Percorrer a estrada com o olhar fixo no curto prazo é imprevidência. Viajar sem olhar adiante, ora perto, ora longe, ora os retrovisores, é imprevidência, é arriscar a se perder, se acidentar e não completar a jornada com sucesso.
Assim caminha o Brasil. Em boa parte dos três níveis de governo reina a imprevidência. No máximo, os dirigentes fixam-se nas próximas eleições, raramente nas consequências, para a população, dos processos sócio-econômicos-ambientais em curso. Minimizar essa imprevidência é muito mais importante que fazer uma, duas ou mais reformas da Previdência!
Em face dos custos crescentes dos impactos das mudanças climáticas – só nos EUA tais custos, apenas no corrente ano, já ultrapassam US$ 95 bilhões, muito mais que o tsunami dos precatórios no Brasil –, a União Europeia e os principais países do mundo colocaram a mitigação e a adaptação a tais mudanças no centro das suas políticas. Infelizmente, nem sempre tal centralidade se traduz em ações eficazes; aqui nestes tristes trópicos, nem mesmo tal discurso é feito!
Ao assumir, o presidente Biden determinou que todos os ministérios elaborassem planos de ação para enfrentar as mudanças do clima. Aqui, há silêncio quase total sobre o tema na esfera federal, já que a questão não agrada o (des)governante. Isso é imprevidência, que os ocupantes de cargos relevantes compartilham, com consequências danosas para a população. Há, pois, que minimizar a imprevidência. Os pretendentes ao cargo máximo da República já se manifestaram a respeito? Alguém ouviu algo?
Nos EUA, o Departamento de Energia tem como prioridade proteger suas instalações dos eventos climáticos extremos, liderar pelo exemplo os esforços federais para gerenciar os efeitos de curto e longo prazo das transformações do clima e, para horror dos liberais que acreditam que o Estado só atrapalha, “alavancar seu poder de compra, junto com outras agências federais, para promover inovações, identificar e reduzir riscos financeiros relacionados ao clima, aumentar a resiliência e ampliar o mercado para produtos manufaturados e serviços sustentáveis norte-americanos e promover empregos bem pagos no caminho para uma economia de energia limpa”!
Vale lembrar que a prioridade deveria ser minimizar o consumo de combustíveis fósseis mas, pelo menos, eles estão mirando além do ciclo eleitoral.
Enquanto isso, no Brasil o ministério coloca em leilão áreas supostamente petrolíferas em que o risco ambiental afasta licitantes; ou seja, nosso governante nem se deu conta das mudanças nas prioridades e riscos globais. Total imprevidência!
Voltando aos EUA, o Departamento de Educação diz que, para cumprir sua missão de promover a capacitação dos alunos preparando-os para a competividade global exige, ele deve “enfrentar as rápidas transformações do clima e seu impacto sobre os alunos, professores e infraestrutura, assim como suas implicações para o mundo do futuro no qual os EUA competirão”. Continuando, dizem que sua tarefa “inclui liderar em apoio ao educador, aos pais e a comunidades estudantis que sejam instruídas sobre o clima e preparadas para agir em apoio à mitigação e à adaptação, com ênfase particular em equidade”.
Como é óbvio, nem tudo que é bom para os EUA é bom para o Brasil. Há que reconhecer, porém, que lá, no mínimo, há um esforço para superar a imprevidência e preparar governo e população para as transformações que já ocorrem e tendem a se agravar.
Com menos recursos que eles, não seria fundamental que nós brasileiros abandonássemos a imprevidência? Aqui, rios e lagos estão secando, matas pegando fogo, cidades se expandindo por áreas de risco crescente, tudo isso implicando substancial elevação dos gastos públicos e degradação da qualidade de vida, no curto e longo prazo. Precisamos mirar o caminho adiante, ora perto, ora longe, e tomar as providências necessárias para trilhá-lo rumo a bom porto.
Algum dos pretensos candidatos a presidente da República expressa tal capacidade? Se não, então… tristes trópicos!
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