por João Carlos Normanha Ribeiro*
Existe um elo entre a cannabis e os seres humanos, e ele se chama sistema endocanabinoide (SEC). Os primeiros estudos que investigaram a composição química da planta da cannabis resultaram no isolamento de substâncias chamadas de fitocanabinoides, com os representantes mais conhecidos canabidiol (CBD) e o tetrahidrocanabinol (THC).
Décadas mais tarde, anunciaram a descoberta do sistema endocanabinoide, que revolucionou nossa compreensão sobre a fisiologia do corpo humano e o seu papel na saúde como um todo, estando totalmente ou, parcialmente, envolvido na gênese de inúmeros distúrbios e condições consideradas enigmáticas pela medicina.
Esse sistema complexo, composto por receptores endocanabinoides e enzimas, desempenha um papel crucial na regulação de diversas funções fisiológicas, incluindo o sistema imunológico, o sistema nervoso central, o metabolismo e a resposta à dor.
Na teoria mais aceita no momento, descrita pelo neurocientista americano PhD Ethan Russo, ele sugere que todos nós possuímos um tônus canabinoide, e que alterações nos níveis circulantes desses compostos poderiam estar causando ou, pelo menos, envolvidos no surgimento de sintomas e doenças refratárias aos tratamentos convencionais.
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A importância do sistema endocanabinoide não pode ser subestimada. É um sistema químico, à base de compostos lipossolúveis derivados do ciclo do ácido araquidônico, e atua como um regulador-chave do equilíbrio interno do corpo, mantendo a homeostase (equilíbrio corporal) e assegurando que os sistemas biológicos funcionem em harmonia.
O entendimento desse sistema tem inspirado pesquisas de ponta que exploram a relação entre a cannabis e diversas condições médicas, como dor crônica, epilepsia, ansiedade, depressão, esclerose múltipla, bem-estar, longevidade e muitas outras.
A ciência também tem sido fundamental para desmitificar os mitos e estigmas que se arrastam por décadas. A pesquisa rigorosa tem ajudado a separar o uso médico e regular da planta do uso inadequado e nocivo, permitindo uma discussão mais informada e fundamentada sobre as propriedades terapêuticas da planta.
Além disso, a ciência tem contribuído para identificar doses seguras e eficazes, minimizando riscos potenciais associados ao seu consumo. A tecnologia desempenha um papel vital na produção de produtos à base de Cannabis.
A extração avançada de canabinoides e a formulação precisa têm permitido a criação de produtos farmacêuticos padronizados e personalizados. Dosagens precisas e métodos de administração inovadores, como óleos, cápsulas e vaporizadores, têm facilitado a administração controlada e conveniente para os pacientes, maximizando os benefícios terapêuticos.
O descobrimento dos canabinoides tiveram um impacto notável na saúde pública. Milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de condições debilitantes que podem ser tratadas ou aliviadas com produtos e medicamentos deste segmento.
A legalização controlada e regulamentada tem proporcionado acesso à novas alternativas para esses pacientes, reduzindo a dependência de medicamentos tradicionais e abrindo um leque de possibilidades terapêuticas.
Além disso, a crescente indústria da cannabis tem impulsionado a economia gerando empregos, investimentos e oportunidades de pesquisa. A colaboração entre cientistas, médicos, empresas e reguladores tem criado um ambiente propício para a inovação contínua e a expansão do conhecimento.
Em breve, não haverá espaço para os profissionais de saúde que não se adaptarem a essa nova realidade e – principalmente – para aqueles que não se atualizarem a respeito dessa nova descoberta na área das ciências da saúde.
Nosso objetivo com organização do I Simpósio de Inovação em Cannabis Medicinal, na capital do país, é tentar reverter essa falta de conhecimento, levando informação de qualidade sempre pautada na medicina baseada em evidências.
* Dr. João Carlos Normanha Ribeiro é médico graduado pela Faculdade de Medicina de Campos (RJ) com pós-graduação em Medicina Intensiva. É diretor médico da Associação CurandoIvo, diretor-geral do Instituto de Medicina Orgânica GO (IMO), membro efetivo da “International Cannabinoid Research Society” (ICRS/EUA), membro efetivo da Sociedade Brasileira do Estudo sobre a Cannabis (SBEC) e conselheiro científico da Sociedade Brasileira de Nutrição Endocanabinoide (SBNE).
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