Com o aumento exponencial de casos da covid-19 no Brasil nos últimos 14 dias, o Ministério da Saúde determinou o relaxamento das medidas de isolamento de pessoas contaminadas com a doença. Em entrevista ao Congresso em Foco, o diretor científico da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal e professor da Universidade de Brasília (UnB) José Davi Urbaez, disse que a decisão de Marcelo Queiroga contradiz a recomendação da ciência para a atual situação da pandemia, e atende apenas interesses econômicos do governo.
Na avaliação do infectologista, não há dúvida de que o Ministério da Saúde cometeu um erro no sentido de proteção à saúde pública. “Foi uma decisão precipitada, e muito improvisada. Eu e boa parte dos especialistas em infectologia não estamos de acordo com essa mudança”, ressaltou.
O novo protocolo de isolamento prevê a realização de um segundo teste para covid-19 no quinto dia após o aparecimento de sintomas. Caso o resultado seja negativo, o paciente já pode retomar sua rotina. Caso contrário, manterá o afastamento até que se complete 10 dias do primeiro exame. A medida contradiz o que recomenda a Organização Mundial de Saúde (OMS), que indica 14 dias de isolamento independente de um novo teste.
Urbaez explica que o protocolo mais brando não foi estabelecido por acaso. “A interpretação pela diminuição do tempo de isolamento foi fundamentalmente pela perda da força de trabalho. Essa é a maior das motivações, é uma pressão do setor produtivo que ocorre no mundo inteiro”. Outros países como França e Estados Unidos também adotaram medidas semelhantes, também por interesses econômicos.
O novo prazo, porém, carece de rigor científico. “Esse protocolo segue muito do que veio após posicionamento do serviço de controle de doenças de Atlanta (EUA) na última semana de dezembro. Isso tem várias e várias falhas, porque não houve nenhum trabalho sobre transmissão viral que pudesse servir de base para isso”, alertou o médico.
Além da falta de embasamento científico na recomendação do Ministério da Saúde, Urbaez alerta para os riscos envolvidos. “É uma estratégia muito fraca, com risco de termos novos aumento nas taxas de transmissão da covid-19 a partir de pessoas que estão sendo liberadas para retornar ao trabalho sem ter ainda interrompido a transmissão”. O risco se eleva com a interação de pacientes com outras pessoas em locais fechados.
PublicidadeNa atual etapa da pandemia, o infectologista destaca que o relaxamento das medidas de contenção de pessoas contaminadas cria riscos ainda maiores. “Com a variante Ômicron, que é a que está dominando hoje, tempos poucos dados. Mas um estudo recente no Japão mostra que 20% das pessoas contaminadas permanecem transmitindo a doença no sétimo dia”.
A situação fica mais grave quando observada no cenário brasileiro. “Temos cerca de 30% da população sem a vacinação completa. Isso representa ao menos 60 milhões de pessoas susceptíveis de ter uma infecção. O vírus nesse cenário pode ter um período de transmissibilidade maior”, alertou.
> Queiroga afirma que variante Ômicron já é predominante no país
> “Estamos há dois anos em sobrecarga”, diz Cofen sobre condições de afastamento de enfermeiros
Deixe um comentário