Conta a história da teledramaturgia brasileira que a novela mais longa exibida no país foi Redenção. Produção da TV Excelsior com Francisco Cuoco como protagonista, a novela teve quase 600 capítulos e ficou no ar durante dois anos. Na época, foi um sucesso.
Há outras histórias de novelas longas, porém, que não tiveram assim final tão feliz. É o caso de Anastácia, a Mulher sem Destino, da TV Globo. Talvez o “sem destino” do título já fosse um mau agouro. A novela foi escrita pelo ator Emiliano Queiroz, o eterno Dirceu Borboleta, de O Bem Amado. Maravilhoso ator, teledramaturgo, talvez nem tanto assim. A novela era tão sem pé nem cabeça que parecia a atual novela das nove. A trama se perdeu de tal forma que a Globo na época pediu a Janete Clair para consertar o rumo, e a única alternativa que ela teve foi inventar um terremoto na cidade (a novela era na Rússia czarista!) que matou nada menos que cem personagens. Enfim, na verdade Janete Clair matou a novela antiga e começou uma nova.
Novelas, portanto, estão no cerne da cultura brasileira. Entraram para o nosso cotidiano. São produtos de exportação. Tornam-se imortais, como a eterna O Direito de Nascer do Albertinho Limonta e da Mamãe Dolores. Natural, talvez, então, que elas saiam das nossas telinhas e invadam nosso cotidiano em outras áreas. Não raro, a política adora uma novela. Como essa agora da reforma ministerial que Lula não entrega.
Há nessa interminável trama alguns elementos que bem poderiam fazer parte do enredo das novelas da TV. Caso alguém aceite que a protagonista seja uma mocinha de barba branca, há um vilão que a todo custo quer se casar com ela e, com esse propósito, de vez em quando imprime terríveis maldades. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), não tem esse lado meio de Leôncio, o malvado vilão de A Escrava Isaura? A mocinha, então, resiste, mas ninguém tem dúvida: o casamento é inevitável. E, no caso, o problema da mocinha é que não parece haver um mocinho para salvá-la. Ela mesma é que vai ter que se virar.
Se lá atrás Janete Clair resolveu uma novela matando todo o elenco em um terremoto, no caso atual Lula faz um movimento contrário na sua tentativa de solução. Cria mais um personagem, cria mais um ministério. Tenta resolver parte do problema com o Ministério da Pequena e Média Empresa. No fundo, um bom papel coadjuvante para Márcio França. Que passaria a trabalhar no núcleo Geraldo Alckmin da trama. O público já está acostumado a essa dobradinha. Marcio França foi vice-governador de São Paulo, com Alckmin. Sucedeu-o no governo. É o artífice da aproximação entre Alckmin e Lula. Seu ministério será um braço da pasta de Indústria e Comércio, que Alckmin comanda junto com a vice-presidência. França vai para o ministério novo, e Lula coloca Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) em Portos e Aeroportos.
Mas Lula talvez não tenha como criar um novo papel para abrigar o líder do PP na Câmara, André Fufuca (MA). No caso, terá que matar ou deslocar um outro personagem. Enquanto pensa nisso, Lula engorda o núcleo Caixa Econômica, entregando para o PP doze diretorias. Talvez com isso Leôncio/Lira adie a ordem para que seu capataz promova novas chibatadas nas costas da mocinha.
PublicidadeEnquanto a novela se desenrola, a mocinha já conseguiu fugir algumas vezes. Foi primeiro ao Pará, para a Cúpula da Amazônia. Depois, ao Paraguai. E à África. Planeja nova fuga para o Nordeste e, depois do 7 de setembro, para a Índia, Cuba e Nova Iorque para o discurso de abertura da Assembleia das Nações Unidas.
Leôncio/Lira não está disposto a deixar a mocinha escapar novamente antes de celebrar seu cobiçado casamento. Conseguirá ela fugir novamente? Conseguirá ela adiar outra vez o final da novela? Aguardem as eletrizantes (?) cenas do próximo capítulo!
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