É curiosa a relação entre o governo federal e o Congresso. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tenta a todo custo aumentar a arrecadação do país para que se possa investir mais sem ferir os pressupostos de equilíbrio fiscal que ele está determinado a cumprir, com o déficit zero. O Congresso reage duramente a esses esforços. Está determinado a manter a desoneração da folha de pagamento dos 17 principais setores da economia. Chia com o fim da isenção para os sacerdotes religiosos. Então, o governo sanciona o orçamento cortando R$ 5,6 bilhões de emendas parlamentares alegando que não há dinheiro. E o que faz o Congresso? Chia também. E sugere, com a história da reforma administrativa, que o governo trate, então de cortar pelo seu lado, no Executivo.
Parece um paradoxo. Esforços para aumentar a arrecadação são rechaçados. Esforços para diminuir gastos também. Mas é só penetrar um pouquinho mais fundo nesse terreno pantanoso para entender que não há paradoxo. Na verdade, o que há é uma disputa pela chave do cofre. Uma disputa que é por dinheiro. Mas especialmente é por poder.
Às voltas com mais de cem processos de impeachment, o ex-presidente Jair Bolsonaro foi cedendo ao Congresso mais e mais controle sobre a execução orçamentária, com a história do tal orçamento secreto. Poder dado não se devolve. O Congresso não irá ceder em manter esse poder, tenha ou não tenha orçamento secreto. Muda-se o jeito, muda-se o nome, mas a destinação vai continuar. Assim como quem dá as cartas sobre ela.
No total, o orçamento do governo para 2024 é de R$ 5,5 trilhões. Mas a maior parte dessa imensa quantidade de dinheiro destina-se ao pagamento de despesas correntes. Previdência, folha salarial, custeio da máquina, etc. O que há para investimentos é algo em torno de R$ 70 bilhões. Sendo R$ 54 bilhões para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). É aí, nos investimentos, que um governo de fato define a sua cara. Suas realizações. O que planeja fazer para o país.
E o que está previsto para emendas parlamentares ao orçamento? Antes, era quase o mesmo que para o PAC: R$ 53 bilhões. Na sanção, Lula reduziu para R$ 47 bilhões. Ainda é, de longe, a maior bolada de dinheiro posta sob o controle de deputados e senadores. Todo esse dinheiro é para obras e políticas públicas.
Fica clara, então, a disputa sobre quem quer dar as caras do investimento público. Sobre quem quer ter o poder de afirmar onde o dinheiro público foi destinado. Quem quer lucrar politicamente com essa destinação (sem contar com a possibilidade de lucrar pessoalmente, mas essa é uma outra, e longa, história). Ser o padrinho dela.
PublicidadePara o país, o problema é que os parlamentares jamais terão a visão nacional de país. Eles praticamente só conseguem enxergar o país a partir das suas paróquias. No caso, o cálculo político de deputados e senadores é naturalmente regional. Assim como o cálculo político de um presidente da República é nacional. Porque essas são as searas onde disputam os votos.
O último complicador dessa história é que o Congresso busca mais e mais ter poder sobre essa destinação sem ter na mesma medida a responsabilidade. Porque o regime de governo brasileiro é presidencialista.
Simplificando as palavras: o poder de destinação do Congresso, se der certo o bônus é do Congresso; se der errado, no regime presidencialista, o ônus é do governo.
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A vilania é dita como originária das despesas obrigatórias e os culpados são os funcionários do executivo e os aposentados civis. Se existe um limite de gastos e responsabilidade fiscal, então está na hora de todos os poderes e as forças armadas estarem sujeitas a esse regime. Por exemplo: As aposentadorias dos militares e os auxílios dos magistrados e procuradores deveriam seguir um regime geral. Esses só são dois exemplos da real vilania advinda das disparidades que produzem castas dentro da sociedade. Alguns são mais iguais dos que os outros sic.