizer que os dois são os grandes derrotados do pleito. O eleitorado parece ter dado pouquíssima importância aos dois, resolvendo o voto muito mais em função das necessidades municipais e de seus problemas imediatos. Aliás, como deve mesmo ser.
A verdade é que os dois personagens parecem ter cansado o eleitorado. Já não conseguem galvanizar a atenção como no passado. Basta ver o drible que Pablo Marçal deu em Bolsonaro, ignorando solenemente o ex-presidente, de quem não se ouviu um apito nas ruas de São Paulo. Enquanto o PT de Lula, sem candidato na eleição, esboçou protocolarmente apoio a Boulos mas, na prática, não se engajou na campanha, largando o psolista ao deus-dará. E com essa postura que cheirou a arrogância, quase ajudou a entregar a rapadura para Marçal.
No-duro-no-duro, a informação mais importante que a urnas trouxeram foi a de que os discursos, as fórmulas e os métodos tradicionais de campanhas políticas se esgotaram. Daqui pra frente, mais e mais o protagonismo sai dos nichos da propaganda, digamos, formal, para se realizar nos canais digitais, cujo fenômeno mais exemplar é o do próprio Pablo Marçal.
A própria justiça eleitoral e as lideranças políticas de modo geral, independente da coloração ideológica, precisam definitivamente se conectar com o mundo digital, onde cada vez mais está se operando a discussão ideológica. Claro que o olho no olho ainda é essencial numa eleição. Daí a importância da presença in loco dos candidatos junto ao eleitorado. Mas sempre tendo em vista que tal presença só surte o efeito pretendido se for devidamente documentada e amplificada pelas redes sociais. Remar contra a corrente usando os métodos tradicionais como a sujeira dos santinhos e o barulho dos comícios, que pode até parecer um ato heroico, tornou-se suicídio político.
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