A proibição de se candidatar por oito anos é punição suave demais para quem cometeu crimes graves contra a humanidade como o descaso e a incitação à desobediência às normas sanitárias, inclusive o atraso na aquisição de vacinas contra a covid-19, que resultaram em 700 mil mortes, assim como a irresponsabilidade que causou o genocídio do povo ianomâmi, sob exame do Tribunal Internacional de Haia.
Ao todo, Bolsonaro responde hoje a quase 600 ações na Justiça, – isso mesmo: 600! – isso sem contar as que já deram entrada em Haia. Por tudo isso, o ex-presidente ainda vai alisar com as nádegas o banco dos réus por muito tempo. Na maioria dos casos, Bolsonaro terá de arcar com multas ou indenizações que podem chegar a R$ 2 milhões. Segundo levantamento do partido dele, o PL, Bolsonaro já perdeu 95% das ações. Como tem patrimônio declarado de pouco mais de R$ 2 milhões, até conseguiria arcar com esses pagamentos, considerando que hoje recebe mensalmente a bolada de R$ 86 mil por mês de salário pago pelo PL. Mas quem vai segurar a onda e pagar multas, indenizações e arcar com os honorários de advogados é o próprio PL. A não ser que o gado se compadeça e faça Pix em massa atendendo ao pedido do líder da boiada.
Foi só o começo, ainda falta é muito
Muitos analistas defendem, porém, que punições pecuniárias são muito pouco para quem ajudou a causar a orfandade, a viuvez e a dor da perda de centenas de milhares de parentes e amigos para a covid, sem falar na tragédia dos ianomâmis, que atraiu a atenção e a condenação do mundo inteiro pela irresponsabilidade como o ex-presidente se comportou nos dois casos. No genocídio dos ianomâmis, as imagens dantescas comprovaram à saciedade a responsabilidade dele, pois ficou mais do que claro que o morticínio se deveu principalmente ao desmonte das políticas indigenistas. Por isso as ações apresentadas em Haia têm grandes chances de serem aceitas.
Até aqui, dá pra lembrar derrotas que ganharam as manchetes pelo simbolismo de que se caracterizaram, como a indenização de R$ 20 mil à deputada Maria do Rosário (PT-RS) por ato misógino, naquele dia em que afirmou que ela não merecia ser estuprada por ele. Deve R$ 35 mil à repórter da Folha de S.Paulo Patrícia Campos Melo, por sugerir que a jornalista “deu o furo” para produzir reportagens contra ele. E mais R$ 150 mil por ataques a jornalistas em dois processos, além de R$ 30 mil por tentar associar o senador Omar Aziz (PSD-AM) à pedofilia durante a CPI da Covid.
No âmbito da Justiça eleitoral, além da ação que já perdeu por conta da reunião com os embaixadores quando atacou as urnas eletrônicas, Bolsonaro ainda responde a 15 processos, que vão desde pacotes de bondades com finalidade eleitoreira até a difusão de fake news durante a campanha eleitoral do ano passado. Se perder esta – e tem tudo pra perder – não apenas pode pessoalmente sofrer novas punições, como arrastar para a cassação uma penca de pelo menos 70 parlamentares bolsonaristas, entre os quais os próprios filhos e, entre outros, Carla Zambelli, Bia Kicis, Magno Malta, Nikolas Ferreira e Gustavo Gayer.
Não apenas multas, mas cadeia, cadeia grossa
Mas a lista não acaba. Bolsonaro também responde a processos por fraude na caderneta de vacinação, pelo não uso de máscaras e de capacetes nas motociatas, recebimento indevido de joias milionárias da Arábia Saudita, e por ter vazado inquérito contra os hackers que invadiram os computadores da justiça eleitoral. Todas elas podem resultar não em multas, mas em cadeia. Cadeia grossa, que pode ficar ainda maior se perder, como tudo indica que perderá, os processos por 11 crimes no inquérito das fake news. Não é pouco: ele é acusado por calúnia, difamação, injúria, incitação ao crime, apologia a crime ou criminoso, associação criminosa, denunciação caluniosa, tentar mudar o Estado de Direito, fazer propaganda de processos violentos ou ilegais para alteração da ordem política ou social, incitar a subversão da ordem política ou social e dar causa à instauração de investigação atribuindo a alguém a prática de crime ou ato infracional de que o sabe inocente, com finalidade eleitoral. Este último, como lembra o portal UOL, “tem como desdobramento os atos terroristas na tentativa de golpe no 8 de janeiro, que pode determinar que Bolsonaro tinha responsabilidade intelectual pelos ataques”.
Por isso eu, a torcida do Flamengo e do meu River Atlético Clube, lá no Piauí, achamos a condenação pelo TSE muito branda ainda. Pelos quatro anos de horror a que submeteu o povo brasileiro em todas as áreas, da sanitária ao meio ambiente, pela incitação ao armamentismo que provocou a elevação vertiginosa dos casos de violência, sem falar na criação de um ambiente tóxico de ódio na população, é que se deve gritar como nas festas de carnaval, que o enoja por ser o oposto do ódio que tanto cultua:
– Eu acho é pouco! Eu quero é mais!
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para redacao@congressoemfoco.com.br.
Deixe um comentário