por Flávio Acatauassú*
Começamos o ano acompanhando com entusiasmo as notícias de que o Governo Federal pretende atualizar o projeto da Ferrogrão para, finalmente, viabilizar o licenciamento da ferrovia. Fornecida à imprensa pelo ministro dos Transportes, Renan Filho, a informação nos permite vislumbrar a possibilidade de transformar em realidade um sonho que há anos esbarra em entraves jurídicos que desafiam os avanços da obra.
Aos jornalistas, o ministro enfatizou que o governo poderia destinar até R$ 5 bilhões para o projeto. O engajamento da iniciativa pública em obter licenciamento para tirar a obra do papel nos permite acreditar que essa obra estruturante e de grande valor ao Brasil é só questão de tempo.
Os mais de 933 km da ferrovia que vai ligar Pará ao Mato Grosso irão potencializar os resultados socioeconômicos do país, otimizando todo o sistema de escoamento de grãos. É inquestionável que a ligação dos Portos de Mirituba, no Pará, com o município de Sinop, no Mato Grosso, será decisiva para reduzir drasticamente os custos de logística de transporte e destravar os avanços de um dos setores mais importantes da nossa economia, responsável pela geração de emprego e renda de milhares de famílias pelo país.
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Estamos falando de um segmento que, mesmo diante de inúmeros desafios, acumula conquistas e avanços importantes. Em 2023, por exemplo, nossos números refletem um aumento significativo da movimentação de cargas neste trecho, superando em quase 30% os indicadores observados em 2022. E a expectativa é manter uma tendência de crescimento consistente diante da capacidade de transportar 58 milhões de toneladas e com projeções factíveis de expansão de mais de 42 milhões de toneladas em até 10 anos.
Para a balança comercial do agronegócio brasileiro, eu diria que a Ferrogrão é vital. No Arco Norte, por exemplo, temos estações portuárias com plena capacidade de movimentar a grande quantidade da produção do agro, porém, hoje o processo é realizado, em grande parte, pela BR 163. Entretanto, daqui algum tempo não será mais possível fazer todo este escoamento somente pela BR. Precisamos de rotas alternativas e eficientes e é nesse ponto que a Ferrogrão é essencial. Estamos falando de uma via férrea que vai acompanhar o traçado da BR e complementar os modais rodoviário e hidroviário a custos competitivos.
Não podemos mais fechar os olhos para o valor ímpar deste projeto ao país. Uma obra deste patamar, sinônimo de descarbonização e progresso socioeconômico da nação, não pode ficar engavetada. O Brasil do futuro vai agradecer a nossa decisão do presente: de tornar real a tão sonhada Ferrogrão.
* Flávio Acatauassú é presidente da Associação dos Terminais Portuários e Estações de Transbordo de Cargas da Bacia Amazônica (Amport)
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Querida Flávia Acatauassú te convido a conhecer o terminal da Rumo em Rondonópolis (MT). Pois nesse artigo você diz “Os mais de 933 km da ferrovia que vai ligar Pará ao Mato Grosso irão potencializar os resultados socioeconômicos do país”.
Que resultados socioeconômicos? Em Rondonópolis (MT) também diziam isso quando inauguraram a ferrovia. Hoje, o que se vê é que a mudança social é nula ou mínima. Primeiro que a Rumo pratica um valor de frete 25% a menos do que deveria praticar, tendo em vista que a concessionária configura um oligopólio. De modo que muitas vezes produtores preferem enviar a colheita pelas rodovias.
Para piorar, a ferrovia virou “fonte de renda” do Comando Vermelho. Pesquisa por “varredores CV Rondonópolis”.
Olha querida, sinto por dizer, mas de nada adianta uma ferrovia apenas para levar e trazer soja, milho, algodão e cana. É importante, claro. Mas somente para os produtores. É preciso que o governo federal comece a pensar em ferrovias que permitam a integração, que substituam o tão perigoso transporte rodoviário. Da forma como está, vamos encher vagões de soja e o bolso de meia dúzia de capitalistas.
E o pior: vamos arrebentar com mais e mais hectares do nosso maior capital em Mato Grosso: a floresta amazônica. Pois é uma terra abundante em água, em chuvas e em florestas. Produtos que em um futuro não muito distante serão cada vez mais requisitados .
A questão é: o tal “progresso” da Ferrogrão valerá a pena? A julgar pelo que vemos em Rondonópolis, eu tenho certeza que não.