O Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) aponta que os depoimentos de quatro ex-funcionários do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos) sobre a prática de rachadinha em seu gabinete foram combinados na véspera das oitivas, em novembro de 2019. A informação é do jornal O Globo.
O militar reformado Edir Barbosa Góes, a esposa dele, Neula Carvalho Góes, e os dois filhos (Rafael e Rodrigo Góes) foram chamados para explicar quais atividades exerceram durante quase 20 anos no gabinete do filho “02”do presidente da República Jair Bolsonaro. Os promotores identificaram contradições nos depoimentos, que estavam marcados para o dia 31 de outubro daquele ano e foram remarcados para a semana seguinte depois que a defesa da família solicitou o adiamento, afirmando precisar de mais tempo para analisar os autos da investigação.
No dia 30, a família compareceu ao gabinete na Câmara Municipal, onde permaneceram por cerca de 3 horas. Na época, somente Edir Barbosa constava como assessor parlamentar. Segundo Rafael, o pai dele entrou no gabinete, onde foi orientado por Jorge Fernandes, chefe do gabinete.
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Os procuradores afirmaram que a narrativa “carece de verossimilhança, na medida em que não haveria necessidade de comparecimento pessoal de quatro integrantes da família Góes à Câmara Municipal, nem de sua permanência no local por mais de três horas, apenas para receber a orientação de comparecimento ao MPRJ”.
Outro ponto que chamou a atenção dos investigadores foi o fato de Rodrigo de Carvalho Góes trabalhar simultaneamente em duas farmácias enquanto era funcionário de Carlos Bolsonaro. O MP pontuou que não haveria “disponibilidade de horário” para Rodrigo desempenhar as três funções, o que foi apontando como um indício de provável funcionário fantasma.
As ex-funcionárias Leila Carvalho Lino, cunhada de Edir, e Nadir Barbosa Góes, irmã de Edir, também são investigadas.
No depoimento que prestou ao MP, Leila afirmou que trabalhava com a distribuição de panfletos, ainda que tenha dito à revista Veja em 2019 que raramente ia à Câmara e não saberia detalhar suas funções.
Já Nadir, moradora de Magé, na Baixada Fluminense, disse aos promotores que fazia parte de um núcleo externo do gabinete, ainda que morando a quase 100 quilômetro de distância. Nadir ficou cerca de uma década no cargo, até completar 70 anos, e pegaria semanalmente ônibus, van e trem, segundo o depoimento de Neula Carvalho Góes, para distribuir panfletos, em um trajeto que podia chegar a três horas de duração. De acordo com os depoimentos, Nadir dormia em um colchonete na sala de estar da casa de Edir, que tinha apenas dois quartos — um ocupado pelo casal, e outro por Rafael e Rodrigo.
“Claramente, não parece verossímil que uma senhora sexagenária fizesse semanalmente um percurso superior a três horas até Santa Cruz, para pernoitar durante uma semana em um colchonete, a fim de acompanhar seu irmão, cunhada e seus sobrinhos na distribuição de panfletos”, afirma o MP.
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