Carlos Eduardo Bellini Borenstein*
A disputa pela Mesa diretora da Câmara dos Deputados pode estar revelando alguns esboços para a sucessão presidencial de 2022 no que diz respeito à composição das alianças partidárias.
O deputado federal Arthur Lira (PP-AL), que conta com a simpatia do Palácio do Planalto, costurou apoios que unem PP, PL, PSD, Republicanos, SD, PSC e PTB, entre outros partidos. Pode ser um indicador de uma possível aliança que dê suporte ao presidente Jair Bolsonaro na campanha de 2022 à reeleição.
O bloco anunciado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que une DEM, MDB, PSDB e Cidadania, entre outras legendas, também pode estar mostrando movimentos visando a eleição presidencial de 2022. Esta composição pode ser um laboratório de um projeto da centro-direita liberal visando a sucessão de Bolsonaro.
O campo de esquerda, por sua vez, está bastante fragmentado. PDT e PSB tem uma certa afinidade. Assim como os históricos aliados PT e PCdoB. E o Psol, após o bom desempenho nas eleições municipais, desponta como novidade entre as forças progressistas.
Embora muitas variáveis ainda estejam abertas quando olhamos para 2022, a disputa entre os grupos de Rodrigo Maia e Arthur Lira pode estar dando sinais de possíveis composições para a próxima eleição presidencial.
O chamado Centrão, que costuma ser atraído por quem é governo, pende hoje para Bolsonaro. A centro-direita liberal trabalha para viabilizar uma opção. E as esquerdas sonham em construir a frente progressista, que pode acabar inviabilizada por conta do desejo dos diferentes partidos em liderar essa frente, principalmente depois do PT ter um resultado adverso nas eleições municipais de novembro.
No que diz respeito à eleição para a Mesa diretora da Câmara, a eventual ida de um candidato de esquerda ao segundo tuno é bastante improvável. A dúvida é saber se a esquerda deixará de lado os interesses de curto prazo para pensar numa aliança tática visando a construção de uma frente ampla para fazer frente ao bolsonarismo.
Conforme podemos observar, o cenário da disputa para o comando da Câmara tem relação com 2022. Bolsonaro, aliado ao Centrão, tem uma frente de apoios minimamente estruturada.
A centro-direita liberal tem aliança – DEM, PSDB e MDB são os protagonistas – mas não têm candidato natural. E as esquerdas travam uma disputa interna pelo comando do campo progressista que poderá deixar de ser liderado pelo PT, apesar da importância do partido para a frente de esquerda em função de sua consolidada estrutura nacional em todos os municípios do país.
Independentemente do resultado na eleição para presidência da Câmara, a chamada direita tradicional sairá mais uma vez fortalecida. Aliás, esse movimento já ocorreu nas eleições municipais, quando Republicanos, DEM, PP, PSD e PL foram os partidos que mais cresceram.
Ao contrário da leitura corrente, essas siglas não são legendas de centro. O centro é uma auto-localização pretendida por elas. Republicanos, DEM, PP, PSD e PL são partidos de direita. Não a direita “antipolítica” que venceu 2018, mas sim uma direita clássica.
Por falar em eleições municipais, elas anteciparam algumas tendências, mesmo que não definitivas, sobre 2022. O mesmo poderá acontecer na eleição na Câmara em fevereiro. Pelo que se desenha, as forças de direita devem acumular força, o que levará as esquerdas a repensarem suas estratégias, pois a fragmentação do campo tem se mostrado ineficaz.
*Carlos Eduardo Bellini Borenstein, cientista Político formado pela ULBRA-RS. Possui MBA em Marketing Político, Comunicação e Planejamento Estratégico de Campanhas Eleitorais pela Universidade Cândido Mendes.
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