Deflagrada pela Polícia Federal (PF) nesta quinta-feira (11), a nova fase da Operação Última Milha revela que mais autoridades foram monitoradas e espionadas por funcionários da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) por parte do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro para espionar adversários políticos. Segundo a PF, foram alvos da “Abin paralela” o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), o deputado Kim Kataguiri (União-SP) e o senador Renan Calheiros (MDB-AL).
Além deles, também foram monitorados os senadores Alessandro Vieira (MDB-SE), Omar Aziz (PSD-AM) e o hoje líder do governo no Senado, Randolfe Rodrigues (sem partido-AP).
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O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou nesta quinta a prisão preventiva de Mateus de Carvalho Sposito, Richards Dyer Pozzer, Rogério Beraldo de Almeida, Marcelo Araújo Bormevet e Giancarlo Gomes Rodrigues. Há também buscas contra os investigados José Matheus Sales Gomes e Daniel Ribeiro Lemos.
Segundo a investigação, foi utilizado pela Abin o sistema de inteligência First Mile, produto da israelense Cognyte, na época que a instituição era chefiada pelo atual deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ). Com o sistema, o grupo realizou monitoramento de dispositivos móveis sem autorização judicial. O monitoramento tinha a capacidade de indicar a localização exata dos celulares monitorados.
No relatório, as autoridades argumentam que o núcleo da Abin tinha “pleno conhecimento do desvirtuamento do uso da ferramenta de inteligência First Mile e teria tentado dar uma aparência de legalidade na sua utilização, bem como impedir a apuração correicional sobre condutas ilícitas”.
As ações clandestinas contra rivais políticos do ex-presidente Bolsonaro tinham como objetivo “caçar podres” de deputados, incluindo o atual pré-candidato à prefeitura de São Paulo Kim Kataguiri. O militar Giancarlo Gomes disse na ocasião ao seu superior, Marcelo Bormevet, que já “tinha levantado tudo” do pessoal do Lira, em referência ao presidente da Câmara, e do pessoal do Renan, possivelmente o senador Renan Calheiros.
“Joga essa porra (sic) no grupo. Servidor de gabinete do Deputado Kim Kataguiri advoga em causas particulares, sendo pago com dinheiro público”, ordena a divulgação dos conteúdos Bormevet, conforme a PF.
O aparato da Abin paralela também foi usado contra o senador Alessandro Vieira, na ocasião da CPI da Covid, quando convocou o filho do ex-presidente Carlos Bolsonaro a prestar depoimento. “A ação clandestina contra o Senador Alessandro Vieira, ainda, se deu no período em que o Senador da República entrou com ação popular questionando a tentativa de aquisição do malware Pegasus da NSO que, supostamente, contava com a participação do vereador Carlos Bolsonaro”, acrescenta a PF.
As ações clandestinas contra o senador foram divulgadas por Giancarlo Gomes por meio do seu perfil fake “Verdades Marcelo Augusto”.
Em janeiro deste ano, a Polícia Federal, no âmbito da investigação, já havia revelado que a Abin espionou autoridades ilegalmente entre 2019 e 2021, entre eles o então presidente da Câmara, Rodrigo Maia, a ex-deputada Joice Hasselmann, os ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, e o ex-governador do Ceará e atual ministro da Educação, Camilo Santana.
Neste novo relatório da PF, descobriu-se que além destes foram também investigadas as jornalistas Vera Magalhães, Luiza Alves Bandeira, por ter descoberto uma rede de desinformação no Facebook usada pelo núcleo político da Abin, Mônica Bergamo, em tentativa de associação com Adélio Bispo, e o jornalista Pedro Cesar Batista, por organizar um ato intitulado “Fora Bolsonaro”.
Veja a lista completa dos espionados pela Abin Paralela:
PODER JUDICIÁRIO:
- Ministros Alexandre de Moraes,
- Dias Toffoli,
- Luis Roberto Barroso e
- Luiz Fux;
PODER LEGISLATIVO:
- Arthur Lira (Presidente da Câmara dos Deputados) (PP-AL)
- Rodrigo Maia (então Presidente da Câmara dos Deputados),
- Kim Kataguiri (União-SP)
- Joice Hasselmann
- Alessandro Vieira (MDB-SE)
- Omar Aziz (PSD-AM)
- Renan Calheiros (MDB-AL)
- Randolfe Rodrigues (Sem partido-AP)
PODER EXECUTIVO:
- Ex-Governador de São Paulo, João Dória,
- Servidores do Ibama: Hugo Ferreira Netto Loss e Roberto Cabral Borges,
- Auditores da Receita Federal do Brasil: Christiano José Paes Leme Botelho, Cleber Homen da Silva e José Pereira de Barros Neto.
JORNALISTAS:
- Monica Bergamo,
- Vera Magalhães,
- Luiza Alves Bandeira,
- Pedro Cesar Batista.
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