O suicídio é a segunda causa de mortalidade de jovens no mundo. Os dados são da Organização Mundial de Saúde (OMS). É um fenômeno universal, atemporal e com diversas concepções culturais e sociopolíticas.
Um estudo científico apresenta pesquisas sobre ideias e condutas suicidas entre adolescentes e jovens de Sandra Buitrago e Jaime Parra, publicados na revista de Pediatria de Madrid em 2018.
Traz informações de vários países, inclusive do Brasil. A ideação suicida oscila entre 10% e 35% e as tentativas, entre 5% e 15% da população pesquisada. Estima-se que a população global seja formada por 1 bilhão de jovens entre 15 e 25 anos.
Ou seja, uma em cada cinco pessoas no mundo são jovens. A ideação suicida é uma ideia de alguém que quer tirar a vida. É uma marca de vulnerabilidade. Fala sobre alguém que precisa de ajuda. Mas nem sempre sabe pedir.
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Não há um traço específico. Depende da pessoa, da população, do país. Tem causas multifatoriais: violência familiar, abuso sexual, abandono, desemprego, consumo de substância psicoativas.
Tem raízes históricas. Estar sem emprego aumenta a vulnerabilidade. Um estudo em Massachusetts, estado norte-americano, mostrou que um em cada dez estudantes consideraram seriamente o suicídio.
A depressão e o consumo de álcool e de substâncias psicoativas aumentam o risco.
A pesquisa mostrou que a ideação ou a tentativa de suicídio é mais frequente entre as mulheres e que o abuso sexual é um agravante a ser considerado. E que a consumação é mais comum entre os homens.
Não há uma solução, mas há saídas. E falar é uma delas, e, para isso, temos as redes sociais.
Uma publicação no Linkedin me chamou a atenção pois ela retravava as pessoas com problemas de saúde mental como inadequadas. Era um alerta, é óbvio, parte da campanha!
Quem estava estressado era nervosinho. Quem tinha depressão era fraco. Quem estava esgotado no trabalho era preguiçoso. Quem tinha ansiedade era maluquinho…. Esses rótulos, essa cultura do ciberbullying e de que somos todos super-heróis não ajuda em nada.
Setembro tá acabando, e a campanha do Setembro Amarelo mostra que a prevenção tem lugar e tem vez.
O Setembro Amarelo é a campanha de prevenção ao suicídio da Associação Brasileira de Psiquiatria e do Conselho Federal de Medicina.
As redes sociais são o lugar onde muita gente pode encontrar ajuda, por meio de informação, da possibilidade de escuta e das redes de apoio social, e eu não estou falando apenas da família e da escola. Estou falando sim da internet.
Ramon Neves é psicólogo do Centro Socioeducativo do Acre e trabalha com a temática de prevenção de suicídio desde 2020 em palestras nas escolas da rede pública no estado.
Ele explica que os sinais de quem está em profundo sofrimento podem ser percebidos nas redes sociais. A família deve ser avisada. Simples assim.
“A gente precisa usar as redes para disseminar informação com eficiência e qualidade, que são os pontos principais da comunicação. Comunicar onde procurar auxílio, Com quem procurar auxílio, ou mesmo aquela pessoa que identifica uma postagem de um amigo que está tendo uma ideação suicida e entrar em contato com familiares, para que a pessoa possa estar em alerta.”
A trágica morte da campeã olímpica Walewska Oliveira recentemente nos lembra que é preciso romper o silêncio e os tabus sobre o tema.
Sim, há alguns cuidados para tratar disso com seriedade.
Vamos a eles: para ajudar quem está na pior e pensa em tirar a vida, ouça essas orientações:
- Avise um familiar ou amigo se perceber uma mensagem com ideação suicida nas redes sociais;
- Não critique e não julgue para não ser criticado ou julgado;
- E, o principal, não exponha sua vida privada nem suas emoções na internet, você nunca sabe se receberá de volta empatia ou uma enxurrada de ofensas e discurso de ódio.
O psicólogo Ramon Neves explica por que a superexposição midiática na rede mundial de computadores não é uma boa.
“Lembrar que a internet, apesar dos benefícios, também tem seus malefícios, e que não devemos expor as nossas emoções o tempo todo, porque falar sobre emoções na internet requer cuidado. O que você coloca na internet está sujeito à toda tipa de opinião de outras pessoas, que muitas vezes a pessoa não tem manejo ou é carregada de preconceitos e achismos, inclusive questões ligadas ao suicídio. Se você estar passando por um momento de tristeza profunda, de depressão, não recomenda-se expor a vida na rede, mas que procure a ajuda de uma pessoa da sua confiança no particular ou de um profissional de saúde, que poderá te ouvir e fazer o encaminhamento devido.”
Ainda que seja um assunto delicado e difícil de tratar, pior é não falar, e aí a mídia tem a sua responsabilidade de prevenir, e não incentivar.
A verdade é que você nunca vai conseguir se colocar no lugar do outro o suficiente para entender o que se passa. Portanto, a pergunta não é “por quê?”, mas “como eu posso ajudar quem precisa de ajuda”, como explica o Ramon.
“A dor que o outro sente não é a mesma dor que eu sinto, porque eu tenho inúmeras vivências diferentes e eu nunca vou saber 100% como ele sente essa dor. Então, é isso que nós falamos sobre suicídio. É saber que para aquela pessoa dói, na intensidade que ela sente. E eu entendendo isso, é mais simples e mais fácil que, para mim, aquela dor pode não ser tão forte, mas para aquela pessoa é, e nele causa sofrimento.”
Eu queria terminar o programa com a fala poderosa da Ana Navarro, educadora social que ajuda pessoas em situação de extrema vulnerabilidade nos municípios nos arredores de Madrid, na Espanha.
O que a Ana mais ouve é: “eu não quero tirar a minha vida. Eu quero tirar o sofrimento da minha vida.”
E o convite da Ana Navarro é para que a sociedade se pergunte como fazer um mundo de maior bem-estar onde as pessoas se sintam bem”.
Compartilhem esse vídeo. A fala correta tem poder e salva vidas.
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