Lula escolheu o ministro aposentado do STF Ricardo Lewandowski para enfrentar a crise de segurança pública, talvez o maior desafio no seu terceiro mandato. Pesquisa AtlasIntel de outubro passado mostra que para 62,7% dos brasileiros a criminalidade e o tráfico de drogas são o maior problema do país. Não falta ao futuro ministro da Justiça currículo para comandar uma reação do Estado, depois de 17 anos no Supremo, mas o avanço do crime organizado exige planos sólidos, ainda não conhecidos.
Flávio Dino, que deixa a pasta para ocupar uma cadeira no Supremo, teve sua passagem pelo Executivo em boa parte tomada pelas repercussões da tentativa de golpe do 8 de janeiro. Só em outubro o ministro apresentou um plano para a segurança pública, prevendo investimentos de R$ 900 milhões até o fim do mandato. Especialistas viram naquela carta de intenções mais medidas recicladas e paliativas do que estruturais. Por exemplo, uma GLO restrita a portos e aeroportos do Rio, onde a questão é mais visível.
O crime organizado se expande, com conivência política, e suas facções montam “joint-ventures” com grupos de traficantes de outros países. A crise no Equador é um alerta. Estudo do Fórum de Segurança Pública, de novembro passado, revela que há “forte interação” entre grupos armados de países da região amazônica, numa espécie de conglomerado multinacional do crime. O PCC já está presente na Bolívia, no Suriname, na Guiana, na Guiana Francesa e na Venezuela, afirma o estudo. Foi identificada a presença de 22 facções criminosas na Amazônia brasileira, em todos os estados, disputando controle de cidades e de rotas de tráfico com os rivais estrangeiros. A taxa média de violência letal na Amazônia é 45% maior que a média nacional.
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O tema da segurança pública está no cotidiano nacional, mas será ainda mais relevante neste ano de eleições municipais. Desde a redemocratização, o debate nacional é contaminado por questões ideológicas, semelhante ao que acontece com a discussão sobre os militares e a defesa — e o 8 de janeiro evidenciou os problemas nessas duas frentes.
A violência dos centros urbanos aflige a população. Ônibus queimados, sequestrados, assaltos, extorsões. Essa rotina de medo está ganhando raízes mais profundas, com o fortalecimento de milícias e narcotraficantes. O caso do Equador mostra a urgência em soluções. Ao apresentar o novo ministro da Justiça, ao lado do futuro ministro do STF, Lula disse que os dois não dariam entrevistas. Segundo o presidente, não tinham nada a dizer.
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