Lula reclamou do escasso público que foi ao evento do 1º de maio promovido por centrais sindicais em São Paulo. O presidente se esforçou para levantar a audiência. Levou nove ministros, enumerou feitos do governo, renovou promessas e pediu votos para Guilherme Boulos. Ao fim do dia, apesar das boas notícias no campo do emprego, o saldo político do evento foi negativo: crise com o MDB, uma possível infração eleitoral, ataques da oposição nas redes e a constatação de que o sindicalismo, berço do presidente, é um pálido retrato do passado.
O sempre comedido presidente do MDB, Baleia Rossi, deixou a diplomacia de lado para defender o seu partido e o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, candidato à reeleição. Nas redes, afirmou que Lula usou a estrutura do governo para fazer campanha eleitoral contra o partido, que tem três ministros. “Respeitar a lei eleitoral é respeitar a democracia. O chefe da Nação deveria dar o exemplo”, afirmou. O MDB pedirá abertura de inquérito ao Ministério Público para apurar gastos do evento. Nunes disse que irá à Justiça contra o presidente.
A festa do 1º de maio já deu dias de glória ao sindicalismo no país. Com dinheiro em caixa, as centrais promoviam megaeventos. A Força Sindical, em 2009, juntou mais de um milhão de pessoas, atraídas por shows e sorteios de carros. Foi num 1º de maio que o presidente anunciou a descoberta de petróleo no pré-sal, em 2008.
A realidade agora é outra. Os sindicatos perderam receita e filiados e não despertam o interesse de novas gerações. O projeto de regulamentação do trabalho por aplicativos é um exemplo. Motoristas e entregadores reagiram à ideia de ser representados por uma entidade. Não querem intermediários. A proposta empacou no Congresso. Diante do fracasso, o ministro Luiz Marinho tem preferido atacar as empresas e as novas tecnologias, ignorando mudanças geracionais e econômicas.
Os espaços vazios na arena do Corinthians indicam ao governo e aos dirigentes sindicais que o mundo do trabalho passa por intensa transformação, acelerada pela difusão da inteligência artificial. Entender as novas demandas do trabalhador do século 21 é questão de sobrevivência para sindicalistas e políticos do século passado.
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