Carlos Bolsonaro, o filho “zero dois” de Jair Bolsonaro, exerce hoje o sexto mandato como vereador no Rio de Janeiro, pelo Republicanos. Mas, pelo menos desde abril de 2020, a rotina dele tem sido intensa no Palácio do Planalto, sede do poder Executivo e local de trabalho de seu pai. Desde abril do ano passado até a última quarta-feira (16), Carlos acumulou 214 registros de acesso na sede do Executivo federal, em 32 dias diferentes.
Em pelo menos 13 dessas ocasiões, ocorria sessão na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, onde o vereador deveria comparecer, ao menos virtualmente.
Os dados foram enviados à CPI da Covid pela Casa Civil da Presidência da República, como resposta às reuniões e eventos realizados no âmbito da Presidência da República com integrantes do denominado “gabinete paralelo”, grupo responsável pelo aconselhamento formal e informal do presidente durante a pandemia de covid-19. Os registros de Carlos ocupam uma planilha.
Houve dias de trânsito intenso do filho zero-dois pelo Palácio, especialmente no terceiro andar, onde fica o gabinete presidencial.
Em 14 de abril, uma terça-feira de sessão extraordinária na Câmara dos Vereadores, por exemplo, Carlos apareceu 17 vezes a diversos lugares do Planalto, inclusive abrindo a porta do gabinete presidencial por duas vezes.
Ainda assim, enquanto estava no Palácio do Planalto, Carlos marcou presença na sessão virtual da Câmara dos Vereadores, como indica a ata da Câmara do Rio de Janeiro. O vereador chegou a votar contra um projeto que poderia ampliar um benefício municipal às famílias de baixa renda durante a pandemia.
Em ao menos 25 outras oportunidades, o vereador carioca entrou na “porta leste gabinete PR”, localizado no 3º andar do Palácio do Planalto. Em 20 de abril, um dia após Jair Bolsonaro discursar em frente a um quartel, Carlos Bolsonaro acessava portas da sede do Executivo nove vezes. Era uma segunda-feira. Na sexta-feira anterior, dia 17 daquele mês, o fluxo dele no local também tinha sido intenso e foram registrados 10 acessos.
O último acesso do vereador ao escritório do presidente da República no ano de 2020 foi em 22 de junho. Após essa data, consta registro de retorno de Carlos Bolsonaro ao Planalto apenas em 12 de janeiro deste ano, após nova reeleição à Câmara.
Já em 16 de março, quando o país atravessava a pior fase da pandemia e o outro filho do presidente, Jair Renan era formalmente investigado pela Polícia Federal, Carlos Bolsonaro marcou presença na sessão virtual, votou a favor de um projeto de lei que autorizava os cariocas a colocarem o lixo em lixeiras específicas em frente às suas casas e circulou pelo Palácio do Planalto.
Depoimentos coletados desde o início da CPI da Covid indicam que Carlos, o “estrategista digital” do pai, participou de reuniões de negociação de compra de vacinas. O ex-diretor da Pfizer no Brasil, Carlos Murillo, afirmou que o vereador chegou a comparecer a reuniões no Palácio. A conversa teria ocorrido em 7 de dezembro, mas a Casa Civil indica que Carlos não esteve neste dia ou neste mês no Palácio.
O registro mais recente de Carlos Bolsonaro no Palácio do Planalto foi às 13h58 da última quarta-feira, 16 de junho. Naquele horário, Carlos passou a digital no 3º andar e 17 minutos depois, no centro do Rio de Janeiro, foi aberta a sessão do Plenário da Câmara de Vereadores do Rio que permitia a participação híbrida. Carlos votou seis vezes.
O vereador não foi localizado pela reportagem para comentar os registros de presença no Planalto.
Nise Yamaguchi, Osmar Terra e Eduardo Bolsonaro aparecem em lista
Os registros de circulação no Palácio recebidos pela CPI da Covid também indicam a presença de outros nomes ligados ao chamado “gabinete paralelo”. Esse documento deve subsidiar as linhas de investigação do colegiado sobre a atuação do grupo de aconselhamento.
O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o filho “zero-três” do presidente, teve registradas 11 entradas entre os dias 13, 14 e 17 de abril de 2020 – e no dia 13 pela tarde entrou diretamente no gabinete presidencial.
A médica Nise Yamaguchi, defensora do tratamento ineficaz com cloroquina contra a covid-19, registrou 21 entradas no Palácio do Planalto entre abril de 2020 e 23 de abril de 2021. Em oito vezes, a médica oncologista foi ao “gabinete PR” ou “gabinete pessoal PR” e indicou na portaria que visitaria o presidente Jair Bolsonaro nos dias 9 de abril e 21 de maio de 2020.
Apelidada de “Capitã Cloroquina”, a médica Mayra Pinheiro esteve 21 vezes no Palácio, e visitou Bolsonaro pessoalmente em 16 de abril de 2020. Em outras duas vezes, em dezembro de 2020 e no mês seguinte, Mayra Pinheiro esteve no Gabinete Pessoal da Presidência da República.
O empresário Carlos Wizard Martins, que foi convocado coercitivamente para depor na CPI, entrou 12 vezes na sede do Executivo entre fevereiro e julho do ano passado. Apesar de não ter indicado que visitaria Jair Bolsonaro, Wizard se dirigiu duas vezes ao Gabinete Pessoal da Presidência.
Enquanto isso, o deputado Osmar Terra (MDB-RS), considerado um dos principais mentores da política sanitária do presidente, teve apenas uma entrada registrada no Palácio, em 23 de junho. Osmar, no entanto, foi visto mais vezes ao lado do presidente, como em setembro de 2020, quando participou de uma reunião de médicos apoiadores do tratamento com cloroquina contra a covid-19.
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