Débora Álvares
O presidente da República, Jair Bolsonaro, deu aval a aliados para iniciar conversas em torno das mudanças no texto da proposta de emenda à Constituição (PEC) da reforma da Previdência. Parte da bancada do PSL, partido de Bolsonaro, recebeu orientações da equipe econômica, nesta quinta (21), sobre o que já pode ser negociado. Segundo interlocutores do presidente, a ideia é operar mudanças sem “desvirtuar” o texto original (íntegra) a ponto de ameaçar a economia pretendida pelo governo (nos cálculos mais otimistas, R$ 1 trilhão em dez anos).
Uma das mais próximas aliadas do presidente, a deputada Joice Hasselmann (PSL-PR) esteve com ele na quarta (20), horas após o próprio presidente ter ido ao Congresso entregar ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o texto da PEC. O gesto, simbólico, demonstra a relevância do assunto para o governo e a disposição de Bolsonaro em negociar.
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“Lógico que querem mexer na reforma [da Previdência]. Colocar a impressão digital do Congresso, mas não pode desvirtuar o texto, senão não adianta”, disse o presidente na conversa do fim da tarde de quarta, segundo Joice Hasselmann. Na mesma reunião, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, começou a discutir a distribuição de alguns cargos em estados e comissionados a aliados em troca de apoio à reforma.
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Itens chamados pelo próprio governo de “gorduras” – reconhecidamente polêmicos, mas colocados na PEC para facilitar negociações – foram rapidamente identificados e alvo de imediatas reações por parte de parlamentares da base e da oposição, como também de governadores que se reuniram com o ministro da Economia, Paulo Guedes na quarta-feira (20), quando a proposta foi divulgada.
Na próxima semana, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara deve ser instalada. Essa será a primeira parada da PEC da Previdência (veja o roteiro). A expectativa é que, por lá, ela demore pelo menos três semanas para ser analisada. Em seguida, ela seguirá para uma comissão especial e poderá ser levada ao plenário da Casa após 10 sessões deliberativas.
Em um cenário extremamente positivo, governistas calculam que a PEC estaria pronta para ser votada no plenário da Câmara após o feriado da Páscoa, 21 de abril. Até lá, aliados de Bolsonaro farão um esforço para reunir apoio de 308 deputados nas duas instâncias de votação.
Em todo esse processo, a PEC pode sofrer mudanças por meio de emendas parlamentares. Veja cinco pontos que já são alvo de críticas que devem ser alterados na proposta:
Abono salarial
A PEC limita o pagamento do abono salarial apenas a quem recebe até um salário mínimo, R$ 998, e dificulta as regras de acesso a esse benefício atualmente pago também a quem recebe dois salários mínimos, R$ 1.996. Determina ainda que só terá direito ao benefício quem trabalhe com carteira assinada há pelo menos esse período.
O abono é uma espécie de 13º salário a quem trabalhou com carteira assinada
Benefício de Prestação Continuada
O BPC garante um salário mínimo a pessoas com deficiência e idosos em situação de pobreza. Atualmente, pessoas a partir de 65 anos recebem um salário mínimo.
A proposta na PEC é que idosos aguardem até 70 anos para receber um salário mínimo. Propõe o pagamento de um valor R$ 400 a partir 60 anos. Caso não tenha o tempo mínimo de contribuição para se aposentar pelo regime geral ao atingir 65 anos, continuará recebendo R$ 400 até completar 70 anos. Para quem tem deficiência, a regra não se alterou.
Aposentadoria rural
O texto passa a exigir dos trabalhadores rurais uma contribuição mínima de R$ 600 por ano, além de ter elevado de 15 para 20 anos o tempo de contribuição. Também elevou a idade mínima de aposentadoria das mulheres trabalhadoras de 55 para 60 anos, igualando a dos homens.
Pensão por morte
Uma nova fórmula de cálculo do benefício foi proposta pela PEC da reforma da Previdência. Ao invés de dos atuais 100% da contribuição, o benefício passará a ser calculado assim: após 20 anos de contribuição previdenciária, os dependentes receberão 60% acrescidos de 2% por cada ano a mais de contribuição.
Não mudam as regras de pensões por morte por acidente de trabalho, doenças profissionais e doenças de trabalho, que continuam a ser calculadas com base em 100% do benefício.
Tempo de transição
As mudanças previstas na reforma têm um tempo de transição previsto de 12 anos, no geral, conforme explicado pela equipe econômica do governo na coletiva à imprensa na quarta-feira (20) após a divulgação da PEC. Esse tempo tem sido considerado insuficiente por analistas e alguns parlamentares, que comparam a sugestão com o texto do ex-presidente Michel Temer, que previa uma transição de 20 anos e mesmo assim foi alvo de polêmicas no parlamento.
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O primeiro pré-requisito para a reforma da previdência deveria ser cobrança de todo estoque de dívida dos que devem à previdência. É absurdo pretender tirar mais dos que dependem da Previdência sem antes cobrar dos que devem. Há muitos empresários que prosperam em seu negócio mais que outros porque deixam de pagar encargos sociais. Dentre esses está, segundo publicado na mídia, o dono das lojas Havan, agora presente diariamente em horários nobres da TV.
Difícil. O Congresso é um grande prostíbulo.