A exibição da gravação da reunião ministerial ocorrida em 22 de abril para pessoas envolvidas na investigação das acusações de Sergio Moro contra Jair Bolsonaro foi o principal assunto político desta terça-feira. Após a sessão de mais de duas horas, as primeiras impressões de quem assistiu ao vídeo foram de que as imagens podem ser devastadoras para o presidente Jair Bolsonaro.
Fontes que tiveram acesso à gravação afirmam que, na reunião, Bolsonaro vinculou a troca do comando na PF do Rio de Janeiro à proteção a seus filhos. Ao Estadão, investigadores disseram que o conteúdo complica “gravemente” a situação do presidente.
Relatos colhidos por Andréia Sadi, do G1, dão conta de que o presidente teria dito que trocaria o comando da polícias antes de alguém “foder” com seus filhos.
O acesso ao vídeo da reunião ministerial do dia 22/4 confirma o conteúdo do meu depoimento em relação à interferência na Polícia Federal,motivo pelo qual deixei o governo.Defendo,respeitosamente, a divulgação do vídeo,de preferência na íntegra,para que os fatos sejam confirmados.
— Sergio Moro (@SF_Moro) May 13, 2020
O escritório do advogado do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro pediu que o vídeo da reunião ministerial ocorrida em 22 de abril seja divulgado. Segundo nota assinada pelo advogado Rodrigo Sánchez Rios, o vídeo confirma integralmente as declarações de Moro na entrevista coletiva de 24 de abril e no depoimento prestado à Polícia Federal em 2 de maio.
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Moro tinha afirmado que o presidente Jair Bolsonaro teria tentado interferir politicamente na Polícia Federal, pedindo, inclusive, troca na Superintendência do órgão no Rio de Janeiro. A suspeita é de que Bolsonaro teria feito esta cobrança a fim de proteger sua família de investigações em curso. Segundo o ex-ministro, a acusação poderia ser corroborada pelo vídeo do encontro ministerial ocorrido na semana em que ele deixou o governo.
“Assistimos hoje ao vídeo da reunião interministerial ocorrida em 22 de abril. O material confirma integralmente as declarações do ex-ministro Sérgio Moro na entrevista coletiva de 24 de abril e no depoimento prestado à PF em 2 de maio. É de extrema relevância e interesse público que a íntegra desse vídeo venha à tona. Ela não possui menção a nenhum tema sensível à segurança nacional”, diz a nota da defesa de Moro.
As primeiras reações ao vídeo geraram uma pressão pela divulgação do material também no Congresso Nacional. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) pediu formalmente o fim do sigilo da gravação.
O deputado Marcelo Freixo (Psol-RJ) também foi ao Supremo com o mesmo objetivo.
É papel do Poder Legislativo fiscalizar atos do Executivo. Por isso acionei o STF para que o Congresso receba imediatamente cópia da gravação da reunião ministerial em que Bolsonaro admite interferência na PF para proteger seus familiares e amigos.
#DivulgaTudoCelsodeMello— Marcelo Freixo (@MarceloFreixo) May 12, 2020
O caso
O vídeo foi exibido nesta terça-feira (12) na sede da PF em Brasília, ocasião em que Moro, integrantes do governo federal e da Procuradoria-Geral da República (PGR) estiveram presentes.
Caberá ao relator do inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Celso de Mello, decidir se o sigilo do vídeo será quebrado. Por enquanto, ele apenas permitiu que as partes envolvidas tivessem acesso ao material, sem possibilidade de cópia ou reprodução.
A Advocacia-Geral da União (AGU) tentou recorrer ao Supremo para que o governo não precisasse divulgar o vídeo, sob a justificativa de que ele conteria temas sensíveis à segurança nacional. O presidente Bolsonaro resiste em divulgar o material. Há rumores de que Bolsonaro e ministros tenham feito críticas ao próprio Supremo, ao Congresso e à China durante a mesma reunião.
Ministros palacianos são ouvidos esta tarde
Esta tarde, os ministros militares que despacham do Palácio do Planalto depõem no âmbito do inquérito instaurado no STF. São ouvidos por investigadores da PF os chefes da Casa Civil, Walter Braga Netto, do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, e da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos.
Os três ministros foram listados por Moro como testemunhas de ameaças proferidas pelo presidente contra ele, caso não concordasse com a troca da direção-geral da PF. Segundo Moro, os ministros indicados participaram das reuniões em que o presidente o pressionou a trocar o comando do órgão.
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