Os servidores da Secretaria da Cultura esperam que a atriz Regina Duarte, ao assumir o comando da pasta nesta semana, restabeleça um canal de diálogo entre o governo, os servidores e o próprio setor cultural. Eles explicam que, na gestão de Roberto Alvim, a secretaria interrompeu projetos importantes para a cultura e cessou o diálogo com os servidores, que, por isso, ficaram estarrecidos com as declarações nazistas do ex-secretário.
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“Envolvimento com as políticas culturais de estado, reativando a efetividade do CNPC [Conselho Nacional de Política Cultural], do SNC [Sistema Nacional de Cultura] e do PNC [Plano Nacional de Cultura]. E diálogo franco e transparente com os servidores e a sociedade.” Foi assim que o presidente da Associação dos Servidores do Ministério da Cultura (AsMinc), Sergio Pinto, definiu o pedido da categoria para Regina Duarte, que aceitou fazer um teste no comando da Secretaria de Cultura do governo de Jair Bolsonaro nesta segunda-feira (20).
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Pinto contou que os servidores estão estarrecidos, confusos e decepcionados com os últimos acontecimentos da Secretaria de Cultura. Mas ressalta que a citação nazista que derrubou o ex-secretário Roberto Alvim na última sexta-feira (17) não é um fato totalmente isolado. Para ele, é resultado do processo de desconstrução das políticas culturais e do autoritarismo do atual governo.
Ele admite que o desmonte das políticas culturais não começou agora, vem desde o governo de Michel Temer. Mas diz que esse processo se aprofundou no governo de Jair Bolsonaro, que reduziu o Ministério da Cultura a uma secretaria do Ministério da Cidadania e posteriormente do Ministério do Turismo. E se aprofundou sobretudo na gestão Alvim, segundo outros servidores da pasta.
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Servidores que preferiram não se identificar contaram que, no começo do atual governo, foi possível manter os programas que já estavam em andamento em quase todas as áreas da pasta. A exceção foi o setor do audiovisual, que se viu envolvido em polêmicas desde o início do ano passado, por conta da suspensão de editais da Ancine. De outubro para cá, contudo, outras mudanças foram sendo sentidas nos demais setores da Secretaria de Cultura.
E os servidores nem tiveram a oportunidade de questionar certas coisas. O próprio presidente da AsMinc admite que só conversou com o secretário auxiliar da pasta uma única vez. “Não houve conversa com o servidor e também não abrem conversa com as entidades representativas”, lamentou Pinto, dizendo que a sensação é de que o governo vê a Cultura e os próprios servidores como inimigos.
O que o presidente da AsMinc e os demais servidores esperam, portanto, é que Regina Duarte chegue à pasta disposta a mudar essa realidade. “Ela é da área, já é uma vantagem. Mas se vier com um perfil autoritário não vai mudar. Enquanto não respeitarem o setor cultural como um espaço de construção de políticas públicas importantes, não adianta mudar o nome [do secretário]. Enquanto a Cultura não for tratada com o peso que tem e enquanto não abrirem uma janela de diálogo com o servidor, as coisas não tendem a mudar muito. Talvez ocorram alguns ajustes, mas nada muito radical”, argumentou o servidor, que, no entanto, tem otimismo. “A expectativa é que as coisas mudem, que reconheçam a importância da Cultura, dialoguem com os servidores e com a sociedade, e retomem políticas como o Plano Nacional de Cultural”, torce.
Veja a íntegra da nota emitida pelo presidente da Associação dos Servidores do Ministério da Cultura (AsMinc) na última sexta-feira, após a Secretaria de Cultura divulgar o vídeo em que o ex-secretário Roberto Alvim parafraseava o ministro da propaganda nazista Joseph Goebbels:
“‘Os homens tropeçam por vezes na verdade, mas a maior parte torna a levantar-se e continua depressa o seu caminho, como se nada tivesse acontecido.’ Winston Churchill
A cultura é parte indissociável do ser humano. É nela que se faz reconhecer os indivíduos na essência de suas particularidades, levando ao reconhecimento de todos como membros de uma sociedade. E é com esse reconhecimento que existe a possibilidade do diálogo, e o real crescimento social e econômico, voltado para a construção de um mundo melhor,
Esse governo trata o setor cultural (como outros tbm), suas políticas e os servidores como inimigos, pois não consegue vislumbrar uma possibilidade de diálogo. E a construção dessa narrativa, demonstrada nesse discurso, serve somente para afastar do real debate público.
Muito da política atual é construída no desinteresse ao diálogo, e por isso tentam diminuir a importância do papel da cultura.
Entendo que o Ministério não deveria nunca ter sido extinto, nem mesmo ter se cogitado tal situação. É com um setor cultural forte e ativo que se constrói um país verdadeiramente desenvolvido, reconhecendo toda a diversidade e qualidade de nosso povo.
SERGIO DE ANDRADE PINTO
Presidente da AsMinC”
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