A brutalidade e os impactos diplomáticos e econômicos deixados pelo conflito entre Rússia e Ucrânia sobre a comunidade internacional têm levado os demais países atingidos pela crise a cogitarem maneiras de ajudar na pacificação. Diversos atores já se apresentam como possíveis mediadores, mas especialistas apontam que a saída para a guerra certamente virá da China.
É o que preveem os professores de relações internacionais Ricardo Caichiolo, do Ibmec, e Bárbara Motta, da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Segundo os dois especialistas, a China é o ator que mais se beneficiaria da possibilidade de mediação do conflito, uma vez que o sucesso nessa negociação permitiria atingir tanto seus objetivos diplomáticos quanto comerciais de longo prazo.
Bárbara Motta explica que, pela via diplomática, o sucesso na mediação permitiria à China moldar um novo espaço dentro da dinâmica mundial de relações internacionais. “Ao se apresentar como um parceiro que contribui para a ordem internacional, para a estabilização e para a resolução das questões de segurança, a China pode construir uma nova imagem. Também lembrando que a imagem dos chineses foi muito prejudicada com a pandemia”, apontou.
Pela via econômica, a China já depende da paz entre Rússia e Ucrânia para dar continuidade à iniciativa Cinturão em Rota, um de seus principais projetos comerciais. “Essa iniciativa se vale muito da infraestrutura da Rússia para estabelecer conexões de escoamento de sua produção com a Europa. Para a China, ter um país da rota em estado beligerante pode comprometer a conclusão do projeto, que é a sua principal iniciativa de desenvolvimento econômico nos últimos tempos”, explica a especialista.
Demais atores
Outro país que apresenta interesse em mediar o conflito é Israel, que já conversa com os dois lados procurando se retratar como um possível agente pacificador. Cachiolo explica que, apesar de receber acenos de uma possível aprovação da proposta, a reputação de Israel dentro da comunidade internacional pode se tornar um obstáculo na mesa de negociação.
“Israel tem uma proximidade muito grande com os Estados Unidos, e inclusive conta com apoio incondicional americano na sua região. A Rússia pode acabar não entendendo isso como um ponto positivo. Há uma predisposição, mas não há uma certeza de que as duas partes deverão aceitar”, afirmou.
Um terceiro ator também se apresenta como interessado em intermediar as negociações entre a Rússia e a Ucrânia: Recep Tayyip Erdoğan, presidente da Turquia. Mas enquanto Israel é conhecido como um forte aliado dos Estados Unidos, a Turquia possui laços estreitos com a Rússia.
“Os dois países compartilham um laço cultural muito forte. Além disso, os presidentes Vladimir Putin e Recep Erdoğan têm laços políticos bastante substantivos. Outro ponto interessante é que a Turquia lida com dinâmicas muito parecidas com a Rússia por estar no meio do caminho entre Ásia e Europa”, esclarece Bárbara Motta.
Apesar da vantagem chinesa no laço de proximidades, nenhum dos dois especialistas descartam a possibilidade de uma mediação turca ou israelense, ou mesmo a chance dos três países atuarem juntos na questão. Enquanto isso, a Ucrânia e Rússia seguem negociando por conta própria, com uma nova rodada de negociações prevista para esta terça-feira (15).
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