Em discurso na Cúpula do Novo Pacto de Financiamento Global, em Paris, na França, nesta sexta-feira (23), o presidente Lula defendeu que não há como discutir preservação ambiental sem também abordar a desigualdade mundial. E cobrou maior contribuição dos países ricos para a resolução desse tipo de problema, citando a desigualdade salarial, de raça e de gênero.
“Nós estamos em um mundo cada vez mais desigual e cada vez mais a riqueza está concentrada nas mãos de menos gente e a pobreza concentrada na mão de mais gente. Se nós não discutirmos essa questão da desigualdade e se a gente não colocar isso com tanta prioridade quanto a questão climática, a gente pode ter um clima muito bom e o povo continuar morrendo de fome em vários países do mundo. Não é só na África não. É na América Latina, é no Brasil”, acrescentou.
O presidente brasileiro lamentou que o Brasil tenha vivido retrocesso nos últimos anos no combate à desigualdade e tenha voltado ao “mapa da fome”. “Quando fui presidente do Brasil de 2003 a 2010 e a presidente Dilma de 2010 a 2016, a ONU reconheceu que o Brasil tinha saído do mapa da fome. Naquela época a gente tinha feito com que 36 milhões de pessoas saíssem da miséria absoluta e 40 milhões ascendessem a um poder de compra de classe média. 13 anos depois eu volto à presidência e outra vez 33 milhões de pessoas estão em situação de fome”, disse.
A Cúpula para um Novo Pacto Financeiro Global é organizada pelo presidente da França, Emmanuel Macron, em Paris. A cúpula pretende repensar a estrutura do sistema financeiro global, visando reduzir desigualdades, combater as mudanças climáticas e proteger a diversidade.
Ao lado de Macron, Lula também criticou os termos do acordo União Europeia-Mercosul. As medidas, em caso de descumprimento das obrigações, são consideradas duras pelo governo brasileiro.
“Eu estou doido para fazer um acordo com a União Europeia. Mas não é possível, a carta adicional que foi feita pela União Europeia não permite que se faça um acordo. Nós vamos fazer a resposta, e vamos mandar a resposta, mas é preciso que a gente comece a discutir. Não é possível que nós temos uma parceira estratégica, e haja uma carta adicional que faça ameaça a um parceiro estratégico”, afirmou o presidente.
A agenda de Lula na capital francesa nesta sexta-feira inclui reunião com Jean-Luc Mélenchon, líder do partido de esquerda radical França Insubmissa, almoço com Macron no Palácio do Eliseu e reunião com o presidente do Naval Group, Pierre-Eric Pommellet.
Lula ainda será recebido pela prefeita de Paris, Anne Hidalgo, e terá uma reunião bilateral com o presidente da República do Congo, Denis Sassou-Nguesso. O último compromisso do presidente será um jantar oferecido pelo príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, um dos poucos líderes estrangeiros a ter mantido relações estreitas com o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Na noite dessa quinta-feira, Lula discursou para uma multidão no festival Power Our Planet, na praça Campo de Marte, em frente à Torre Eiffel, a convite da banda britânica Coldplay. O discurso de Lula foi centrado nas questões ambientais. O presidente cobrou que os países ricos assumam sua responsabilidade pela preservação do meio ambiente em todo o planeta.
“Não foi o povo africano que poluiu o mundo. Não é o povo latino americano que polui o mundo. Na verdade, quem poluiu o planeta nestes últimos 200 anos foram aqueles que fizeram a revolução industrial e, por isso, têm que pagar a dívida histórica que têm com o planeta Terra”, afirmou o petista, enquanto era traduzido em inglês e aplaudido pelo público presente. “E que possam compartilhar com o povo brasileiro da preservação das nossas florestas e responsabilizar os países ricos para financiar os países em desenvolvimento que têm reservas florestais, porque não foi o povo africano que polui o mundo, não é o povo latino-americano que polui o mundo”, acrescentou.
Lula destacou que Belém será a sede da Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU) em 2025, a COP 30, e fez um convite para que os estrangeiros participem do evento e conheçam de perto a realidade brasileira. “Iremos fazer a COP 30 num estado da Amazônia para que todos vocês tenham a oportunidade de conhecer de perto o ecossistema da Amazônia, a riqueza da biodiversidade, a riqueza dos nossos rios”, afirmou.
O “Power Our Planet” é um festival organizado pelo “Global Citizen”, um movimento dedicado a tomar ações contra a extrema pobreza. Entre os artistas que se apresentam estão a cantora Billie Eilish e Lenny Kravitz.
Discurso que fiz hoje em Paris no #PowerOurPlanet. A Terra é nossa única casa. Juntos devemos trabalhar por um futuro melhor. pic.twitter.com/SaYp1xn2Jr
— Lula (@LulaOficial) June 22, 2023
Deixe um comentário