Logo após o anúncio da vitória do candidato de extrema-direita nas eleições presidenciais da Argentina, Javier Milei, da coalizão La Libertad Avanza, líderes do governo brasileiro na Câmara e no Senado desejaram sucesso ao futuro presidente, mas manifestaram receio com posições autoritárias e a possibilidade de o país vizinho se isolar e se afastar do Brasil.
O presidente Lula foi o primeiro chefe de Estado a se pronunciar em suas redes. Sem citar o nome de Milei, parabenizou a Justiça eleitoral da Argentina, ressaltando que “a democracia é a voz do povo, e ela deve ser sempre respeitada”. O mandatário desejou sorte ao novo governo, garantindo que “o Brasil sempre estará à disposição para trabalhar junto com nossos irmãos argentinos”.
Alexandre Padilha, secretário de Relações Institucionais do Planalto, somou-se à fala do presidente. “Desejo sucesso e prosperidade para o país sob a nova liderança”, declarou. O líder do PT no Senado, Fabiano Contarato (ES), replicou o gesto, porém demonstrando sua preocupação com os caminhos do país vizinho. “Independentemente do resultado, Javier Milei deve governar para todos e manter o diálogo com todos os países. É o que se espera de um chefe de Estado”, publicou.
A preocupação de Contarato não acontece por acaso. Ao longo de sua campanha, Javier Milei anunciou que romperia relações com países não alinhados à sua pauta, incluindo o Brasil, que é o terceiro maior parceiro comercial da Argentina. O senador acrescentou o desejo de “que as autoridades eleitas considerem sempre o necessário e imperioso compromisso com os Direitos Humanos”.
O senador Randolfe Rodrigues (Sem partido-AP), líder do governo no Congresso Nacional, foi direto ao expressar o temor quanto às consequências da vitória eleitoral de Milei. “O resultado das eleições argentinas corroboram que o avanço da extrema-direita, potencializado pelas redes, é uma realidade em todo o mundo. (…) Para nós, no Brasil, fica a lição e o alerta. É preciso estar atento e forte!”, afirmou.
A deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente nacional do PT, também ressaltou o temor a respeito do impacto de Milei sobre os caminhos do Brasil. “Seguiremos solidários no desafio de construir a integração entre nossos países e o fortalecimento do Mercosul. Esperamos que tais esforços não sejam interrompidos pelo novo governo, porque representam a possibilidade de um futuro melhor e mais justo para toda a América do Sul”, disse em seu perfil no Twitter.
O PT deu apoio oficial direto à candidatura do peronista Sergio Massa, tendo inclusive enviado publicitários à Argentina para auxiliar em sua campanha. Gleisi destacou a importância de reconhecer a derrota, manifestando a confiança na força de oposição eleita ao parlamento. “Confiamos que o povo argentino e suas instituições saibam atravessar este novo e duríssimo teste para a sua democracia, representado pela eleição de Milei”.
O cientista político André Pereira César, da consultoria legislativa Hold, explica que a vitória de Milei ao Poder Executivo não foi acompanhada pela formação de maioria em nenhuma das Casas legislativas do país. Além disso, ao contrário do que comumente acontece no Brasil, não há uma ala pragmática expressiva no Congresso argentino, como o Centrão brasileiro. “Javier Milei vai governar com sérias dificuldades, havendo risco de sequer concluir o mandato”, apontou.
Juliano Medeiros, dirigente e ex-presidente do Psol, que foi à Argentina acompanhar a campanha de Sergio Massa, também defendeu que a oposição mantenha a postura firme durante o próximo governo. “Já vivemos tragédia semelhante à que viverão os argentinos com Milei. E sabemos como vencer: resistência, unidade e mobilização. Os irmãos e irmãs argentinas podem contar com os lutadores e lutadoras do Brasil. Derrotar a extrema direita é missão de todos nós”, relembrou.
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