Dizem alguns que a finalidade do Estado é servir ao povo, administrando serviços como saúde, segurança pública etc. Outros, por sua vez, sustentam que o Estado, uma vez criado, passa a ter vida e interesses próprios, muitas vezes até contrários aos do povo. Quem terá razão?
Há poucos meses uma senhora de 81 anos morreu na Espanha, vítima de infarto, após aguardar 232 dias por uma consulta no serviço público de saúde. Na Bahia, uma velhinha de 103 anos que mal conseguia respirar só conseguiu tratamento correto cinco dias depois, quando um jornal denunciou o caso. No Japão, um senhor de 69 anos de idade sofreu um acidente de bicicleta e morreu após ter sido recusado em – acredite – 14 hospitais!
Esses três episódios, realçados sob o pano de fundo das milhões de pessoas abandonadas pelos tristes corredores de alguns hospitais públicos pelo mundo afora, nos colocam a pensar no real empenho do Estado em proporcionar assistência médica digna ao povo, que continua a morrer vítima de doenças as mais absurdas em pleno século XXI.
A saída, por incrível que pareça, tem sido a caridade. Segundo a Organização Mundial de Saúde, inacreditáveis 40% dos tratamentos de saúde no mundo são proporcionados por organizações religiosas! Eis aí um número vergonhoso para os Estados, que, para piorar, no mais das vezes não ajudam e ainda atrapalham o trabalho voluntário de tantos abnegados.
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Exemplifico com o caso da África, continente no qual a malária mata cerca de um milhão de seres humanos a cada ano, a maioria crianças. Estudos voluntários detectaram que apenas 2% das crianças dormiam protegidas por mosquiteiros adequados.
Seria de se esperar que, diante deste trabalho, o Estado – aquele mesmo de tantos gastos supérfluos – distribuísse os mosquiteiros, tão simples quanto baratos. Mas que nada! Somente às custas de doações, a maioria delas conseguida pela ONU, foi possível passar de 2% para 20% o número de crianças protegidas por mosquiteiros nos últimos seis anos. O resultado: 125 mil delas deixaram de morrer a cada ano. Seria exagero dizer que as outras 875 mil que ainda morrem a cada ano por falta de um mosquiteiro são assassinadas pelo Estado?
No Iraque, apesar do intenso trabalho voluntário de tantas organizações da sociedade civil, uma epidemia de cólera matou milhares de pessoas no ano passado. Segundo apurou-se, o Estado estava purificando a água servida para a população com cloro vencido há anos, e comprado a troco de suborno. Enquanto isso, nas Filipinas, um aumento de 10% nas propinas cobradas de médicos reduziu a taxa de imunização infantil em mais de 20%.
Aliás, sobre este assunto, em 2006 a Transparência Internacional divulgou um estudo comprovando que a corrupção no setor de saúde em escala mundial chega a impressionantes 15% dos US$ 3 trilhões correspondentes aos gastos totais. No Brasil, segundo dados divulgados pela Controladoria-Geral da União (CGU) em 2008, a corrupção, o desperdício e a má-gestão desviam do dinheiro público investido na saúde R$ 426,4 milhões, que equivalem a 25,1% do R$ 1,69 bilhão repassado pelo Ministério da Saúde a 1.341 municípios.
Diante desta realidade, só resta àqueles semelhantes nossos abandonados em um mundo de dor e tormento lembrar a famosa frase de Lothar Schmidt: “O que nos dá a administração? A administração nos dá o que pensar”.
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