Mesmo com a repercussão negativa de várias de suas declarações nos últimos dias, o presidente Jair Bolsonaro afirma que não vai mudar seu jeito de agir. Em entrevista ao jornal O Globo, Bolsonaro disse que continuará falando à parcela mais conservadora da população, a primeira a aderir à sua candidatura, e que não está preocupado com a eventual reeleição, em 2022.
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“Sou assim mesmo. Não tem estratégia. Se eu estivesse preocupado com 2022, não dava essas declarações”, explicou o presidente ao ser questionado se as falas recentes são planejadas ou apenas resultado de impulsividade. Na última semana, Bolsonaro chamou nordestinos de “paraíbas” e incomodou até aliados com declarações relacionadas à ditadura militar.
Na entrevista, Bolsonaro acusou a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), presidida por Felipe Santa Cruz, de impedir que as investigações chegassem até os mandantes da tentativa de assassinato que sofreu em setembro em Juiz de Fora (MG) durante a campanha eleitoral. Segundo ele, a quebra de sigilo telefônico de um advogado de Adélio Bispo de Oliveira daria um novo rumo à história. A medida foi barrada por um recurso da OAB.
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O presidente disse que não recorreu da decisão da Justiça, que classificou seu agressor como inimputável porque, ao ser enquadrado como portador de Transtorno Delirante Persistente, Adélio estará agora em “prisão perpétua”. “Porque eu ganharia (o recurso). Ele responderia por tentativa de homicídio. No máximo em dois anos estaria na rua. Agora, pela insanidade mental, é prisão perpétua.”
A irritação com a OAB levou Bolsonaro a atacar esta semana Felipe Santa Cruz e seu pai, Fernando Santa Cruz, que, segundo comprovou a Comissão Nacional da Verdade, foi morto por agentes do Estado durante a ditadura militar. O presidente ironizou as conclusões da comissão e disse que o então estudante de Direito de 24 anos foi assassinado por colegas da Ação Popular, grupo militante de esquerda que combatia a ditadura. A OAB, partidos políticos e juristas recorreram ao Supremo Tribunal Federal (STF) reivindicando que o presidente diga, então, o que sabe das circunstâncias do assassinato de Fernando.
O presidente também minimizou o massacre no presídio de Altamira, no Pará, onde 58 detentos morreram na maior carnificina em cadeias registrada no país desde o massacre do Carandiru, em 1992. “Já disse pela manhã na porta do Alvorada. Você estava lá? Pergunte às vítimas dos facínoras. Pergunte para elas o que acham, não vou criar polêmica.”
Ainda na entrevista ao Globo, Bolsonaro disse ter encomendado estudo ao ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, para criar “pequenas Serras Peladas” no Brasil, que poderiam ser exploradas tanto por grupos estrangeiros como por povos indígenas. “Mas a fiscalização seria pesada. E índio também poderia explorar”, afirmou.
Ele comemorou, ainda, o elogio feito ontem pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, à indicação de seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), ao posto de embaixador do Brasil nos Estados Unidos. “A decisão é do Senado. Acho que a declaração do Trump hoje (terça-feira) ajuda”, disse.
O presidente informou que conversa com grupos estrangeiros para transformar a Baía de Angra dos Reis, onde tem uma casa e chegou a ser multado no passado por pesca ilegal, no que ele vem chamando de “Cancún brasileira”. Segundo ele, empresários estão dispostos a investir “bilhões”, que gerariam empregos na região. “Não vou dizer (quais são esses grupos). São conglomerados de países”, declarou.
Bolsonaro recebeu a reportagem do Globo em seu gabinete nessa terça após a cerimônia em que lançou um amplo processo de flexibilização de segurança e saúde do Trabalho. Depois de uma curta entrevista coletiva com jornalistas, o presidente subia a rampa que liga o Salão Nobre ao seu gabinete quando foi abordado pela reportagem, que pediu uma conversa com ele. Imediatamente, sem ouvir seus auxiliares da área de comunicação, pediu que os seguranças liberassem a repórter Jussara Soares para acompanhá-lo. A entrevista durou 15 minutos e não pôde ser gravada, informa a jornalista.
Bolsonaro tem agenda hoje em Anápolis (GO), a cerca de 150 km de Brasília. Desde que assumiu a Presidência, essa é a quarta vez que ele vai a Goiás, estado governado por seu aliado Ronaldo Caiado (DEM).
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Ele é incapaz de aprender com os próprios erros, não sabe ser pragmático, não tem noção do mundo que o rodeia.