Patriazinha,
De novo peço humilde licença ao poetinha Vinicius de Moraes para me valer do seu serviço postal e, um ano depois, mandar-te de novo, presto, outro avigrama.
Há um ano, nós que te amamos precisamos te botar no colo, acarinhar-te. Como Vinicius fazia, tratar-te pelo diminutivo. Não para diminuir-te. Muito pelo contrário. Para demonstrar que por ti tínhamos o amor que faltava àqueles que te violavam, que te invadiam, que te agrediam, que te machucavam. Em nome sabe-se lá de que valores distorcidos e confusos guardados em suas mentes doentias. Faltosas justamente desse sentimento de amor, de carinho, por ti. Cheios de solenidade de “Pátria Amada”, mas incapazes do amor de fato de “Patriazinha”.
Aquele 8 de janeiro de 2023 foi o dia em que nós percebemos, como já sabia Vinicius, que nossa pátria não é “mãe”. É filha. E que nós é que precisamos ser gentis com ela. Naquele dia, como te escrevi naquele primeiro avigrama, vimos que precisávamos fazer como pais zelosos que se levantam de madrugada somente para checar se nossa patriazinha respira. Um ano depois, podemos dizer, felizes: “Sim! A nossa pátria, a nossa patriazinha, respira!”.
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Como nossos filhos e filhas, nossa patriazinha durante este ano após a violência sofrida, mostrou-se por vezes forte, por vezes frágil. Ali, cuidamos das suas dores. Ali, baixamos a sua febre.
E como se recupera e cresce linda a nossa patriazinha! Mais ainda, outra vez relembrando os versos do poetinha, “praia branca”. Mais ainda, “o grande rio secular, que bebe nuvem, come terra e urina mar”.
Na segunda-feira (8) no Congresso, enquanto os representantes dos três poderes da República faziam seus discursos (e importam pouco as ausências daqueles que não conseguem ter amor e carinho por sua patriazinha), no Salão Verde eram expostos os pedaços quebrados e rasgados dos seus lábaros e florões, depredados e violentados há um ano pela horda de bandidos.
Tolos! O poetinha já sabia há muito tempo. “A minha pátria não é florão, não ostenta lábaro, não”! Nem “auriverde” ela é. É pobrezinha “Sem sapatos, sem meias”. E é assim que precisa ser posta no colo e cuidada.
Mas não te preocupes, patriazinha. Nós, que te amamos, estaremos sempre por aqui, atentos. E sabendo também que tu cresces bem, fortalecida pelo nosso amor.
Desperta, patriazinha, do seu berço que não é assim tão esplêndido. Temos muito o que fazer.
Agora, então, novamente vou em busca da “amiga cotovia” para que “peça ao rouxinol do dia” para que ele peça ao sabiá que outra vez te “leve, presto, este avigrama”.
Patriazinha, de quem te ama, com a licença humildemente pedida a Vinicius de Moraes,
Rudolfo Lago.
Querido amigo Rudolfo,
Suas palavras me emocionaram, sujeito! Mas a ideia era essa mesma, né? Pois você conseguiu. Senti o mesmo quando, depois daquele dia da vergonha, fui à Câmara, onde passei dois terços desta vida e onde aprendi a amar e respeitar essa tal de democracia, e vi o estrago que os imbecis alucinados fizeram. E chorei na época, como choro agora. Mas sabendo que eles depredaram a casa, e não o seu espírito. Abraços, irmãozinho.