Cleber Lourenço *
Depois de 21 anos de uma ditadura facínora, a população brasileira lutou pelas eleições diretas, uma imensa mobilização e quanto tivemos o nosso 1° presidente via eleição direta, sofremos com um descalabro absurdo nas mãos do governo Collor. Um governo tão absurdo e grave que foi necessário abreviar o governo. Sim, um processo de impeachment na primeira eleição direta pós-ditadura.
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Ali o Brasil já enfrentava sua crise de representatividade e valor do voto, logo no início da redemocratização. Mas aos poucos fomos nos restabelecendo. Porém em menos de 30 anos sofremos outro processo de impeachment, este muito mais grave.
Logo após as eleições de 2014, o PSDB capitaneado pelo o então o senador Aécio Neves começaram uma campanha absurda de desvalorização dos vocês, as urnas mal havia sido guardadas e começaram uma campanha delinquente de desconfiança das eleições. E o pior, com anuência e promoção de muitas redações e editores pelo país.
A chacota e algazarra que foi a votação do impeachment foi pior ainda. Aquilo ali acabou com o brasileiro. A bagunça do governo Temer e as quase que diárias denúncias de corrupção fizeram o trabalho de promover o sentimento de antipolítica que tomou o país sob o nome despretensioso de “nova política”.
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Dilma sequer havia cometido crimes de responsabilidade igual o presidente Jair Bolsonaro comete de forma contumaz. E em menos de 30 anos sofremos com outro processo de impeachment.
Pediram recontagem dos votos e antes mesmo da presidente recém reeleita começar o segundo mandato, já botaram pra quebrar. Ali o voto do brasileiro foi ridicularizado.
Os danos que a lava jato causou para a democracia foram irreparáveis para o país. Um verdadeiro processo de perseguição e descrédito da política, sob a batuta do então juiz federal Sergio Moro e procurador Deltan Dallagnol que primeiro prendiam, humilhavam e só depois averiguavam o que era verdade e factível. Ah! Sem esquecer que naquela altura eles já haviam grampeado um presidente em exercício.
E por fim as eleições de 2018 onde todo tipo de situação antidemocrática aconteceu, desde um juiz federal conspirou para tentar suspender as eleições até um outro juiz federal vazava informações de forma seletiva para impactar diretamente em uma campanha eleitoral.
O Ministério Público e a polícia federal ainda escolhia quem atingir ou não com operações. O pior disse é que durante a campanha tivemos um candidato para a presidência colocando em xeque a todo o momento a confiabilidade do nosso processo eleitoral, tudo com o apoio de seus filhos e seguidores que paulatinamente desvalorizaram o voto do brasileiro com sucessivas mentiras.
Esse mesmo candidato ganhou as eleições e seguiu insistindo em desvalorizar o nosso processo eleitoral, um dos mais rápidos e modernos do mundo.
A cereja do bolo foi Moro aceitando um ministério no governo que ajudou a eleger de maneira direta.
E afetou tanto que hoje temos uma horda de celerados que bradam contra um Congresso que eles mesmos elegeram, pedem ditadura diretamente ao presidente eleito e o presidente ainda acena para estes grupos que buscam a ruptura da democracia.
Parece que não, mas tudo isso diminuiu e muito a percepção do brasileiro sobre valor do seu voto. Sobre a importância da Constituição Federal e do devido processo legal. Hoje as forças armadas se sentem à vontade para ameaçarem o STF. E essa instituição que deveria zelar pelo país é quem está na vanguarda da condução para a catástrofe.
A importância da democracia e do voto caíram de tal modo que, mesmo com milhões de brasileiros desesperados e com a saúde pública em risco no meio de uma pandemia, o presidente da Câmara se sente no luxo de ignorar os mais de 30 processos de afastamento de um presidente flagrantemente inábil não só para o cargo, mas para também enfrentar as dificuldades que o país atravessa. E que diferente da Dilma, já cometeu mais de uma dezena de crimes de responsabilidade.
E infelizmente essa situação não vai se resolvendo com um eventual impeachment de Jair Bolsonaro, o sistema político tem oferecido péssimos nomes, todos travestidos com a agenda da “nova política”. E é esse movimento antipolítica quem segue promovendo e ofertando péssimos nomes com a aderência de boa parte da população já desanimada.
Nomes que vão desde humoristas, até celebridades e outros extratos sociais que não sabem como lidar com a sociedade em sua totalidade e trabalham com seus próprios feudos políticos em detrimento do coletivo.
Dos anos 90 pra cá: tivemos um impeachment, “Fora FHC”, falou-se seriamente em impeachment de Lula durante o Mensalão, tivemos outro impeachment, houve duas tentativas de afastar Temer e agora discute-se o impeachment de Bolsonaro.
Enquanto optarmos pelo caminho fácil da “nova política”, a oferta de políticos nas eleições continuará ruim e dificilmente iremos recuperar a percepção o valor de voto.
Vamos demorar anos para nos recuperarmos disso. E para que o voto volte a ter seu devido valor.
* Cleber Lourenço, colunista político, mantém o blog O Colunista na Revista Fórum e o perfil @ocolunista_ no Twitter.
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