Com dificuldade para reverter a desvantagem nas pesquisas, o presidente Jair Bolsonaro começou a semana, a penúltima antes das eleições, com uma série de notícias negativas nessa segunda-feira (19): dois levantamentos de intenção de voto apontaram crescimento do ex-presidente Lula na corrida eleitoral, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) proibiu o uso de imagens do discurso do chefe do Executivo em Londres em sua propaganda eleitoral e uma projeção no prédio da ONU, em Nova York, o saudou como “vergonha brasileira”.
A ida de Bolsonaro ao funeral da rainha Elizabeth II, juntando-se a chefes de Estado de todo o mundo, tinha como principal objetivo reunir imagens que demonstrassem força do líder brasileiro. Bolsonaro conseguiu reunir uma multidão de apoiadores em torno de si. No entanto, permaneceu politicamente isolado, tal como ocorreu em seus quase quatro anos de governo, e foi criticado pela imprensa estrangeira por fazer do momento de homenagem póstuma à rainha um palanque eleitoral.
O presidente não escondeu o mau humor diante do cenário. Depois de falar o que queria a apoiadores, abandonou, de maneira irritada, uma entrevista ao ser questionado sobre o uso eleitoreiro da viagem. “Você acha que vim aqui fazer política? Pelo amor de Deus, não vou te responder não. Pelo amor de Deus, não tem uma pergunta decente? Compara o Brasil com os Estados Unidos, com o resto do mundo. Faça uma pergunta decente”, afirmou, antes de virar as costas. O episódio ocorreu na casa do embaixador do Brasil no Reino Unido.
O ministro do TSE Benedito Gonçalves proibiu uso das imagens do discurso do presidente na embaixada brasileira em Londres e determinou a exclusão da postagem feita pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) de uma rede social. Para Gonçalves, que é corregedor-geral da Justiça eleitoral, o uso das instalações do prédio público foi indevido e feriu a isonomia entre os candidatos. O discurso, destacou o ministro, não foi destinado exclusivamente aos apoiadores de Bolsonaro presentes ao local, mas foi usado para disseminar conteúdo de propaganda do presidente nas redes sociais.
Gonçalves atendeu a pedido da candidata Soraya Thronicke (União Brasil) para barrar a propaganda. “Ao propiciar contato direto com eleitores e favorecer a produção de material de campanha, é tendente a ferir a isonomia, pois explora a atuação do Chefe de Estado, em ocasião inacessível a qualquer dos demais competidores, para projetar a imagem do candidato”, sustentou o ministro.
A nova pesquisa Ipec, divulgada na noite dessa segunda-feira, também trouxe preocupação ao presidente ao demonstrar estabilidade no quadro, com crescimento de um ponto percentual, dentro da margem de erro (que é de dois pontos), para Lula. O petista aparece agora com 47% das intenções de voto ante 31% do candidato à reeleição. Bolsonaro repetiu o desempenho da semana passada. A pesquisa, realizada entre 17 e 18 de setembro, reforça a possibilidade de vitória do ex-presidente no primeiro turno: Lula tem 52% dos votos válidos). Em um eventual segundo turno, o petista figura com 54% enquanto o candidato com PL, com 35%.
O levantamento mostra que Bolsonaro continua enfrentando grande rejeição de mulheres, de eleitores nordestinos e com renda inferior a dois salários mínimos. Além disso, 80% dos entrevistados afirmam estar decididos em relação ao seu voto. Apenas 19% dizem que ainda podem mudar de voto. E o percentual dos convictos em votar em Lula (87%) é maior que o percentual dos que estão decididos a votar em Bolsonaro (84%). A desaprovação ao governo continua alta, em 59%, mesmo percentual registrado semana passada. Apenas 36% aprovam a gestão Bolsonaro. Entre os moradores do Nordeste, a rejeição ao governo chega a 70%.
O índice de rejeição ao atual presidente é mais alto do que ao atribuído ao ex-presidente: 50% dos entrevistados pelo Ipec afirmam que não votam de forma alguma em Bolsonaro. Outros 33% não votam de jeito algum no petista. O ex-presidente tem maior rejeição entre os mais ricos, com renda familiar de mais de cinco salários mínimos, entre eleitores com ensino superior e moradores da região Sul.
Durante a segunda-feira, apoiadores do presidente espalharam uma montagem do Jornal Nacional na qual as intenções de voto entre os dois principais candidatos eram invertidas. Coube aos apresentadores do Jornal Nacional, alvos da montagem, Renata Vasconcellos e William Bonner, desmentir em rede nacional a versão propagada por bolsonaristas.
Antes da divulgação da pesquisa Ipec, outro levantamento já havia despertado preocupação na campanha de Bolsonaro. A pesquisa feita pela FSB para o banco BTG Pactual apontou crescimento de três pontos percentuais do petista, que subiu de 41% para 44% em uma semana. Enquanto isso, Bolsonaro se manteve em 35%. A subida está dentro da margem de erro, que é de três pontos. Os levantamentos do instituto apontavam crescimento, até então, do candidato à reeleição.
Na simulação do segundo turno, nada mudou na comparação com o levantamento da semana passada, notícia ruim para Bolsonaro, que seria derrotado por 39% a 52%. Na pesquisa anterior, a diferença era a mesma: 51% a 38%. A FSB também apontou rejeição de 55% a Bolsonaro, ante 48% de Ciro Gomes (PDT) e 45% de Lula (PT). O levantamento também mostra que 81% dos pesquisados disseram ter certeza na decisão do voto no candidato que escolherão no primeiro turno dessas eleições e 18% que disseram que podem mudar.
Na noite dessa segunda, Bolsonaro foi recebido em Nova York com uma projeção negativa no prédio da Organização das Nações Unidas (ONU). O prédio foi iluminado com a imagem do presidente brasileiro e palavras como “mentiroso”, “desgraça” e “vergonha brasileira”. Os termos foram usados em inglês e português. Bolsonaro abrirá nesta terça-feira a Assembleia Geral das Nações Unidas. Uma vez mais é esperado que ele use tom eleitoral em seu discurso, a exemplo do que fez em Londres. Terá de falar, porém, para fora da sua bolha de eleitores se quiser reagir nas pesquisas. A projeção foi feita por ativistas da US Network for Democracy in Brazil (Rede Norte-Americana pela Democracia no Brasil).
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