A visita do presidente Xi Jinping ao Brasil, com a promessa de aprofundar a parceria estratégica entre os dois países, representa um marco na política externa brasileira. A perspectiva de integração mais ampla entre as cadeias produtivas de Brasil e China é, sem dúvida, salutar. Contudo, ao discutir a relação bilateral, é fundamental reconhecer o papel central da exportação de minério de ferro como eixo estruturante não apenas do comércio exterior, mas também da logística nacional e da base para outras exportações.
O minério de ferro é um dos pilares do relacionamento econômico entre Brasil e China. Em 2023, mais de 60% do minério brasileiro exportado teve como destino o mercado chinês, o que coloca o Brasil como um fornecedor estratégico na cadeia global de produção de aço. Essa exportação, longe de se limitar à entrega de uma commodity, movimenta uma complexa engrenagem logística que gera empregos, fomenta o desenvolvimento regional e potencializa a competitividade de outros setores exportadores.
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A exportação de minério de ferro do Brasil envolve uma estrutura logística que é uma das mais robustas do mundo. Os processos começam na exploração e no beneficiamento do minério em regiões como o Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais, e o Carajás, no Pará. Essas regiões são conectadas aos portos brasileiros por sistemas de transportes que figuram entre os mais eficientes do planeta, como a Estrada de Ferro Carajás (EFC) e a Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM).
Esses sistemas ferroviários não apenas transportam o minério, mas também impulsionam o desenvolvimento econômico nas regiões que atravessam. Eles geram oportunidades de trabalho, fomentam serviços associados e permitem a diversificação logística para outros produtos, como grãos e produtos industrializados. Nos portos, como o de Itaqui e o Porto de Tubarão, o escoamento do minério é realizado por sistemas de carregamento de alta tecnologia, que tornam o Brasil um exemplo de eficiência portuária.
A infraestrutura criada para o minério de ferro tem potencial para beneficiar outros setores. A capacidade instalada de transporte ferroviário e portuário, por exemplo, pode ser compartilhada com exportadores de outros bens. Além disso, a expertise logística acumulada em décadas de operação confere ao Brasil uma vantagem competitiva que pode ser transferida para outros mercados. Ao invés de subestimar o papel da exportação de minério, é estratégico utilizá-la como um modelo de sucesso que pode ser replicado e ampliado.
O papel do minério também vai além da logística. Ele é um elemento essencial na negociação de parcerias tecnológicas e na atração de investimentos. A China, maior produtora de aço do mundo, demanda a matéria-prima brasileira, o que fortalece nossa posição como parceiro estratégico. Ao agregar valor ao minério e explorar tecnologias associadas, podemos avançar na criação de produtos manufaturados em parceria com os chineses.
Portanto, a narrativa de que o Brasil deve “deixar de ser um mero exportador de minério de ferro” desconsidera o impacto profundo que essa atividade tem na economia nacional. A exportação de minério não é um fim em si mesma, mas um motor para o desenvolvimento. O desafio, então, não é reduzir a importância do minério, mas transformá-lo em alavanca para novos horizontes econômicos.
Nesse sentido, a relação Brasil-China tem o potencial de se tornar um modelo de parceria sustentável. Ao mesmo tempo em que continuamos a ser um fornecedor confiável de minério, podemos usar essa base para construir uma integração industrial que gere transferência de tecnologia, diversificação econômica e crescimento mútuo.
O minério de ferro deve deixar de ser visto como uma “commodity sem valor agregado”, pois é o alicerce de uma cadeia complexa que já trouxe benefícios imensuráveis ao Brasil e que pode servir de trampolim para um futuro ainda mais promissor.
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