Doze dias depois dos atos golpistas do 8 de Janeiro, a Polícia Federal (PF) deu início à primeira fase da operação Lesa Pátria. De lá para cá, foram 22 fases realizadas em quase um ano desde que a medida foi adotada.
No período, ao menos 117 pessoas foram alvo de prisão temporária ou preventiva para investigar suas possíveis participações na incitação ou no financiamento da tentativa de golpe de Estado realizada por bolsonaristas com a invasão das sedes dos Três Poderes, em Brasília.
A operação tem caráter permanente, ou seja, não tem uma data para terminar. As fases são realizadas de acordo com as investigações. Os principais crimes investigados são:
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- abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
- golpe de Estado;
- dano qualificado;
- associação criminosa;
- incitação ao crime; e
- destruição e deterioração ou inutilização de bem especialmente protegido.
Durante suas diferentes fases, a Lesa Pátria teve como alvo pessoas que ficaram conhecidas pela sua participação ou ligação com o 8 de Janeiro. Entre elas:
Léo Índio, sobrinho de Bolsonaro
Leonardo Rodrigues de Jesus, conhecido como Léo Índio, foi alvo de duas fases da operação Lesa Pátria, da PF. A primeira vez foi logo depois dos atos golpistas, em 27 de janeiro. A segunda foi em outubro de 2023. Das duas vezes para busca e apreensão.
Léo é primo de Eduardo, Carlos e Flávio Bolsonaro e sobrinho de Rogéria Nantes Bolsonaro, primeira esposa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Durante os atos golpistas do dia 8 de janeiro, Léo Índio publicou no Instagram uma foto em que aparece na entrada do Congresso, com os olhos vermelhos depois de ter sido repreendido por policiais.
“Focarão no vandalismo certamente. Mas sabemos a verdade. Olhos vermelhos = gás lacrimogêneo”, publicou.
Amauri Ribeiro, deputado estadual
Na 15ª fase da operação Lesa Pátria um dos alvos foi o deputado estadual Amauri Ribeiro (União Brasil-GO). O congressista goiano afirmou durante discurso na Assembleia Legislativa de Goiás que ajudou as pessoas que estavam acampadas no Quartel General do Exército pedindo uma intervenção militar no Brasil.
“Eu também deveria estar preso. […] Eu ajudei a bancar quem estava lá. Pode me prender, eu sou um bandido, eu sou um terrorista, sou um canalha, na visão de vocês. Eu ajudei. Eu levei comida, eu levei água, eu dei dinheiro. Eu acampei lá e também fiquei na porta, porque sou patriota”, disse Ribeiro em junho de 2023.
Sua fala ganhou repercussão nacional. Com isso, o deputado voltou atrás e disse que a declaração foi descontextualizada. Ribeiro pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para não ser preso. O deputado estadual foi alvo de busca e apreensão pela PF.
Fátima de Tubarão
Uma das pessoas que chamaram a atenção do país ao ser filmada em meio a depredação das sedes dos Três Poderes é Maria de Fátima Mendonça, mais conhecida como “Fátima de Tubarão”. A mulher idosa foi presa em 27 de janeiro pela PF por sua participação nos atos do 8 de Janeiro.
Em um dos vídeos divulgados pelos golpistas, ela aparece dizendo que iria “pegar” o ministro Alexandre de Moraes, do STF: “Vamos para a guerra, vou pegar o Xandão agora!”.
Homem que destruiu relógio no Planalto
Uma das primeiras prisões que chamaram a atenção da população foi a de Antônio Cláudio Alves Ferreira. Sua prisão foi realizada em 24 de janeiro pela PF.
O homem de 30 anos foi filmado pelas câmeras do Palácio do Planalto depredando um relógio histórico durante os atos golpistas. Vestido com uma camiseta preta estampada com o rosto do ex-presidente Jair Bolsonaro , Antônio quebrou e jogou no chão o relógio Balthazar Martinot, um relógio do século 17 que chegou ao Brasil pelo imperador Dom João VI em 1808. Ele retirou os ponteiros e uma estátua de Netuno, que era fixada à obra de arte.
Depois de depredar o relógio, o criminoso destruiu a câmera do circuito interno na tentativa de encobrir o crime.
Mulher que pichou “perdeu, mané” na estátua “A Justiça”
Em março, em mais uma fase da operação Lesa Pátria, a PF prendeu a mulher flagrada em fotos pichando a escultura “A Justiça”, localizada na frente do STF, com a frase “perdeu, mané”.
A mulher foi fotografada em cima da estátua, no local onde a pichação foi vista. Em outro registro, ela aparece exibindo as mãos sujas de tinta e sorrindo. A frase pichada foi uma referência ao ministro do STF Luís Roberto Barroso, que a proferiu ao ser abordado por um bolsonarista em Nova York.
A escultura foi feita pelo artista brasileiro Alfredo Ceschiatti, em 1961. O STF fez a limpeza da estátua, que faz parte da fachada do prédio da Suprema Corte.
Coronel Jorge Eduardo Naime
Quase um mês depois dos atos golpistas do 8 de Janeiro, a PF prendeu o coronel Jorge Eduardo Naime Barreto. Naime era o chefe do Departamento Operacional da Polícia Militar do DF durante a tentativa de golpe de Estado. O coronel foi demitido do cargo durante a intervenção federal.
Naime era encarregado de, no dia da manifestação, estabelecer as diretrizes e as condições para que a PMDF pudesse acompanhar o ato bolsonarista e deter eventuais violações. O departamento era responsável por definir quantos policiais acompanhariam os manifestantes, entre outras diretrizes.
O coronel foi um dos depoentes da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Atos Golpistas do Congresso Nacional. Na época, em junho, Naime disse que estava há cinco meses preso sem saber o porquê. O coronel ganhou o apoio de congressistas bolsonaristas.
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