A cúpula do governo Jair Bolsonaro (PL) envolvida na suposta tentativa de golpe de Estado discutiu agir contra instituições antes das eleições, segundo investigações da Polícia Federal. A sugestão teria partido do general Augusto Heleno, então chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
“Não vai ter revisão do VAR. Então, o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa é antes das eleições”, teria dito Heleno em uma reunião do grupo em 5 de julho de 2022. “Nós vamos ter que agir. Agir contra determinadas instituições e contra determinadas pessoas.”
As falas foram recuperadas por meio de um vídeo no computado do ex-ajudante de ordens Mauro Cid, que fechou um acordo de delação premiada com a Justiça. Cid tinha um vídeo da reunião entre Bolsonaro e os investigados.
Segundo a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, era coagir ministros de Estado para “promover e replicar, em cada uma de suas respectivas áreas, todas as desinformações e notícias fraudulentas quanto à lisura do sistema de votação, com uso da estrutura do Estado brasileiro para fins ilícitos e dissociados do interesse público”.
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Durante a reunião, o general Mário Fernandes, ligado então à Secretaria Geral da Presidência, fala na necessidade de ações anteriores às eleições. “Então, tem que ser antes. Tem que acontecer antes. Como nós queremos. Dentro de um estado de normalidade. Mas é muito melhor assumir um pequeno risco de conturbar o País pensando assim, pra que aconteça antes,doque assumir um risco muito maior da conturbação no ‘the day after’, né?”, disse ele, segundo as investigações.
Também no encontro, Heleno diz ter conversado com o então diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência, Victor Carneiro, sobre “infiltrar agentes nas campanhas eleitorais”. Mas, de acordo com a PF, Bolsonaro interrompe o então ministro e diz que eles terminariam de conversar sobre o tema em particular.
Segundo a decisão de Moraes, “a descrição da reunião de 5 de julho de 2022, nitidamente, revela o arranjo de dinâmica golpista, no âmbito da alta cúpula do governo”. Leia aqui a íntegra da decisão de Moraes.
Operação da PF
A Polícia Federal deflagrou nesta quinta-feira (8) a Operação Tempus Veritatis para apurar organização criminosa que atuou na tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito, para obter vantagem de natureza política com a manutenção no poder do então presidente Jair Bolsonaro. É a operação da PF sobre a tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023 que mais se aproxima da cúpula política do antigo governo.
Entre os alvos, estão o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados, como os ex-ministros Braga Netto, Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira e Anderson Torres e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto.
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