A nova escalada de tensão entre dois grandes parceiros comerciais do Brasil, Rússia e Ucrânia, começa a atrair os olhos dos parlamentares. Para o primeiro vice-presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, deputado Rubens Bueno (Cidadania-PR), cabe ao Brasil se posicionar em favor da Ucrânia. No seu entendimento, os interesses ucranianos no conflito são os mais compatíveis com os preceitos da Constituição brasileira.
Para Rubens Bueno, a intervenção russa em uma questão interna ucraniana representa uma “tentativa, com mão de ferro, de manter a Ucrânia dentro de um único sistema, como se fosse a antiga União Soviética”. O deputado considera que o interesse russo na região é de natureza econômica. “É um país muito rico, especialmente na produção de carvão, gás natural, ureia e demais insumos para a agricultura. E a Rússia quer, há muitos anos, manter isso em seus braços”, apontou.
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O parlamentar considera que, diante do quadro que se formou na região, o apoio brasileiro à Ucrânia seria a postura de maior compatibilidade com o texto constitucional. “De acordo com a Constituição, cabe ao Brasil se posicionar pela autodeterminação dos povos e defesa da paz em todos aqueles povos que tenham a sua independência já formalizada”.
Além da questão constitucional, o deputado aponta para o fato do Brasil possuir vastas colônias de ucranianos, que se estabeleceram no Paraná no final do século XIX e início do século XX. “Temos uma colônia de mais de meio milhão de ucranianos no Brasil. É uma população enorme. Acho que nós temos, portanto, que nos posicionar em favor da Ucrânia e evitar uma nova invasão” defendeu.
Institucionalmente, o Ministério das Relações Exteriores não manifestou sua posição sobre o conflito. Já no poder legislativo, a posição só poderá ser definida após a eleição para a presidência da Comissão de Relações Exteriores, que se dará no início de fevereiro.
Apesar do interesse constitucional, o Brasil possui ainda laços diplomáticos fortes com a Rússia, país que também integra o bloco do Brics. O deputado considera que não há risco de comprometimento desse laço caso o Brasil se posicione. “Em situações como essa, temos de fazer o uso da diplomacia brasileira, que é reconhecidamente uma das mais respeitadas do mundo”, apontou.
A tensão diplomática entre os dois países é parte de um conflito que ocorre desde 2014, quando o até então presidente ucraniano pró-Rússia Viktor Yanukovytch foi deposto pela população da capital, por romper as negociações para a entrada do país na União Europeia. Em resposta, os russos financiaram movimentos separatistas no leste do país, e anexaram a península da Crimeia, região portuária de maioria russa.
Entenda o conflito
A tensão no extremo leste europeu dura desde 2014. Neste ano, a Ucrânia rompeu relações com a Rússia e retomou as negociações com a União Europeia para se juntar ao bloco. O novo alinhamento diplomático do país gerou revolta na população dos estados ao leste, de maioria russa, que se levantaram contra o governo central em uma guerra separatista.
Na Crimeia, a situação foi um passo adiante: em um plebiscito organizado por Moscou, a população votou por tornar a região como parte da Rússia, que governa a península desde então. A Organização das Nações Unidas não reconhece o plebiscito e nem a anexação, e considera a região como um território ucraniano ocupado pelo governo russo.
O conflito começou a esfriar a partir de 2016, quando representantes dos dois lados iniciaram negociações por um cessar-fogo que nunca foi totalmente alcançado. Ao final de 2021, com o início das negociações para a entrada da Ucrânia na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), as tensões voltaram a se elevar. Os dois países acusam o lado oposto de militarizar as fronteiras, e a Ucrânia já começa a receber apoio internacional na nova escalada enquanto a Rússia ameaça intervir diretamente na região.
A Rússia alega estar tentando proteger os interesses das minorias russas no leste da Ucrânia, cujos votos teriam sido anulados com a deposição do presidente pró-Rússia Viktor Yanukovytch em 2014. Já os ucranianos afirmam que Yanukovytch estava ilegalmente no poder, e que não cabe a Moscou intervir em questões internas ucranianas.
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