Os ex-ministros das Relações Exteriores Aloysio Nunes e Celso Amorim defenderam, em entrevista ao Congresso em Foco, que o governo brasileiro mude sua atual política externa e ambiental para ter uma relação de respeito com o provável novo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.
Aloysio Nunes, que comandou o Itamaraty durante o governo de Michel Temer, afirmou que mudar os atuais ministros do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, não bastaria para que o governo brasileiro se adaptasse à gestão de Biden, que tem cobrado o compromisso do Brasil de preservar a Amazônia e ameaçado sanções ao país caso isso não aconteça.
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“A política externa é do presidente. Para sua formulação, nos seus aspectos mais polêmicos, concorrem o ministro [das Relações Exteriores, Ernesto Araújo], o deputado Eduardo Bolsonaro e o assessor Filipe Martins, mas quem manda é o presidente e essa política, com suas obsessões, é importante para o apoio da ala mais radical de sua base social”, afirmou.
Nunes afirmou que a atual política ambiental de Bolsonaro pode trazer riscos à economia brasileira.
“Uma resolução recente da Comissão de Orçamento da Câmara [dos EUA], de maioria democrata, dá bem a medida da zona de atrito com a administração Biden: disposição de barrar novos acordos econômicos com o Brasil caso seja mantida a postura do nosso governo na área ambiental. Não nos esqueçamos que Biden mencionou a Amazônia no debate crucial com Trump. Por aí virão pressões muito fortes.”
E completou: “Se houver mudança na política ambiental do governo Bolsonaro isso não seria um ‘prejuízo’ nem para o Brasil nem mesmo para o presidente que lucraria se atirasse essa pesada carga ao mar”.
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De acordo com o ex-ministro, mesmo com a afinidade com as ideias de Donald Trump, Bolsonaro pode estar disposto a ter uma boa relação com Joe Biden.
“O fato de Bolsonaro segurar a alça do caixão de Trump, de quem ele se considera amigo, não impedirá relações positivas com o novo morador da Casa Branca. O Brasil é um país relevante, nossa diplomacia é muito competente e saberá identificar pontos de convergência, e o novo presidente [dos EUA] terá dores de cabeça suficientes na agenda internacional e na agenda interna e não creio que vá buscar mais sarna para se coçar.”
O ex-chanceler Celso Amorim, que foi ministro das Relações Exteriores durante os governos de Itamar Franco e Lula, defende que haja uma política exterior de respeito mútuo entre Bolsonaro e Biden.
“Eu esperaria que essa atitude de submissão possa ser substituída, não tem que buscar uma relação igual porque ela não era boa, era ruim para o Brasil, não era uma relação de um país soberano, o que tem que procurar é uma relação mutuamente respeitosa”, declarou.
Amorim sugeriu mudanças na política ambiental brasileira e não vê problemas do país seguir as orientações de Biden, desde que não sejam violadas a decisões soberanas brasileiras.
“Nem de submissão, nem de agressão. Por exemplo na questão do clima, se os Estados Unidos quiserem cooperar com o Brasil na mudança do clima, na Amazônia, acho que é perfeitamente razoável desde que obedeça, siga os projetos brasileiros decididos soberanamente pelo Brasil”.
O ex-ministro das Relações Exteriores mencionou o período de 2003 a 2008, quando Lula era presidente do Brasil e o republicano George W. Bush presidia os Estados Unidos. Amorim afirmou que havia uma relação respeitosa entre os dois países mesmo com as diferenças ideológicas.
“Tem que encontrar uma maneira de ter uma relação de trabalho que seja uma relação mutuamente proveitosa sem submissões, que aliás foi o que aconteceu no governo Lula e o governo Bush. Qual a afinidade ideológica que havia entre eles? Nenhuma, nós condenamos a invasão do Iraque, não mudamos nossas votações, mas cooperamos. Tanto em assuntos bilaterais quanto em outros da região.”
Na mesma linha de Aloysio Nunes, Amorim disse que o papel dos atuais ministros das Relações Exteriores e do Meio Ambiente é de obedecer o projeto de Jair Bolsonaro. De acordo com ele, uma mudança nos ministérios poderia sinalizar uma alteração de rumo nas áreas, mas essa alteração teria que partir de Bolsonaro.
“Eles seguem orientações. Não tenho nenhuma razão para defender nenhum dos dois, de jeito nenhum, mas acho que não pode situar o problema neles. Pode haver uma mudança neles para dar um sinal, mas o problema é que eles apenas aderiram oportunisticamente a uma agenda, mas a agenda vem de cima, é óbvio, ou de fora, dependendo de como você quiser ver, fora do Brasil até, da extrema direita norte-americana”, declarou.
“Isso a gente terá que mudar e como a extrema direita norte-americana tem uma relação forte quanto ao governo brasileiro, com o presidente, também com o ministro, mas não é só com o ministro, ministro é um instrumento. Quando você muda a política às vezes tem que mudar o ministro, agora é preciso ter desejo de mudar a política, isso não depende só do ministro”, completou.
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