O principal desafio do novo presidente será pacificar o país. Para tanto, terá que ter muito equilíbrio e disposição para o diálogo com o mercado, com o Parlamento e com a sociedade. Com o mercado, precisa dar demonstrações de que cumprirá seus compromissos com a livre iniciativa, reduzindo a burocracia e a interferência do Estado nos lucros e na gestão privado, além de não aumentar tributos. A privatização de estatais e o ajuste fiscal são considerados cruciais pelo mercado.
Com o Parlamento, além de restabelecer as relações com os partidos, que foram hostilizados pela campanha do candidato vencedor, o novo governo precisa calibrar suas propostas, sob pena de rejeição. O esforço de coordenação política será determinante para formar e manter uma coalizão de apoio à agenda governamental.
A crise fiscal, que requer ajustes duros, será um teste da capacidade governativa do presidente eleito. Se não negociar o conteúdo das reformas, como a da Previdência, corre um sério risco de derrota. Nesse ponto, a comunicação governamental será determinante.
Na sociedade – tanto pela expectativa da população por serviços públicos de qualidade, quanto pelo excesso de demanda e escassez de recursos – o desafio será maior, inclusive porque a pauta sobre costumes e comportamentos divide a sociedade.
Quanto à prestação de serviços e manutenção de programas sociais, a expectativa de quem votou no novo governo é desproporcional à sua real capacidade – política e financeira – de atender minimamente essas demandas, seja pela inexperiência da equipe, seja pela vigência da Emenda Constitucional 95, que congela os gastos públicos em termos reais, e que o novo governo já disse que manterá e irá aprofundar o corte de despesas públicas.
Em relação aos costumes e valores, como vários dos temas defendidos pelo candidato vencedor durante a campanha, será uma agenda que encontrará fortes resistências no Parlamento e na sociedade, e pode contaminar a agenda econômicas, administrativa e fiscal do governo. São temas que, tal como a reeleição no governo FHC, poderão tumultuar o ambiente para votação de reformas indispensáveis ao desenvolvimento e ao equilíbrio das contas públicas.
E o novo governo, pelo menos durante a campanha eleitoral, subestimou a complexidade do processo decisório. Passou a impressão de que para resolver os problemas basta ter vontade política. Não considerou que o governo, para tomar uma decisão, precisa levar em consideração o que pensam os outros poderes (Legislativo e Judiciário), o que pensam os outros níveis de governo (estados e municípios), o que pensam classes empresariais e trabalhadora, o que pensam os organismos internacionais, o que pensa a imprensa, a academia ou a intelectualidade, a igreja, entre centenas de outros atores com poder de veto ou de pressão nas institucionais e na sociedade.
O risco de frustração, frente a tamanha expectativa da população, é enorme. Nos primeiros seis meses de governo será possível saber como reagirá o presidente eleito a eventuais derrotas no Congresso e/ou manifestações populares contrárias a políticas de ajuste.Se adotará um estilo autoritário, como muitos imaginam, ou se irá sublimar e agir dentro da institucionalidade.
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Discordo da análise que se fez do futuro governo com o parlamento. Bolsonaro, ele mesmo um veterano parlamentar que sabe bem como funciona o Congresso, não o menosprezou, apenas se nega a fazer negociação com loteamento de cargos e corrupção como era costumeiro na época petista.
A postura do PT é que era autoritária e diminuía o parlamento, algo do tipo: não me interessa o que vocês pensam, vou impor minha pauta na base do suborno.