Um dia depois do veto do Senado à indicação do embaixador Fábio Mendes Marzano para exercer o cargo de Delegado Permanente do Brasil junto a uma missão da ONU em Genebra, integrantes do Itamaraty saíram em defesa do colega e viram na ação dos senadores um recado ao ministro Ernesto Araújo, das Relações Exteriores.
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Uma das principais reações nesta quarta-feira (16) foi uma nota emitida pela Associação dos Diplomatas Brasileiros, entidade da qual Marzano é vice-presidente. O texto foi assinado pela embaixadora Maria Celina de Azevedo Rodrigues, presidente da instituição que reúne 1,6 mil diplomatas. Em tom cordial, a nota defende o embaixador e sua postura na Comissão de Relações Exteriores do Senado.
“Ao manifestar seu total e irrestrito apoio ao Secretário de Assuntos de Soberania e Cidadania (SASC) do Ministério das Relações Exteriores (MRE), Embaixador Fábio Mendes Marzano, a ADB/Sindical sublinha o gesto de cuidado e profissionalismo do Embaixador que não quis desrespeitar os senadores presentes à sabatina e ignorar a tradição diplomática brasileira. Teria negligenciado ambos, caso respondesse a temas não pertinentes à sua atual e futura competência“, diz trecho da nota.
Na visão de Maria Celina, o que aconteceu foi “lamentável” e pode ter derivado de um problema de comunicação.
“É tradicional a gente não ficar falando de áreas que não são de nossa competência, não porque não as conheçamos, mas para não entrar na seara alheia, inclusive até por respeito aos setores”, afirmou.
Outras fontes ligadas ao Itamaraty consultadas pela reportagem veem no ato do Senado uma expressão da insatisfação da Casa com o chanceler Ernesto Araújo.
“Ficou a impressão de que houve um recado que queria ser dado e o embaixador se encontrou no meio do fogo cruzado”, disse uma das fontes.
A insatisfação ficou clara no discurso do senador Major Olímpio (PSL-SP), que subiu à tribuna antes da votação para pedir o veto ao nome de Marzano.
“Eu quero dizer agora para o Brasil: se o Senado votar com esse cara – é cara! – nós estamos negando a nossa própria existência e o nosso respeito a cada um de nós. [..] Vir aqui dizer o que foi dito, de forma grotesca, dizendo que é do time do chanceler, pro inferno o chanceler! Respeito aos senadores!”, disse.
Fonte ouvida pela reportagem lamenta a decisão do Senado porque aponta que Marzano seria um nome que teria capacidade de moderar as decisões brasileiras em Genebra a respeito de temas sensíveis para os direitos humanos.
Leia a íntegra da nota da ABD
A Associação dos Diplomatas brasileiros ADB/Sindical e os seus 1600 integrantes tomaram conhecimento ao final da tarde de ontem (15) da rejeição, por parte do Senado Federal, da indicação do Embaixador Fabio Mendes Marzano para ocupar o cargo de Representante Permanente da Missão do Brasil junto à Organização das Nações Unidas (ONU), em Genebra.
Ao reconhecer e respeitar a soberania e o empenho do Senado Federal na realização das sabatinas, por um dever de justiça, a ADB Sindical não pode, na mesma medida, se furtar a destacar a relevância da atuação do diplomata Fábio Marzano para a carreira diplomática brasileira e, consequentemente, para o Brasil.
Ao manifestar seu total e irrestrito apoio ao Secretário de Assuntos de Soberania e Cidadania (SASC) do Ministério das Relações Exteriores (MRE), Embaixador Fábio Mendes Marzano, a ADB/Sindical sublinha o gesto de cuidado e profissionalismo do Embaixador que não quis desrespeitar os senadores presentes à sabatina e ignorar a tradição diplomática brasileira. Teria negligenciado ambos, caso respondesse a temas não pertinentes à sua atual e futura competência. No MRE as designações de Embaixadores para representações no exterior respeitam delimitações funcionais e hierárquicas. Um diplomata opina e se manifesta sobre os temas sobre os quais tem responsabilidade, na qualidade de representante, negociador e profissional capacitado para colher e difundir informações da mais alta qualidade. É nesse espírito que – durante os meses que precedem as sabatinas – os embaixadores estudam com muito afinco as matérias de que se ocuparão no exterior. É com essa deferência que se apresentam diante dos integrantes da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, do Senado Federal.
Lamentamos que os senadores não tenham tido a oportunidade de conhecer melhor o diplomata, cuja indicação recusaram. O Embaixador Marzano destacou-se, recentemente, na criação e coordenação do Gabinete Consular de Crise (G-CON), responsável por todo o exaustivo processo de assistência e repatriação a brasileiros moradores e viajantes afetados pela pandemia do novo coronavírus no exterior. Mais de 40 mil nacionais foram repatriados com a decisiva atuação de Marzano na Secretaria de Assuntos de Soberania Nacional e Cidadania do Itamaraty. Sua exitosa atuação foi o resultado de longa experiência adquirida em 32 anos de carreira, nas Embaixadas do Brasil em Madri, Lima, Caracas, Washington, na Delegação do Brasil junto à Unesco e nas chefias de cargos estratégicos que ocupou em Brasília.
Na condição de entidade representativa da classe, a ADB/Sindical reafirma a alta relevância das atividades da diplomacia brasileira e reitera a crença na busca constante pelo diálogo e pela reafirmação dos valores das democracias contemporâneas compartilhados com o Senado Federal.
Embaixadora Maria Celina de Azevedo Rodrigues
Presidente
Neste caso, embora alguns diplomatas tenham defendido as qualificações e a indicação do sr. Marzano, o Senado na verdade vetou a pessoa que o indicou, que no caso foi o sr. Ernesto Araujo. Que azar, sr. Marzano!
O Senado fez um gesto refrescante tirando o automatismo da aprovação nasabatina