por Nísia Trindade* e Carlos Gadelha**
Uma palavra que sintetiza os desafios contemporâneos é desigualdade. Vivemos em um mundo com múltiplas e sobrepostas crises: climática, sanitária, econômica, alimentar, energética. Essas crises se retroalimentam e o aprofundamento das assimetrias econômicas e tecnológicas entre os países penaliza as nações mais pobres e as populações mais vulneráveis.
Ao Brasil, cabe definir como se inserir nesse contexto e propor grandes transformações para a construção de um mundo mais justo. Os problemas globais necessitam de soluções que apenas podem surgir em um cenário onde exista equidade, desenvolvimento e apoio aos países que mais precisam. Esse posicionamento já marca o Brasil a um papel de destaque nas principais discussões sobre o fortalecimento da saúde global durante a 77ª Assembleia Mundial da Saúde, por exemplo.
É inegável que a relação entre as mudanças climáticas e saúde precisa estar no coração da agenda da saúde pública. As consequências sanitárias de uma enchente sem proporções na história do Rio Grande do Sul, por exemplo, reforçam um aspecto que a pandemia da Covid-19 já deixava claro: não há como olhar para o futuro da humanidade sem ter em mente a saúde.
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Nesse contexto, o Brasil tem avançado para garantir o acesso universal. Desde o início do governo Lula, se firmou um compromisso real pela vida em que se promoveram mudanças radicais em relação à vacinação, ao acesso de produtos farmacêuticos, nos cuidados primários, na assistência especializada e na transição digital da saúde.
O principal desafio que temos agora é o acordo sobre a pandemia, uma decisão crítica para a sociedade humana. Reconstruiremos a ordem sanitária global após milhões de mortes ou esperaremos a próxima pandemia para chorar novamente?
É verdade que há progressos. Houve consenso na resolução sobre participação social. O exemplo do SUS ajudou a OMS na decisão sobre a sociedade civil no processo de tomada de decisão das pautas relacionadas à saúde em âmbito mundial.
O Brasil também teve papel de destaque nas discussões da Economia da Saúde para Todos. O fortalecimento do Complexo Econômico-Industrial da Saúde foi referenciado como modelo para o mundo na política industrial e de inovação.
E foi destaque a proposta brasileira no âmbito do G20 em se criar uma Aliança Global para Produção e Inovação como um caminho concreto de redução das assimetrias globais.
Na presidência do G20, o Brasil está priorizando a formação dessa aliança, fundamental para abordar as lacunas críticas na saúde global, particularmente nos países em desenvolvimento. O objetivo é garantir resultados de saúde sustentáveis e acesso equitativo às tecnologias de saúde. O foco em doenças e populações negligenciadas traz a mensagem de que cooperar é possível e urgente.
Com isso, apesar dos países-membros da OMS não terem chegado a um consenso sobre o Acordo de Pandemias nesta 77ª Assembleia Mundial da Saúde, muito se avançou em diversas frentes, nas quais a liderança brasileira na criação de consenso foi citada em diversos momentos.
O compromisso com a ciência, a tecnologia e a produção local, assim como com o multilateralismo, a saúde global e com a OMS mostram que o Brasil se esforça para combater as desigualdades, a pobreza e a fome, ao mesmo tempo que fortalece seu posicionamento ativo e altivo perante o mundo, contribuindo para um padrão global de desenvolvimento baseado nos princípios de justiça social, sustentabilidade, generosidade e respeito à soberania dos povos e nações.
* Nísia Trindade Lima é ministra da Saúde.
** Carlos Gadelha é secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação e do Complexo Econômico-Industrial da Saúde do Ministério da Saúde.
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