Sem ter citado uma vez sequer o nome do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, o presidente Jair Bolsonaro visitará Manaus neste sábado (18) – não para tomar conhecimento das investigações em curso sobre o assassinato dos dois no Vale do Javari, no Amazonas, mas para se encontrar com evangélicos e participar de uma motociata. Bolsonaro tem sido criticado, nacional e internacionalmente, pela falta de empatia diante do crime brutal e por ter responsabilizado as próprias vítimas pelo destino que tiveram e pelo desmantelamento que seu governo promoveu na área socioambiental.
Pela manhã, o presidente deve participar do Congresso Internacional da Visão Celular do Modelo dos 12, promovido pelo Ministério Internacional da Restauração (MIR), igreja neopentecostal com sede em Manaus. O evento se define como um dos “congressos mais importantes para apóstolos, bispos, pastores, líderes e discípulos linha de frente” e terá a presença do pastor Silas Malafaia, um dos principais aliados de Bolsonaro entre a comunidade evangélica.
Bolsonaro embarcou nesta sexta para Natal, onde participará de cerimônia alusiva ao Programa Internet Brasil e da entrega de títulos fundiários, além de participar de uma motociata. A viagem é realizada um dia após o ex-presidente Lula visitar a capital potiguar.
Malafaia ironizou o questionamento da colunista Malu Gaspar, de O Globo, sobre o “timing” do evento na capital do estado onde Bruno e Dom foram assassinados e tiveram seus corpos esquartejados e incendiados. “Morre gente todo dia nesse país, e gente simples, humilde, e morre também de maneira estúpida e criminosa. Então vamos parar tudo e não vamos fazer mais nada? Isso aí é a turma que gosta de inventar moda, porque sabe que o cara vai ter um movimento gigante aqui em Manaus. O resto é blablablá, firula, só isso, nada mais, nada menos”, minimizou o pastor, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, que já está em Manaus. A presença do presidente é destacada em material de divulgação do evento.
Às 14h, Bolsonaro é aguardado para uma motociata que sairá do clube Bola da Ponta Negra e terminará na Arena da Amazônia, estádio que foi palco da Copa de 2014. O evento ocorrerá menos de 72 horas depois de a Polícia Federal ter anunciado que encontrou os restos mortais do ambientalista e do repórter do The Guardian.
O presidente evitou, até agora, citar o nome de Dom e Bruno. Nem mesmo na prestação de condolências aos familiares das vítimas ele os nomeou. “Nossos sentimentos aos familiares e que Deus conforte o coração de todos!”, limitou-se a escrever no Twitter nessa quinta-feira, dia em que fez comentário sobre o filme Top Gun Maverick. Antes da localização dos corpos de Dom e Bruno, Bolsonaro disse que os dois “excursionaram” em uma “aventura” e que “o inglês” era “malvisto” na região pelas denúncias que fazia sobre exploração mineral em terras indígenas na região. Afirmou, ainda, que eles tinham de ter “redobrado” o cuidado porque no Vale do Javari “tem de tudo”.
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