A decisão do Ministério da Saúde de ignorar os estudos que contraindicavam o chamado “kit covid” para o combate ao coronavírus – passando a sugerir exatamente o contrário – é estritamente política, sem o menor respaldo em evidências científicas. A análise de cientistas ouvidos pelo Congresso em Foco colocam em xeque os argumentos do governo federal em ainda apoiar uso terapêutico de medicamentos como cloroquina e hidroxicloroquina.
“É uma decisão que não possui justificativa, nem técnica nem científica”, resumiu o professor Flávio Fonseca, presidente da Sociedade Brasileira de Virologia (SBV). “Se ela não tem justificativa técnica, clínica ou científica, só resta uma opção – é uma decisão política, uma falácia criadas apenas para dar sustentação a uma posição política irreal.”
O virologista, que integra o Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) aponta que o discurso adotado pelo Ministério só seria válido bem no início da pandemia, quando não havia estudos comprovando que tratamentos seriam úteis ao combate contra a covid.
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No momento atual, onde vacinas eficazes já estão disponíveis a grande parte dos brasileiros e estudos em massa comprovam a ineficácia de remédios como a cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina, a decisão do governo é uma teimosia política, que beira um ato criminoso. “Dois anos dentro da pandemia, muito se foi descoberto e muitos dados foram comprovados no mundo inteiro – e entre eles está o fato de que estes fármacos não funcionam como colocam os pacientes em risco adverso grave.” Flávio Fonseca ainda alerta que, na prática, a medida coloca em riscos reais a quem está sendo atendido e será atendido.
O risco do documento também é alto na visão de Vinícius Ribas, que também é cientista na UFMG. “Esse documento pode estimular o uso de medicamentos que comprovadamente não funcionam para tratar a covid-19, deixando pacientes em risco”, argumentou. “Segundo, pois sugerir que não existem estudos que demonstrem a efetividade e segurança de vacinas vai totalmente contra às evidências científicas e pode desestimular a imunização de parte da população que apoia o governo, mais uma vez deixando pessoas vulneráveis às formas graves da doença.”
Professores da USP saem em defesa de coordenador do estudo
Em nota publicada neste domingo (23), os professores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) saíram em defesa de Carlos Roberto Ribeiro de Carvalho, professor da instituição que coordenou a pesquisa do Conitec. O resultado do grupo de trabalho, concluindo que a vacina funciona e o “kit covid” não, foi ignorado pelo Ministério da Saúde.
Segundo os signatários, as recomendações “estranhamente foram rejeitadas pela Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos estratégicos em Saúde, do Ministério da Saúde” no dia 21.
“O trabalho dos especialistas do mais elevado nível, que trabalharam por meses na elaboração de diretrizes, totalmente baseadas em ciência, precisa ser respeitado e aprovado em sua íntegra, para evitar maiores prejuízos à saúde da população brasileira”, concluíram.
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