Você já ouviu falar de Erica Chenoweth? Trata-se de uma professora de Ciências Políticas da Universidade de Harvard, nos EUA. Após analisar centenas de protestos populares acontecidos no último século ela descobriu que manifestações pacíficas têm duas vezes mais chances de atingir seus objetivos do que as campanhas violentas. Da mesma pesquisa veio a constatação de que basta a participação ativa de 3,5% da população nos protestos para que mudanças profundas comecem a acontecer.
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Do que precisa a população para que movimentos saudáveis aconteçam? O primeiro e mais importante requisito atende pelo nome de “informação”. Eis aí o ponto de partida para a correta formação de qualquer entendimento.
Está aí, sem retoques, a demonstração do quão valiosa é a Internet! Amplamente acessível e de uso simples, tem permitido à humanidade, pela primeira vez na história, compartilhar opiniões, conhecimento e, principalmente, notícias.
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Veja, em cada pequeno jornal virtual ou “jornalista informal” desta fascinante rede, uma contribuição para saciar a maior necessidade da humanidade, qual a de poder contar com uma imprensa livre.
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PublicidadeDaí não ter ficado surpreso com notícia publicada recentemente na respeitada “Economist” no sentido de que a liberdade de expressão começa a sofrer sérios ataques pelo planeta afora – Incitatus reage!
Constatou-se, em alguns casos, o desligar da Internet de países inteiros. Jornalistas tem sido presos e torturados ou mortos impunemente. Veículos estão sendo fechados à força ou por conta de ações mais sutis do denominado “mundo das leis”. Aqui e ali começam a surgir as costumeiras normas buscando disciplinar o fluxo de informações – nome moderno dado à velha censura.
Os defensores destas práticas argumentam que pessoas mal-intencionadas estão utilizando as facilidades da tecnologia para propagar inverdades. Vá lá que seja. Mas não é o que diversos Estados e as estruturas que os amparam fazem há séculos, sem controle algum? A única diferença é que agora democratizou-se o uso destas ferramentas,
Fico, em momento tão crucial da caminhada do ser humano, a recordar Thomas Jefferson, segundo quem “onde a imprensa é livre e todo homem é capaz de ler, tudo está salvo”. E a contemplar a Internet sendo punida não por conta de suas faltas, mas de suas virtudes.
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Muito bom, a meu ver… E manifestações pacíficas podem ter atos de violência… É importante diferenciar isso de campanhas violentas… Atos de violência podem ter diversas origens e não podem ser usados para desqualificar movimentos… Muito bom… Mas a censura, o controle não estão só na web… Outra grande disputa envolve nossas escolas, justo lá onde profissionais preparados, com formação universitária, podem acompanhar os jovens e conversar com eles, educá-los para convivência respeitosa… Sempre me lembro da argumentação de que escolas confessionais devem ter direito reconhecido de ensinar suas doutrinas… o que se complementa com os mesmos grupos, da argumentação anterior, defendendo, no debate sobre escolas públicas estatais, que mencionar, afirmar a diversidade da sexualidade humana, de orientações e de identidade de gênero, deve ser proibido nessas escolas públicas estatais, porque isso estaria em desacordo com a maioria cristã da sociedade brasileira… Mas tudo vai mais longe… em 2019, Crivella procurou censurar Bienal do Livro no Rio… Lembro de programas e comerciais de televisão, alvos de campanhas de boicote, tentativas de censura… Nestes termos, o que restaria de possibilidade de diferenças, diversidade… o que restaria de um Estado laico? Nas falas de líderes religiosos… obras de arte, livros didáticos, programas de televisão atacam, ofendem… mas o que vejo é a manifestação de diferenças… Se um religioso é ofendido por um beijo entre pessoas do mesmo sexo, por que uma pessoa com outra crença não se sentiria ofendida, atacada, pela manifestação religiosa do primeiro? Há uma disputa política, travada no modo como são construídas as argumentações, como são escolhidos os termos… Não é diferente do debate sobre a web e sobre o direito à cidade… Quem pode controlar a manifestação do outro, o que o outro pode ver? Isto é o que falta encarar no debate político…