O presidente da Suprema Corte agiu certo como “pacificador”? Existia correlação de forças para denunciar as tentativas de intimidação e a escalada golpista?
Qual objetivo moveu a revelação tão precoce?
A recente entrevista de Toffoli à Veja impressionou pela gravidade dos fatos relatados. A revista narra uma série de bastidores, não deixando claro que sua fonte é o presidente do STF.
Ora, mas se entrevistava ele, de onde vieram tantas informações?
A pouca atenção dada pela grande mídia pode sinalizar desejo de que o dito fique no passado, cumplicidade impublicável ou desconfiança da veracidade do narrador.
Só uma coisa não cabe: a indiferença diante dos absurdos trazidos a público.
Os fatos são graves. Quando surgiu a possibilidade de se apurar o escândalo das fake news nas eleições, logo após o pleito, uma autoridade do Exército ameaçou claramente a democracia.
Dias Toffoli teria dito para alguns de seus pares que um general, contrariado com a apuração do escândalo, possuía 300 mil homens armados, “quase todos votando em Bolsonaro”.
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A matéria revelou também que entre abril e maio deste ano estivemos à beira de um grave conflito. Políticos, empresários, generais da reserva e militares de patentes intermediárias se enfrentaram ferozmente nos bastidores.
Alguns, insatisfeitos com Bolsonaro, queriam novas eleições, enquanto outros conspiravam pelo impeachment. Generais da reserva flertavam com uma intervenção direta para afastar o presidente. E militares de patentes intermediárias ameaçavam ir às últimas consequências para defendê-lo.
O presidente do STF se apresenta na entrevista como o “pacificador”, aquele que impediu que o país caísse num buraco institucional sem precedentes.
As revelações se encaixam nos movimentos do Planalto. As demissões de Santos Cruz e de outros generais parecem fazer eco com as mensagens de Carlos Bolsonaro, que dizia existir uma conspiração golpista comandada pelos generais da reserva – há suspeitas de que o vereador possui um software israelense que invade telefones sem deixar rastros.
A nomeação do general da ativa Ramos, ex-comandante militar do Sudeste, para a Secretaria de Governo, combina com a necessidade de ter alguém “com tropa” ao lado do Capitão.
Na mesma época destes movimentos e do pacto público entre os três poderes, Mourão se recolheu. Coincidência?
Na guerra, quando as tropas entram em campo, o recuo só acontece quando ninguém tem certeza do resultado final. Bolsonaro teria caído se houvesse condições para isso. E teria esmagado a conspiração golpista – ou dado um autogolpe – se tivesse força.
O episódio, gravíssimo, é mais um sinal do desprezo de nossas elites pela democracia, um “estorvo”, algo que pode ser removido com um golpe vagabundo à luz dos seus interesses.
O relato faz ruir o sonho da estabilidade democrática declamada após o período de sombras.
Novo Golpe. Autogolpe. Contragolpe. Brasil, o país dos golpes?
> A visão de Jorge Maranhão sobre o assunto
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